terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Com Amor, Van Gogh - Crítica

Com Amor, Van Gogh - Crítica


   Uma co-produção entre Reino Unido e Polônia sobre os motivos por trás da morte do "pai" da arte moderna é também a animação mais inovadora de 2017 sendo o primeiro longa-metragem inteiramente pintado à óleo (não é à toa que a animação ganhou o prêmio de audiência da última edição do Festival de Annecy).
   O filme conta a história de Armand Roulin, filho de uma das pessoas mais retratadas nas pinturas de Van Gogh e um velho amigo seu, Joseph Roulin, e sua procura pelas motivações de Van Gogh à sua tentativa de suicídio seguida de um lento processo de morte enquanto precisa entregar a última carta escrita ao pintor para a família de seu irmão, Theo.
   Este é um filme que não está preocupado se o público entenderá facilmente o que está em tela. Com diversas ambiguidades que tornam o filme ainda mais rico (uma pena que praticamente todas elas revelam o final do longa e por isso eu não discutirei sobre as mesmas) e um monótono, porém eficaz, uso do efeito Yojimbo que perdura toda a uma hora e meia de duração; eu, de vez em quando, pude me ver perdido dentro do enredo.
   Para que a animação captasse movimentos mais fluidos, o que deve ser bem mais difícil com pintura à óleo, o filme traz de volta a técnica que não se via desde o (no mínimo) estranho "O Homem Duplo" de 2003 feito pelo Richard Linklater, a chamada "Rotoscopia". Ou seja, o filme inteiro foi rodado primeiramente em live-action com os atores de verdade e depois foi pintado por cima, quadro por quadro, um total de 65000 frames (ou devo dizer pinturas?), o que traz um ar de realismo ao filme devido à fluidez dos movimentos dos personagens. Mas o mais incrível de tudo, sem dúvidas, é o fato de que os 125 artistas que participaram do projeto fizeram questão de pintar todos os quadros com a mesma técnica que Van Gogh pintava.

   E justo por optarem pela Rotoscopia como técnica de animação, é preciso ver a atuação dos atores junto com o trabalho de voz. Robert Gulaczyk faz um Van Gogh bipolar, perturbado e depressivo que vai até o fim com a sua paixão pela arte apesar de ser um gênio incompreendido. Como muitas de suas cenas não tem falas, ele demandaria de uma expressividade facial muito grande. Infelizmente, o processo rotoscópico tirou parte de sua interpretação neste aspecto. Douglas Booth está em seu melhor trabalho. Ele consegue passar, diferente de Gulaczyk, todo o ar de curiosidade que seu personagem tem e a sua desconfiança em relação às pessoas da cidade na qual o filme se passa. Jerome Flynn consegue demonstrar que é um homem vivido e que entendia pelo que Vincent passava. Infelizmente ele tem a sua grande cena no terceiro ato, e é uma cena que revela muito sobre o filme. Saoirse Ronan aparece pouco, mas como sempre, está incrível. Por fim, Eleanor Tomlinson consegue roubar a cena mesmo carregando um alto tom de subjetividade em sua personagem, o que é bom, mas é devido à ela que o filme tenha momentos que nem todo mundo conseguirá entender.
   "Com Amor, Van Gogh" é belo, sério, inovador e intrigante ao buscar ao máximo dar mais perguntas do que respostas, mas pode ser lento e esquisito para muitos. 9.7/10

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