Crítica Dupla - Terra Selvagem e Three Biklboards Outside Ebbing, Missouri
Foi muito difícil escolher, então eu empatei esses dois filmes sobre um crime hediondo com jovens e vamos analisar ambos para entender o porquê desses dois filmes serem alguns dos melhores do ano.
Terra Selvagem
Terra Selvagem é um filme de Taylor Sheridan, roteirista de “A Qualquer Custo” e “Sicario - Terra de Ninguém” e estrela Jeremy Renner e Elisabeth Olsen. O filme retrata a história verídica da investigação do assassinato de uma jovem na reserva indígena Wind River no centro-oeste norte-americano.
De cara a primeira coisa que chama a atenção é a direção de fotografia que quis retratar a inospitalidade do frio e a ameaça oculta que sempre ronda os protagonistas sem saber quando vai atacar que não apenas serve para capturar a atenção do público, mas também serve de elemento narrativo que interage com a atmosfera que a mesma cria.
A trilha sonora também é digna de aplausos. Uma das minhas favoritas durante o ano todo busca também ser algo mais do que uma mera trilha sonora. Aqui a música dá lugar a ruídos ensurdecedores que remetem a batidas em um triângulo (instrumento) e acordes individuais de instrumentos indígenas doas quais com a edição certa, foi possível criar um sentimento puro de melancolia que ronda o lugar após a morte da jovem e é uma característica pertencente do protagonista vivido por Renner que tem o assombrado pelo passado que vem à tona com essa investigação.
Outro ponto positivo são as atuações. O Jeremy Renner está fazendo a sua melhor oerformance como um homem destruído pela perda mas que a aceita e procura redenção a partir do acaso. O interessante é que não é preciso falas para que ele transmita toda essa melancolia que ele possui. Algo também visível na atuação de Casey Affleck em Manchester À Beira Mar e que faltou com Sam Worthington em A Cabana. Elizabeth Olsen não chega a ser problemática, inclusive a atriz faz o máximo para isso não acontecer, mas o roteiro não colabora na hora de desenvolver sua personagem. Graham Greene é o mais próximo que o filme tem de um alívio cômico. Seu personagem tem um tom de rispodez satírico que perpetua até o final e a impressão que dá é que ele traz a esperança que o filme precisa pra acalmar o espectador, embora não precise.
Com todos esses elementos positivos o seu roteiro deveria ser de qualidade semelhante. Isso
acontece? Não. Apesar do filme ter um bom ritmo e diálogos ousados nada corriqueiros para sempre avançar na história e na profundidade dos personagens, ele se autoexplica absurdamente no final. O que não é só anticlimático, mas também mata toda a expectativa que se tem sobre como eles iriam desvendar o crime, o assassino e as motivações. Uma pena Terra Selvagem ter essa semelhança infame com “O Contratempo”.
Terra Selvagem é intrigante, detalhista, muito bem interpretado por um elenco DAQUELES e triste também, mas se auto-sabota no final. Apesar de ser um filme nota 8, a atmosfea construída para preparar o terreno para o clímax é sem dúvida a melhor do ano. Por isso “Terra Selvagem” é um dos melhores do ano.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
O filme talvez possa não ser o melhor do ano (o que eu acho difícil), mas o título já merece um Oscar. O drama é sobre Mildred Hayes, a mãe de uma jovem que foi violentada enquanto morria (algo bem gráfico, se for parar pra pensar), como a polícia não se mobiliza o bastante para achar o culpado, ela decide pagar um ano de aluguel de três outdoors que tem nos arredores da cidade para expor a sua chateação com a falta de resultados na investigação. Isso causa muito alvoroço, e o filme se trata das consequências desses outdoors na vida e no comportamento das pessoas da cidade.
Com uma premissa bastante semelhante à do Terra Selvagem, o que há de diferente aqui é justamente o roteiro. O diretor/roteirista desse filme, Martin McDonagh, achou que seria uma boa ideia todos da cidade serem muito inescrupulosos. Ou seja, lá eles xingam o padre, o policial, o publicitário que é um homem de bem qualquer, e ele acertou nisso. Não só trás uma comicidade inesperada para um baita drama, mas também faz você pensar “espera, ela realmente falou isso" ou "Opa, ela simplesmente jogou cereal com leite na cabeça do filho sem nenhum motivo? Ok então”. Por outro lado, todos aqueles personagens tem um coração e o filme também mostra bem isso. Um ótimo exemplo é quando o personagem do Woody Harrelson, que tem câncer, tosse sangue na cara da protagonista, vivida pela Francis McDormand (que surpreendentemente supera a sua performance em Fargo) sem querer e, ao invés dela meter a bica na cara dele, o que eu achava que iria acontecer, ela fica calma e corta para ele sendo levado por uma ambulância.
Esse filme é incrivelmente filmado, digo, todos os enquadramentos são muito belos. Já era de se esperar do Ben Davis que tem já um currículo extenso passando por longas como Guardiões da Galáxia e Doutor Estranho. Mas diferente desses filmes que eu acabei de citar, ele buscou, junto com o design de arte, recriar um ambiente pacato. No caso, a cidade de Ebbing. Não identifiquei nenhum problema com o som. Pelo contrário, só tem do que elogiar os efeitos sonoros.
Como eu já havia dito antes, Francis McDormand está melhor do que nunca fazendo uma mulher irada com Deus e o mundo. Mas de vez em quando, quem rouba a cena é Sam Rockwell fazendo um policial racista que não consegue lidar bem com os problemas pessoais e descontam isso na sua profissão. Por outro lado, Woody Harrelson faz um homem que tem uma vida feliz, mas que é taxado como culpado no trabalho, o que causa vários conflitos, e por essa injusta acusação e sua condição com a doença que ele porta, o espectadora passa a se importar com ele. Lucas Hedges e Peter Dinklage fazem papéis menores, mas os executam com tamanha excelência que acho que ambos estão fazendo suas melhores atuações no longa.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é dramático, cômico, possui um contraste memorável entre a monotonia da cidade com o comportamento de seus habitantes e possui um ritmo único, como se esse fosse razoavelmente lento na maior parte do tempo, mas que apresentam alguns piques em momentos oportunos que o engrandece, o que faz com que o longa termine no melhor momento possível. Com certeza terá seu lugar na premiação do Oscar e é com certeza um dos melhores filmes de 2017. Nota 10
Feliz Ano Novo, partir de 2018 (amanhã) só haverá postagem nas segundas, terças e sextas porque eu vou ficar sem tempo pra escrever dia sim dia nãotoda vez. Ah, e não se esqueçam. ME DIVULGUEM, ATÉ AMANHÃ