Orgulho & Preconceito - Sugestão Netflix
Uma das melhores adaptações literárias para o cinema está disponível na Netflix. Farei hoje uma breve análise sobre o filme para explicar o porquê do longa de estreia de Joe Wright (que está em cartaz atualmente com "O Destino de Uma Nação") merecer o título acima.
Tecnicamente, o filme não é perfeito. Apesar de seus méritos nos figurinos que, segundo especialistas, são dignos de seu tempo, e na direção de arte (ambas sendo impecáveis graças às descrições metódicas que Jane Austen faz em boa parte da peça literária cujo o filme é inspirado), a direção e a fotografia que insistem em exceder irritantemente o uso de close-ups manipulativos e um recurso totalmente incoerente de tracking shot, a famosa câmera tremida. Com incoerente eu quero dizer que não combina nem um pouco com a ambientação histórica, já que esse recurso é normalmente usado para dar um aspecto de documentário ao filme, mas este se passa na era vitoriana, quando certamente não haviam nem inventado o cinema ainda. Por outro lado, nem a edição nem o som apresentam falhas alarmantes.
O roteiro é muito bem escrito. Não achava que alguém pudesse condensar toda a história do livro em duas horas sem afetar o ritmo e a coerência dos fatos, já que em algumas versões do romance, a narração é feita tanto em primeira quanto em terceira pessoa, mas a escritora Deborah Moggach me provou o contrário adaptando diálogos que ficam à altura aos do original, seja em vocabulário ou na entonação afiada que cada personagem recebe. Isso dá gancho para falar sobre outro ponto do filme: as atuações. Casting é uma arte. Saber qual ator/atriz escolher considerando o seu currículo, o talento natural e a percepção de uma futura identificação entre o personagem e o ator antes mesmo deste. Jina Jay, que foi a mesma diretora de casting de diversos filmes do Spielberg, como "Munique" e "Cavalo de Guerra", faz aqui, em minha opinião, o seu melhor trabalho juntando os melhores artistas para viverem na pele de vários dos personagens mais famosos da literatura britânica. Destaque para a brevíssima, porém incrível, atuação da Judi Dench como Lady Catherine de Bourgh que rouba a cena no terceiro ato.
Orgulho & Preconceito é uma ótima adaptação, possui planos e atuações memoráveis, e não é nem um pouco cansativo. Mas não respeita a ambientação ao tentar inserir uma (falha) interação mais intíma entre a câmera e os personagens que já estava no ponto com os suaves, porém belos, travellings pelos cenários. Assistam enquanto podem pois a Netflix tirará o título do catálogo no momento em que perceberem que o filme não é assistido. 8.6/10.
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