O Destino de Uma Nação - Decepcionante
O novo filme do Joe Wright (diretor citado em minha última crítica: Orgulho & Preconceito - Sugestão Netflix) que conta a história do primeiro mês de Winston Churchill como primeiro-ministro inglês através de seu ponto de vista era promissor, principalmente após serem reveladas as suas 6 indicações ao Oscar 2018. Mas se mostra narrativamente razoável durante dois terços do longa até descarrilhar de vez no ato final. Mas vamos por partes.
Sinceramente, não há nada do que reclamar do visual do filme. O design de produção é na verdade uma das únicas virtudes do filme. Pois apresenta um detalhismo aguçado e curioso em TODAS as cenas. O mesmo pode ser dito da direção de fotografia, que brinca com a iluminação e os ângulos de modo que da primeira até a última aparição de Churchill em tela, ele seja mostrado como um ser sobre-humano, mítico. Seja com contra plongées ou planos filmados apenas em contra-luz. Isso sem falar das transições magníficas que fazem um uso consciente de CGI para criar metáforas sobre o que a 2ª Guerra fez aos ingleses.
O roteiro poderia ser pior. Que bom que não foi pois ele é naturalmente danificado. O escritor Anthony McCarten, embora não tendo uma longa carreira como roteirista, parece se especializar cada vez mais em cinebiografias de peso sobre grandes figuras da Grã-Bretanha, tendo como seu trabalho mais notável até então o roteiro de "A Teoria de Tudo", filme que conta a história do astrofísico Stephen Hawking. A verdade é que o roteiro do mesmo serviu apenas para engrandecer o ator que interpretava a figura magnífica cuja história de vida acabou se tornando um segundo plano para um melodrama barato sobre esclerose múltipla (não que eu não julgue a doença como algo sério). E com Churchill ele comete o mesmo erro, passando a impressão de que ele apenas ambiciona o número de prêmios que o elenco levará para casa. Seja com os monólogos entonados com uma auto-confiança gritante que, apesar de serem incríveis, não apresentam nenhuma surpresa para a plateia pois todos que tiveram boas aulas de história sobre a 2ª Guerra sabem de cor os fatos, seja com diálogos totalmente superficiais, e alguns ridículos de tão fictícios (cof...cof...cena do metrô), que tinham a intenção de fazer uma alegoria mas acabam sendo usados apenas para tentar cobrir a grande lacuna no fim do segundo ato onde praticamente não tem história.
Assim como o visual, as atuações fazem você relevar as falhas do roteiro (exceto a Lily James, que apesar de não estar necessariamente ruim, traz vida a uma personagem completamente descartável). Kristen Scott Thomas está muito bem como a mulher de Churchill, mas seus diálogos acabam sendo um empecilho para o seu talento já que em vários deles ela apenas aparece para jogar uma informação no ar da qual nunca mais será citada. Ronald Pickup aparentemente já sabia que o filme praticamente não levaria a sério a situação de uma Inglaterra encurralada por todos os lados (mais um defeito do filme. Ele não está interessado em trazer ao espectador qualquer emoção em relação à urgência que o exército inglês passava em Durkirk) e abraçou a vilanização que seu personagem, Neville Chamberlain, recebeu. Ben Mendelsohn é um dos únicos que não caiu na patifaria de McCarten e aqui entrega sua melhor performance como Rei George VI, talvez sendo ainda melhor do que a atuação de Colin Firth em "O Discurso do Rei". Finalmente, Gary Oldman mergulhou de cabeça nesse personagem, mas diferente de seus outros papéis onde ele "desaparece dentro da pele dos personagens"* onde apenas a caracterização física é evidente (em "O Destino de Uma Nação" ele se encontra por baixo de muita maquiagem), aqui até a atípica dicção de Churchill, o beiço pra frente quando fuma um charuto, a gagueira repentina quando se perde nas palavras em discursos no parlamento e as expressões faciais quando está sob o efeito de álcool são delicadamente reproduzidos. Em resumo, Oldman salva o filme de ser um desastre. Nós millenials o conhecemos melhor no papel de Sirius Black da franquia Harry Potter. Então, sabem o Sirius Black, veja como ele está hoje. Já se sente velho?
"O Destino de Uma Nação" é de longe é o mais fraco dos filmes que apareceram a partir de 2010 que buscam recriar um Universo Estendido do Reino Unido da década de 40 (como "O Discurso do Rei", "O Jogo da Imitação" e o recente "Dunkirk") pois busca inferir um tom de misticidade à uma das maiores figuras do século XX, e isso acaba sendo desastroso, não só no desenvolvimento dos personagens coadjuvantes que se tornam "escadas" para o protagonista, mas também na história em geral com "liberdades criativas" que o roteirista propõe, o que dá um certo receio aos cinéfilos que reconhecem que os próximos trabalhos do mesmo serão adaptações de biografias de Freddie Mercury e John Lennon, mas é um dos filmes mais belos de 2017 em aspectos visuais e traz uma das melhores performances masculinas do século 21. Ainda assim, não dá para entender a decisão da Academia de incluir este filme na lista de indicados para Melhor Filme de 2017. 6.7/10.
*Frase de Pablo Villaça
Sinceramente, não há nada do que reclamar do visual do filme. O design de produção é na verdade uma das únicas virtudes do filme. Pois apresenta um detalhismo aguçado e curioso em TODAS as cenas. O mesmo pode ser dito da direção de fotografia, que brinca com a iluminação e os ângulos de modo que da primeira até a última aparição de Churchill em tela, ele seja mostrado como um ser sobre-humano, mítico. Seja com contra plongées ou planos filmados apenas em contra-luz. Isso sem falar das transições magníficas que fazem um uso consciente de CGI para criar metáforas sobre o que a 2ª Guerra fez aos ingleses.
O roteiro poderia ser pior. Que bom que não foi pois ele é naturalmente danificado. O escritor Anthony McCarten, embora não tendo uma longa carreira como roteirista, parece se especializar cada vez mais em cinebiografias de peso sobre grandes figuras da Grã-Bretanha, tendo como seu trabalho mais notável até então o roteiro de "A Teoria de Tudo", filme que conta a história do astrofísico Stephen Hawking. A verdade é que o roteiro do mesmo serviu apenas para engrandecer o ator que interpretava a figura magnífica cuja história de vida acabou se tornando um segundo plano para um melodrama barato sobre esclerose múltipla (não que eu não julgue a doença como algo sério). E com Churchill ele comete o mesmo erro, passando a impressão de que ele apenas ambiciona o número de prêmios que o elenco levará para casa. Seja com os monólogos entonados com uma auto-confiança gritante que, apesar de serem incríveis, não apresentam nenhuma surpresa para a plateia pois todos que tiveram boas aulas de história sobre a 2ª Guerra sabem de cor os fatos, seja com diálogos totalmente superficiais, e alguns ridículos de tão fictícios (cof...cof...cena do metrô), que tinham a intenção de fazer uma alegoria mas acabam sendo usados apenas para tentar cobrir a grande lacuna no fim do segundo ato onde praticamente não tem história.
Assim como o visual, as atuações fazem você relevar as falhas do roteiro (exceto a Lily James, que apesar de não estar necessariamente ruim, traz vida a uma personagem completamente descartável). Kristen Scott Thomas está muito bem como a mulher de Churchill, mas seus diálogos acabam sendo um empecilho para o seu talento já que em vários deles ela apenas aparece para jogar uma informação no ar da qual nunca mais será citada. Ronald Pickup aparentemente já sabia que o filme praticamente não levaria a sério a situação de uma Inglaterra encurralada por todos os lados (mais um defeito do filme. Ele não está interessado em trazer ao espectador qualquer emoção em relação à urgência que o exército inglês passava em Durkirk) e abraçou a vilanização que seu personagem, Neville Chamberlain, recebeu. Ben Mendelsohn é um dos únicos que não caiu na patifaria de McCarten e aqui entrega sua melhor performance como Rei George VI, talvez sendo ainda melhor do que a atuação de Colin Firth em "O Discurso do Rei". Finalmente, Gary Oldman mergulhou de cabeça nesse personagem, mas diferente de seus outros papéis onde ele "desaparece dentro da pele dos personagens"* onde apenas a caracterização física é evidente (em "O Destino de Uma Nação" ele se encontra por baixo de muita maquiagem), aqui até a atípica dicção de Churchill, o beiço pra frente quando fuma um charuto, a gagueira repentina quando se perde nas palavras em discursos no parlamento e as expressões faciais quando está sob o efeito de álcool são delicadamente reproduzidos. Em resumo, Oldman salva o filme de ser um desastre. Nós millenials o conhecemos melhor no papel de Sirius Black da franquia Harry Potter. Então, sabem o Sirius Black, veja como ele está hoje. Já se sente velho?
*Frase de Pablo Villaça
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