Hollywood em Choque 3 - A que ponto as atitudes dos artistas afetam sua obra?
Este é o terceiro texto em que eu falo sobre as acusações de assédio sexual que vem acontecendo com artistas masculinos e vem chocando muita gente. Nos dois primeiros textos (Zentropa em crise e Hollywood em choque) eu foquei em dois casos isolados, o do produtor Harvey Weinstein e o escândalo no estúdio dinamarquês que produziu diversos filmes do nefasto (eu peguei muito pesado com esse adjetivo?) Lars von Trier. Mas agora, eu quero discutir um pouco de cada um dos casos mais famosos para tentar concluir se esses escândalos vão definir toda a obra anterior e posterior destes artistas.
Começando pelo que chocou mais o público geral. Sua primeira acusação foi feita pelo ator de Star Trek, Anthony Rapp, que disse em entrevista ao BuzzFeed News que foi molestado em uma festa e Spacey estava bêbado. Na época Rapp tinha apenas 14 anos. Até aí eu, pessoalmente, ainda achava que Spacey poderia prosseguir com sua carreira apenas contratando um bom advogado para o defender, mas ele jogou fora todas as suas oportunidades de sair daquela situação após achar que seria uma boa ideia justificar a acusação com uma revelação sobre sua sexualidade. Isso só piorou, criando espaço para que outros também o acusarem, incluindo um integrante da família real norueguesa. A partir disso, a sua carreira foi ladeira abaixo, causando impactos diretos sobre a indústria, como uma inédita substituição de ator em um filme após o seu término ("All The Money in the World" do Ridley Scott) e até a sua demissão da série House of Cards e da própria Netflix, streaming da qual ele era praticamente garoto propaganda.
Seguido pelo mais famoso dos casos que vieram antes dessa onda: Woody Allen. Basicamente, em 1992 a Mia Farrow, ex-mulher de Allen descobriu que ele mantinha fotos íntimas de Soon-Yi Previn, filha adotiva de Farrow e do ex-marido, André Previn, com quem mais tarde descobririam que ambos (Allen e Sonn-Yi mantinham um relacionamento secreto que dataria desde quando ela ainda era menor de idade). Além disso, no mesmo ano Allen foi acusado de ter abusado a própria filha biológica, Dylan, quando ela tinha apenas sete anos, tendo diversas provas que confirmavam o ocorrido apesar de não comprovar 100% que o agressor foi Allen. Acontece que, de qualquer forma, o cara já tá com mais de 80 anos, e mesmo que algo seja feito, no pior dos casos o que vai acontecer é uma prisão domiciliar estilo José Maria Marín, assim como o Michael Douglas se as acusações continuarem.
Antes de chegar nos casos mais atuais, James Franco e Aziz Ansari (o último que foi a causa de eu escrever esse texto), eu gostaria de falar sobre "o comediante mais influente da última década", segundo Dana Stevens, Louis C. K. Esse cara é o que eu menos esperava mas ao mesmo tempo o que, olhando para trás, parecia ser o mais suspeito. Eu digo isso pois ele havia um programa de TV chamado Louie, do qual ele constantemente desenvolvia situações sobre coisas bizarras que poderiam acontecer em encontros e relacionamentos. E um dos assuntos que ele mais falava era principalmente o abuso sexual (seja o homem agressor ou vítima, quem já assistiu me entendeu). E é claro que eu não estou dizendo que só porque determinada obra apresenta tal elemento, ela É necessariamente sobre tal elemento, porque se fosse assim eu nem teria visto "Rei Leão" se o mesmo fosse vendido por muitos como um filme que diz que é preciso levar vantagem sobre outros membros da família só porque tem o Scar. Há uma tirinha que eu não pude encontrar para pôr aqui que explica exatamente o que eu quero dizer, que é como um compilado de shows do Louis C K onde ele fala coisas como "eu sou um pervertido' e a plateia inteira ria pois achavam que era piada, mas aos poucos você vai vendo que o tom de voz dele nessas piadas passa a mudar aos poucos a ponto de não parecer mais uma piada, como se ele estivesse falando com sinceridade. E provavelmente ninguém acreditaria que ele estava de certo modo falando sério.
Por fim, os dois casos mais recentes, James Franco que recebeu diversas acusações SERÍSSIMAS de várias mulheres de dentro da indústria e inclusive alunas suas de teatro que já se sentiram no mínimo vulneráveis a ele de uma forma muito humilhante, mas de tão impreciso e recente que esses casos são, nem tem como aprofundar tanto nesse caso. Sobre o Aziz Ansari, eu estou muito triste pois ele era um artista que eu admirava profundamente. Em síntese, o que aconteceu foi que uma fotógrafa que fazia seu trabalho na premiação dos Emmys foi convidada por Aziz para um encontro, só que eles se desentenderam, e muito, no apartamento do comediante, então após 40 minutos de um comportamento nefasto (olha a palavra de novo) vindo de Aziz, ela foi embora e no dia seguinte conversou com o artista via chat com o intuito de esclarecer para ele como ele foi cruel na noite anterior, e pelo que eu entendi, ele realmente parecia arrependido pelo seu comportamento. E eu li muitas pessoas dizendo que esse caso é apenas um mal-entendido de um péssimo encontro, mas pela forma como a fotógrafa relata o caso, Aziz não é digno do respeito de mais ninguém.
Mas então, voltando para o questionamento que eu deixei no título. Será que esses artistas merecem que suas obras sejam boicotadas? No caso de Spacey, todas aquelas atuações incríveis em House of Cards, Os Suspeitos e Beleza Americana não merecem mais aplausos? O Artista do Desastre de Franco não é mais digno de méritos apesar de apresentar um dos melhores roteiros adaptados de 2017? Ansari e C K, que são dois comediantes excepcionais não devem ser assistidos? Woody Allen é o pior ser humano que existe e sua filmografia revolucionária deve ser esquecida (se bem que eu sou bem indiferente a ele, eu só gosto de dois dos 90 trabalhos dele. Pra mim não ia fazer muita diferença no mundo)? É claro, nunca mais veremos eles da mesma forma que víamos antes. Mas por outro lado, diversos cineastas como o Hitchcock, o Kubrick e até mesmo o Goddard eram tudo menos exemplos de ser humano, e mesmo assim aplaudimos até hoje para o trabalho desses três que são certamente os melhores de seus tempos. A questão é que independente de sua fama e influência, eles são pessoas e eles erram, erros que incluem a toxicidade da natureza masculina que vira e mexe impõe sobre quem não merece que a mesma seja ativada, e como público, insistimos em cavar o passado de celebridades e encontrar diversos escândalos, inclusive alguns que nem são tão difundidos, como Tim Allen sendo preso por tráfico de drogas nos anos 90, assim como a infância conturbada de Robert Downey Jr.
Porém, isso não significa que vítimas devam se calar. Quanto mais forem desmascarados, mesmo choquem a maioria, mais bem representada a Hollywood será. #TimesUp
Começando pelo que chocou mais o público geral. Sua primeira acusação foi feita pelo ator de Star Trek, Anthony Rapp, que disse em entrevista ao BuzzFeed News que foi molestado em uma festa e Spacey estava bêbado. Na época Rapp tinha apenas 14 anos. Até aí eu, pessoalmente, ainda achava que Spacey poderia prosseguir com sua carreira apenas contratando um bom advogado para o defender, mas ele jogou fora todas as suas oportunidades de sair daquela situação após achar que seria uma boa ideia justificar a acusação com uma revelação sobre sua sexualidade. Isso só piorou, criando espaço para que outros também o acusarem, incluindo um integrante da família real norueguesa. A partir disso, a sua carreira foi ladeira abaixo, causando impactos diretos sobre a indústria, como uma inédita substituição de ator em um filme após o seu término ("All The Money in the World" do Ridley Scott) e até a sua demissão da série House of Cards e da própria Netflix, streaming da qual ele era praticamente garoto propaganda.
Porém, isso não significa que vítimas devam se calar. Quanto mais forem desmascarados, mesmo choquem a maioria, mais bem representada a Hollywood será. #TimesUp
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