O Bandido - Esperava muito mais
Pela primeira vez eu vou fazer uma crítica negativa. Eskiya, filme turco de 1996, escrito e dirigido por Yavuz Turgul (nunca nem vi) e estrelado mais pelo Ugur Yücel do que pelo Sener Sen, que é o próprio bandido do título. Aqui temos um claro exemplo de um longa que não sabe pra onde ir quando acabam as opções boas e ainda tem bem mais tempo de tela. O filme é sobre um bandido (Sen) que ficou preso por 35 anos e quando finalmente é solto vai atrás de quem o denunciou. Ele descobre que quem o denunciou foi um homem de sua vila e quem o ordenou que fizesse isso foi o antigo amigo do Bandido, Berfo, que mora em Istambul. Indo pra Istambul ele conhece o Jovem Cumali, que trabalha com a máfia da região e é quando começam a aparecer os defeitos do filme.
Primeiro, os monólogos desnecessários, em uma estação de trem vemos Cumali pondo a cabeça pra fora do trem e vê vários policiais o esperando, então ele vira a cabeça em direção à câmera e diz com uma expressão muito artificial "ah não, tem policiais me esperando na estação, o que eu faço?". Isso poderia funcionar bem no teatro, mas no cinema isso se torna lixo. Depois são apresentados os personagens coadjuvantes. UM MAIS RASO QUE O OUTRO. E O PRÊMIO DE MAIS RASO VAI COM CERTEZA PRO BERFO. Na moral, dá muito bem pra eu resumir o Berfo em uma palavra: fudido. O Berfo é um fudido, anda de cadeira de rodas, tem que usar aqueles tubos de oxigênio e quando o cara que ele traiu retorna a primeira coisa que ele pede é a mulher dele de volta que o Berfo pegou. ELE É SEM DÚVIDAS UM FUDIDO.
Apesar de ter tramas paralelas interessantes, quando elas acabam você fica se perguntando "caramba, mas e agora? O filme acabou, né?". E a reposta que o filme dá é bem clara: o filme acabou, MAS AINDA TEM 30 MINUTOS DELE, ENTÃO DECIDI QUE VAMOS ENCHER LINGUIÇA. E é isso que ele faz, o filme enche linguiça até não dar mais, esses trinta minutos foram os mais desnecessários que eu já vi. Pra se ter ideia, 70% dos erros do filme estão nessa meia-hora, problemas técnicos que eu vou falar mais pra frente.
Já é "mais pra frente", começando com a edição: O Bandido tenta ser inventivo com a sua edição com timing aleatório, mas acaba que fica muito estranha porque de vez em quando ela não respeita a regra dos 180 graus, aí você fica se perguntando "espera, mas ele não tava na esquerda?". Passando pra mixagem de som, novamente, tenta ser inventiva mas no fim ficou terripéssima (inventei um adjetivo novo aqui), tem uma parte em específico que me deixou sem palavras, na verdade sem expressão, eu não sabia se eu ria, se eu chorava, eu fiz meio que os dois porque nem em novela mexicana (e olhe lá) a mixagem de som ficou tão cacofônica. Passando pra direção de arte, esse foi o erro mais WTF? que eu pude encontrar. Basicamente tem uma cena que o Bandido encontra a sua mulher e ela tá tomando chá no meio da passagem dos carros e do lado dela tem um canteiro de tulipas, eu olhei praquilo e pensei "que viajéssa, mermão?". E depois voltamos pro roteiro, aqui vemos um final cheio de simbolismos, fazendo referências com os diálogos rasos anteriores, deixando estes novos ainda mais rasos. A única exceção são poucos segundos em que o Bandido diz uma coisa muito filosófica, se brincar nem foi o roteirista que escreveu aquilo, foi tipo, o aplicador de insulfilm dele, porque tá muito bom pra aquele filme. Tem também um chroma key muito vergonhoso que eu prefiro nem comentar, porque ele treme. Velho, nem The Room tinha chroma key tremido.
Até "Santana, acabe com ela" é melhor do que a cena acima
Agora sem brincadeira, o que salva é a direção de fotografia, tem uns tracking shots muito bem bolados, planos que ninguém espera e deixa o espectador deslumbrado, explora bem o potencial das paisagens naturais da Turquia Central e consegue traçar paralelos entre esta e a vista de Istambul, dando até uma incrementada no roteiro mais que problemático.
O Bandido é fraco, entediante, problemático e com uma direção confusa, mas tem uma ou outra virtude que transformou de alguma forma este como um clássico do cinema turco. 5/10.
Divulgue a página se você gostou da minha crítica.
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