domingo, 18 de março de 2018

The Vanishing Sidney Hall - Quando a manipulação no espectador passa a afetar a qualidade do filme

The Vanishing of Sidney Hall - Quando a manipulação no espectador passa a afetar a qualidade do filme

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   O mais novo longa do estúdio A24 (o melhor em questão de qualidade cinematográfica atualmente, diga-se de passagem), "The Vanishing of Sidney Hall", estrelado por Logan Lerman e Elle Fanning, e dirigido pelo vencedor do Oscar de melhor curta-metragem de 2013, Shawn Christensen, conta a história do precoce e renomado escritor Sidney Hall a partir de três linhas temporais diferentes para desvendar o que causou o seu paradeiro durante o ápice de sua carreira.
   Pela primeira vez em 4 anos a A24 me decepcionou. Já nos familiarizamos pelas propostas audaciosas que o estúdio investe, desde um docu-drama ultrarrealista como "Bom Comportamento" até um coming-of-age sobre a relação mãe-filha como "Lady Bird", porém o último filme da produtora é uma bagunça manipulativa com um roteiro misógino.
   Tudo bem um filme ser manipulativo (até porque a cena final de "The Florida Project" é uma das minhas cenas favoritas de um filme do ano passado), desde que seja bem feita a seguinte manipulação. O problema é que em "The Vanishing of Sidney Hall" a manipulação não fica somente no roteiro. Logan Lerman e Elle Fanning fazem ótimas atuações, porém em alguns momentos o exagero é trazido à tona e a cena, que poderia ser o ponto máximo do filme, perde seu efeito. Já a fotografia de Daniel Katz, que é muito bela, poderia ter sido a única coisa que se salvasse inteiramente do filme, se não fosse pelo abuso de close-ups manipulativos.
   Além disso, o filme não escolhe qual caminho seguir, que gênero se inserir. Transitando entre um drama pesado e mistério, com traços de road movie, o filme acaba dando pistas claras sobre o fechamento dos arcos principais através de transições entre as linhas temporais. Ao menos a maioria destas respeita a regra do "Não me fale, me mostre", como em "Dunkirk", mas pior, porque pelo menos o Nolan tinha Hanz Zimmer, e o compositor alemão conseguia manter um ar de tensão. Aqui, Shawn Christensen tem...Bob Dylan (sem querer desmerecer o cantor), que não colabora em nada neste aspecto.
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   Aliás, Bob Dylan é uma figura mencionada mais de uma vez no longa, e uma delas para trazer à tona o nível tóxico de misoginia que o roteiro desse filme carrega. No final do primeiro ato a personagem da Elle Fanning diz "Eu amo filmes de terror e Bob Dylan" e então o protagonista pergunta de volta "Tem certeza que você é uma garota?". Isso remete à ridícula e antiquada discussão de "coisa de menino e coisa de menina" que o filme faz mais de uma vez. Outro problema no filme em relação à isso é a forma doentia que é retratada o complexo de Édipo e como no fim das contas a forma de como é abordada pelo protagonista acaba sendo elogiada de "honesta".
   Fora isso, o filme se sai bem (é até irônico falar isso após tudo o que eu disse acima). Os personagens são interessantes, apesar de ser quase impossível se identificar com eles, as atuações são sólidas e engajantes (destaque para a Elle Fanning, principalmente quando sua personagem já é uma adulta), e a história, sem toda a manipulação, é intrigante. "The Vanishing of the Sidney Hall" tem seus méritos, mas seus defeitos ultrapassam as virtudes com um foguete. 4,5/10.

quarta-feira, 7 de março de 2018

12 Anos de Escravidão - Como a calma pode transmitir tensão

12 Anos de Escravidão - Como a calma pode transmitir tensão

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   "12 Anos de Escravidão" e estrelado por Steve McQueen e estrelado por Chiwetel Ejiofot, Lupita Nyong'o, Michael Fassbender, Brad Pitt, Benedict Cumberbatch e Paul Dano. O longa retrata o drama verídico de Solomon Northup, um violinista negro e livre do norte dos EUA durante o período escravocrata que é sequestrado e escravizado como se fosse um escravo fugitivo da Georgia durante 12 anos. Nesse período ele experiencia novamente todo tipo o tipo de angústia da qual ele havia sido liberto.
   Esse filme não tem pressa, tudo leva o seu tempo. O protagonista levou 12 anos para se libertar, então por que correr com o enredo? O resultado do ritmo lento são momentos onde a crueza de uma cena é estendida apenas para causar inquietude no espectador.
   Um ótimo exemplo é na cena em que o protagonista está com a corda no pescoço (literalmente) e precisa ficar na ponta dos pés para não se asfixiar enquanto a câmera fica distante estática, capturando um plano aberto que indica como o protagonista não tem nada a fazer senão esperar alguém o ajudar. Tudo isso apenas com o som ambiente, cujos sons que o espectador ouve com maior clareza são os engasgos do protagonista.
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   "12 Anos de Escravidão" também apresenta conquistas excepcionais na área da maquiagem. Principalmente as cicatrizes abertas com chicote. A direção de arte também tem o seu apreço: toda a arquitetura da casa grande, assim como sua decoração interna, foram bem pensadas para criar um claro contraste com a atmosfera claustrofóbica das senzalas. Com relação à direção de fotografia, a mesma é muito inteligente, prioriza a cor verde e apresenta enquadramentos amplos para demonstrar toda a desolação daquele ambiente desumano e nefasto.
   Ainda assim,  o roteiro, para mim, é o ponto mais forte do longa. Pois mostra um lado muito interessante do período escravocrata norte-americano. Por um lado, ele mostra o quanto os escravizados não eram passivos em relação à situação em que viviam, ainda que em alguns momentos tivessem lapsos de resignação. Por outro, é visível o fato de construírem um personagem branco como o "redentor" destas situações. Mesmo que realmente tenha havido abolicionistas brancos importantes na história, nem sempre os escravizados dependeram dessa bondade para conquistar sua liberdade.
   Sobre as performances, todos estão bem. Chiwetel Ejiofor está em sua melhor forma e nos dá a dua melhor atuação como um escravo inconformado pelo descaso de sua situação mas que aos poucos vai perdendo a esperança, ao mesmo tempo que vai aceitando a sua condição. A Lupita Nyong'o também está fantástica ao conseguir dosar muito bem entre a dor de sua personagem com o seu comportamento rebelde. Michael Fassbender está assustador (como sempre) pois, mesmo o seu personagem sendo um pouco caricato como "O Vilão", ele faz um ótimo antagonista. O Paul Dano está desprezível, e isso é bom. Ele é muito om em fazer isso, como pudemos ver em "Sangue Negro". O Benedict Cumberbatch não é nada demais, mas seu personagem é relativamente importante para a trama. Já o Brad Pitt não ajuda em nada. Mesmo não fazendo uma má atuação, ele está lá apenas para encher linguiça, chegando a ser quase gritante o fato de ele apenas estar lá por ser o produtor do filme.
   "12 Anos de Escravidão" é pesado, tenso, cruel. Mas vale a pena ser assistido. Não só pelas qualidades técnicas, mas pela história em si, que é desconhecida por muitos apesar de ser muito interessante. 9,7/10.

sábado, 3 de março de 2018

Apostas para o Oscar 2018

Apostas para o Oscar 2018

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   Após uma semana sem postagem, eu vim aqui relatar os meus palpites para a nonagésima edição dos prêmios da Academia de Artes e Audiovisual, vulgo Oscar. Apesar de não ter visto todos os candidatos das categorias de melhor curta, melhor curta-documentário e melhor documentário, eu já tenho uma ideia de quais obras ganharão nessas categorias.
  • Melhor Animação
   Começando pela mais previsível. A regra é clara: se tem PIXAR, tem Oscar. Viva - A Vida é Uma Festa vai ganhar, não tem outra.
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  • Melhor Maquiagem e Penteado
   Esta também está bem clara quem vai ser o ganhador da estatueta. Kazuhiro Tsuji, David Malinowski e Lucy Sibbick fizeram um trabalho magistral transformando o Gary Oldman no célebre primeiro-ministro britânico Winston Churchill and "O Destino de Uma Nação (segue em anexo a crítica desse filme: Destino de Uma Nação - Crítica).
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  • Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som
   As duas categorias, que são praticamente primas entre si mas que apresentam uma diferença importante entre elas (a edição de som trabalha com a criação dos samples que vão ser usados no longa enquanto a mixagem de som está preocupada na forma que o som será inserido nos filmes), tem o mesmo possível ganhador. No caso, Dunkirk, compensando a lástima que é a mixagem de som de "Interestelar", o filme antecedente do Christopher Nolan (segue em anexo um texto sobre a filmografia do Nolan: Christopher Nolan - Gênio Contemporâneo?). Mas ainda assim acho uma injustiça como "A Trama Fantasma" não conseguiu uma vaga para cada categoria, que poderia ser muito bem ter recebida no lugar de "A Forma da Água" (segue em anexo as críticas de ambos os filmes: A Forma da Água - CríticaTrama Fantasma - Crítica).
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  • Melhor Edição
   Esta sim é uma categoria mais disputada. Jonathan Amos e Paul Machliss, provavelmente os editores mais frenéticos da mídia britânica dos últimos 10 anos, merecem mais que qualquer um por "Um Ritmo de Fuga" com uma timeline perfeitamente sincronizada com as melodias de músicas de Simon & Garfunkel, Queen e muitos outros. Principalmente já que a dupla de editores ganhou diversos prêmios maiores como o Critics' Choice e o BAFTA. Mas conhecendo como a Academia é com categorias técnicas, este prêmio também pode ir para Dunkirk.
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Timeline sincronizadíssima essa
  • Melhor Curta de Animação
   A regra para Melhor Animação também se aplica nessa categoria. O curta "Lou" da PIXAR é muito bonito, e isso já basta para ganhar uma estatueta. Mas os meus favoritos são "Garden Party", por ser muito bem feito, e "Revolting Rhymes" pela ótima adaptação do livro de Roald Dahl criando um roteiro cômico e muito bem desenvolvido.
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  • Melhores Efeitos Visuais
   Não há nenhum favorito para essa categoria, mas devido ao incrível performance capture de "Planeta dos Macacos - A Guerra" eu estou torcendo para ele.
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  • Melhor Roteiro Original
   A minha categoria favorita este ano está relativamente fraca. Digo, TODOS os indicados são fortíssimos, destaque para "Corra!", o provável vencedor, e "Doentes de Amor", uma das melhores comédias do ano, mas logo de cara eu consigo pensar em outros cinco filmes que poderiam muito bem ocupar as vagas desta categoria: 'Trama Fantasma", "MÃE", "The Florida Project", "A Ghost Story" e "Bom Comportamento". Pelo menos para compensar a injustiça de "O Lagosta" do Lanthimos ter perdido para "Manchester À Beira-Mar" ano passado nesta categoria.
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  • Melhor Trilha Sonora
   Ainda não caiu a ficha que Hanz Zimmer foi indicado a "Dunkirk" ao invés da obra magistral que ele compôs para "Blade Runner 2049", mas tudo bem pois a trilha do longa do Nolan tem um papel fundamental para a criação da atmosfera. Por mim, ganharia a trilha do guitarrista Johnny Greenwood, para "Trama Fantasma", mas esta é apenas sua primeira indicação, e normalmente o compositor iniciante não vence (a única exceção foi Justin Hurwitz com "La La Land" ano passado). Portanto, a estatueta vai ficar entre Desplat com "A Forma da Água" e Zimmer.
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  • Melhor Figurino
   Se esse Oscar não for para "Trama Fantasma", o mundo não é justo. E curiosidade, Daniel Day-Lewis levou tão a sério o seu personagem (o que não é novidade) que trabalhou junto com o figurinista do filme, Mark Bridges, para fazer os figurinos do protagonista. Então, mesmo se Daniel Day-Lewis não vencer como Melhor Ator (o que não é difícil), ele ainda assim será o ator mais premiado pela Academia, já que participou do processo de criação do figurino.
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  • Melhor Roteiro Adaptado
   Em contraste com Melhor Roteiro Original, os indicados para esta categoria não poderiam ter sido melhores. Como era de se esperar, Aaron Sorkin foi indicado pela sua estreia como diretor, "Jogada de Risco"; "O Artista do Desastre" também é um forte candidato. Mas quem tem as maiores chances de vitória é "Me Chame Pelo Seu Nome" com a adaptação fiel do veterano James Ivory.
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  • Melhor Curta Live-Action
   Até onde eu sei, as preferências da Academia nesta categoria são voltadas para o projeto mais criativo. Nesse aspecto, "Th Eleven o'Clock" é o candidato mais forte. Mas, pelo contexto histórico atual, esse prêmio provavelmente vai para "DeKalb Elementary".
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  • Melhor Design de Produção
   A paleta de cores de "A Forma da Água" por si só merecia um Oscar, mas como essa categoria é inexistente e a existente mais relacionável a isso é melhor design de produção, então esse ano a estatueta vai pelo incrível trabalho do trio Austerberry-Vieau-Melvin.
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  • Melhor Canção Original
   Esta é provavelmente a categoria que mais se assemelha ao gosto popular. Este ano, "This Is Me" do musical "O Rei do Show" é indiscutivelmente o favorito, mas "Remember Me" de "Coco" também tem chances razoáveis.
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  • Melhor Curta Documentário
   Esta pra mim é a segunda categoria mais disputada da edição. Enquanto "Edith + Eddie" faz um ótimo trabalho mesmo conservando a estrutura mais convencional do gênero, "Heroin(e)", "Knife Skills" e "Traffic Stop" mostram jornadas incríveis de superação de uma forma impressionante, fazendo você sentir no lugar do objeto de estudo. Por outro lado, tem "Heaven is a Traffic Jam on the 405", que apenas pela montagem merecesse o prêmio, é excepcional por fazer com que o público não julgue a protagonista. De fato, não há como opinar sobre essa categoria de forma objetiva, mas se tivesse que escolher um que se destacou mais que os outros, eu escolheria o último citado.
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  • Melhor Documentário
   Novamente, não acho que há um favorito para a categoria, até porque o queridinho da temporada, "Jane", não foi sequer indicado. Mas pelo histórico e por uma questão de respeito pelos realizadores, eu sinto que quem ganhará será "Visages, Villages" (segue em anexo a crítica deste: Visages, Villages - Melhor Documentário do Ano?).
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  • Melhor Filme Estrangeiro
   Esta é, de fato, a categoria mais disputada. Cinco concorrentes fortíssimos, com roteiros inteligentes e alegóricos (alguns até demais), foram selecionados este ano (e nada de "Bingo - O Rei das Manhãs", que na minha opinião são melhores do que os cinco). Mas os dois únicos que realmente parecem estar se destacando dos demais (Fonte: Google Analytics) são "Uma Mulher Fantástica", do Chile, (meu favorito, inclusive segue anexo uma análise rápida feita do mesmo: A importância dos reflexos em Uma Mulher Fantástica) e "The Square", da Suécia. Mas sinto que este último será o vencedor simplesmente pela influência do elenco.
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  • Melhor Direção
   Por mim poderia dar empate técnico para os cinco indicados. Mas como isso é praticamente impossível, o meu palpite vai para Guillermo del Toro por "A Forma da Água". O mexicano (terceiro em cinco anos) ganhou prêmio do sindicato dos diretores, então não tem como ele não vencer.
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  • Melhor Fotografia
   Eu não sou o único a concordar que a fotografia future-noir de "Blade Runner 2049" feita pelo maior derrotado do Oscar, Roger A. Deakins, é a melhor do ano. Portanto, se ele não vencer este ano, o mais plausível é que há uma conspiração dentro da parte da Academia que vota para essa categoria.
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  • Melhor Atriz Coadjuvante
   Laurie Metcalf está fenomenal em "Lady Bird" (segue em anexo a crítica do mesmo: Lady Bird - Crítica), e o meu palpite seria para ela se eu não tivesse assistido "I, Tonya" e não tivesse presenciado a melhor performance da carreira respeitável de Allison Janney, fazendo uma mãe desnaturada e uma mulher de personalidade fortíssima.
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  • Melhor Atriz
   Novamente, por mim todas as indicadas poderiam vencer. Mas Frances McDormand faz um papel fenomenal se entregando em "Três Anúncios para um Crime" (Três Anúncios - Crítica)
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  • Melhor Ator Coadjuvante
   Por mim, Willem Dafoe deveria vencer pois seria um prêmio simbólico para "The Florida Project", meu filme favorito do ano passado, mas o grande favorito é Sam Rockwell, e é justo.
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  • Melhor Filme
   O algaritmo para calcular o vencedor dessa categoria é simplesmente insano. Esta não funciona da mesma forma que TODAS AS OUTRAS CATEGORIAS, sendo que o vencedor seria o filme com mais votos. Eles resolveram dificultar. Resultado, não há como prever o vencedor desta categoria, e a prova disso foi quando Spotlight venceu há dois anos atrás. Nesta lógica, é mais fácil calcular uma margem de quantos filmes indicados a essa categoria (de 5 a 10) tem uma grande chance de vencer. Neste ano, na minha opinião, são sete. Todos menos "Trama Fantasma" (porque saiu muito em cima da hora) e "O Destino de uma Nação" (pois a princípio nem ser indicado a essa categoria ele deveria). Eu particularmente não gostei de "The Post", mas ainda assim ele tem chances. Porém, se eu fosse dar um palpite, eu ficaria entre "Três Anúncios para um Crime" e "A Forma da Água". Mais voltado para esse último porque houve aquela polêmica do personagem do Sam Rockwell ser muito racista e todo aquele blacklash em cima dele. Portanto, "A Forma da Água" é o mais provável de vencer a categoria principal do Oscar 2018.
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Los Angeles: Cidade Proibida - Vacilão NÃO morre cedo

Los Angeles: Cidade Proibida - Crítica Retrô

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   "Los Angeles: Cidade Proibida", estrelado por Russell Crowe, Kim Bassinger, Guy Pearce e Kevin Spacey, é um thriller policial de 1997 sobre a corrupção dentro do departamento policial de Los Angeles e o seu envolvimento com o crime organizado.
   Com todos os elementos de um neo-noir, esse filme não busca, em momento algum, achar um paralelo com a realidade, e isto é o que faz o longa ser tão charmoso. Digo, é de senso comum que há corrupção dentro da polícia de metrópoles (seja na época em que o filme se passa ou atualmente). Mas há algo naquele roteiro (compassado, porém com um ritmo bacana) dizia que tudo nele era um exagero, como se fosse caricato. Não caricato à la Tim Burton, mas algo beirando a obra do Tarantino (dispensa apresentações), do tipo que o realizador quer que você tenha consciência de que o que você está assistindo é uma obra fictícia.
   E isso é explorado de diversas maneiras. Seja com a direção de fotografia que sempre busca enaltecer personagens com contra plongées (principalmente Spacey, quem tem uma baixa estatura), na maquiagem de um corpo em decomposição que parece estar mais decomposto do que deveria, em função do período de tempo relativamente curto para chegar naquele estado; na mixagem de som dos tiros de armas que são claramente mais altos do que na maioria dos filmes, e até nos diálogos incrivelmente inteligentes escritos pelo notório Brian Helgeland que podem ser considerados tudo menos desinteressantes.
   Passando para a parte das atuações, as performances também expressam algo sobre o que eu falei anteriormente. Cada personagem poderia render um filme solo porque os arcos de cada um são tão bem construídos que você acaba querendo cada vez mais, mesmo o longa tendo mais de duas horas de duração. O Russell Crowe, por exemplo, faz o estereótipo do "bad cop": pavio curto, ego inflado, violento e objetivo. Aliás, "estereótipo" é a palavra-chave para cada personagem, o do Guy Pearce (Lenny de "Memento") nem se fala: é uma versão policial do Michael Corleone (entendedores entenderão, não quero dar detalhes para não relevar spoilers). Outros exemplos são a Kim Bassinger, que faz uma mulher venenosa e manipuladora de maneira tão magistral que lhe rendeu (justamente) um prêmio da Academia, e o Danny DeVito que, apesar de 5 anos após seu papel do "Pinguim" do Batman Returns, ainda carrega traços do vilão e utiliza desses recursos de uma maneira muito bem-humorada.
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   Outra virtude do filme é que ele sabe aonde parar. Quer dizer, ele tinha a opção de acabar momentos antes, mas ele escolhe continuar e quando ele finalmente termina você fica contente porque se acabasse na cena anterior o filme não seria tão grandioso assim.
   "Los Angeles: Cidade Proibida" captura sua atenção do começo ao fim, entretém como poucas obras do audiovisual e contém personagens carismáticos. É caricato mas faz bom uso dessa característica para torná-lo original o bastante para que virasse, assim, uma obra-prima dentro de um gênero tão batido quanto o neo-noir. Nota 10.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A importância dos reflexos em "Uma Mulher Fantástica"

Reflexos em "Uma Mulher Fantástica"

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   O longa chileno indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2017, "Uma Mulher Fantástica" aborda de maneira incrível um tema não muito comentado na sétima arte. O filme conta a jornada homérica de Marina, uma transsexual que é privada do luto de seu companheiro após a morte do mesmo.
   Devido à um mise-en-scène impecável e narrativamente perfeito, "Uma Mulher Fantástica" é um desses filmes que ganha inúmeros elogios sem precisar mostrar muito. Afinal, com apenas 104 minutos, o roteiro se desenvolve com tanta fluidez que até algumas cenas avulsas, potenciais à recheio de linguiça, tem seu valor para a trama.
   Mas o que realmente me chamou atenção, e o que eu não vi quase ninguém comentando, é o frequente uso de reflexos no filme. Há pelo menos seis planos em que o reflexo, seja de algum espelho ou de uma simples vitrine (sem apelar para o clichê do rosto do personagem sendo refletido em alguma vestimenta, lógico), representou algo incrivelmente profundo.
   Boa parte desses planos são bastante simples e não apresenta um significado tão implícito assim. Muitos deles só querem mostrar como a protagonista de vez em quando não se vê como ela gostaria de ser vista, como uma dúvida que ela mesma tem do que ela é. Ou seja, apesar da temática do filme ser algo que deveria elevar certa representatividade que não se vê no cinema, o próprio filme se aproxima do público que se enxergaria mais na pele da protagonista de forma um tanto quanto pessimista, mas é sagaz o bastante para abrir os olhos do público geral sobre o que a opressão pode fazer até mesmo a pessoa mais confiante.
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   Logo, estes planos também funcionam quase como um trocadilho com a "reflexão" que o filme deseja incentivar no público. Mas estes não são nada se não for levado em conta o grande final. Em outras palavras, a grande maioria desses planos é apenas uma preparação para algo maior no terceiro ato.
   É levantada ao longo do filme a dúvida se a protagonista é operada ou não, mas isso realmente não importa. E o diretor/roteirista Sebastián Lelio teve uma ideia brilhante para representar isso. Um dos últimos planos do filme mostra a protagonista se vendo em um espelho pousado em sua virilha, o que claramente diz que o importante para a personagem é a sua visão, a visão de que ela é de fato uma mulher e que é isso o que ela quer sentir (a mesma metáfora é feito um pouco antes de uma forma mais explícita com a música da Aretha Franklin "You Make Me Feel Like an Actual Woman" que toca enquanto ela dirige), criando um contraste que de início chega a parecer esquisito com o que eu falei pouco tempo atrás. Por isso eu achei tão importante ressaltar o fato de que este último plano, sendo o mais significativo, que eu citei estar no ato final.
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   Como o filme segue a clássica narrativa da jornada do herói, este contraste deveria ter sido mais visível pelos espectadores, o que eu, particularmente, não notei. Devido a isso, eu achei tão importante compartilhar a minha percepção com relação ao elemento do reflexo no filme chileno, pois talvez isso possa enriquecer a sua experiência em assistir "Uma Mulher Fantástica".

sábado, 17 de fevereiro de 2018

"Pantera Negra" é o melhor filme do MCU?

Pantera Negra - Crítica

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   T'Challa, o novo rei da nação africana Wakanda (que se mascara como um país de terceiro mundo em prol do desenvolvimento de tecnologias vindas do metal "Vibranium") e uma espécie de guerreiro com habilidades sobre-humanas, das quais ele utiliza para praticar a justiça, se vê lutando contra seus demônios internos e com as consequências que são frutos das decisões equivocadas deixadas pelo seu pai. Este é o enredo do mais recente filme do universo cinematográfico da Marvel, "Pantera Negra", dirigido e co-escrito pelo ótimo Ryan Coogler que, apesar de ter apenas três filmes na carreira, tem certamente o seu lugar garantido no Hall da Fama dos cineastas pós-2010 ao lado de futuras lendas como Damien Chazelle e Xavier Dolan após a recepção que este longa está tendo.
   Mesmo com 98% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo reconhecido pela plataforma como o terceiro melhor filme da história (apenas atrás de "O Mágico de Oz" e "Cidadão Kane"), o público não deve assistir o filme com expectativas tão altas (muito menos em 3D, não vale a pena gastar mais por um recurso que não adicionará em nada). Isso porque, mesmo sendo de fato um filme incrível, ele segue uma linha autoral o bastante para se derivar do resto do universo, o que com certeza não agradará a todos. Mas vamos por partes.
   Visualmente, o filme não é impecável. Nas últimas sequências de ação, a computação gráfica é tão perceptível que me fez lembrar da galhofa que foram os gráficos de "Mulher-Gato". Fora isso, o design de produção, o figurino e a trilha sonora estão de parabéns, já que mixa muito bem os traços tribalistas africanos com o tom futurista mais que original que o filme carrega, trazendo à tona uma cultura não muito difundida da "African Science Fiction" onde, aqui, é muito bem explorada também em termos narrativos.
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   Aliás, o roteiro do filme é mais um elemento que deve ser elogiado. Além de ter uma estrutura narrativa nem um pouco cansativa (o filme tem duas horas e vinte minutos e possui um ritmo acelerado o bastante para o público não se queixar da duração), o roteiro dosa, diferente de "Thor: Ragnarok", por exemplo, seu humor (ainda assim, todas as piadas funcionam). Isto não apenas cria um tom de seriedade para o filme, fazendo-o aproximar mais do Batman da trilogia do Nolan do que ao Homem de Ferro, mas também levanta questões  sociais que têm uma alta carga de relevância (principalmente após a repercussão da fala do Trump sobre "shit-hole nations" e o seu polêmico muro, o que faz com que o filme seja, junto de 'Mulher Maravilha", os dois melhores filmes de super-heróis neste aspecto) fazendo o público refletir no que eles estão assistindo, sendo que estas são projetadas de maneira espetacular nos diálogos do antagonista vivido por Michael B. Jordan.
   Isso faz com que entremos no quesito das performances. O que há de mágico nesse filme (que já havia nos outros filmes do universo compartilhado mas que aqui eu vejo que este é melhor desenvolvido) é omodo que são exploradas as imperfeições dos personagens. Chadwick Boseman, por exemplo, faz um T'Challa que não consegue lidar com toda a pressão que é posta sobre ele já que a nação precisa urgentemente de um rei pois até mesmo seu pai se mostrava um monarca ausente. Michael B. Jordan também está espetacular. Odie Henderson, quem escreveu a crítica do longa no RogerEbert.com falou que "a dupla formada entre Coogler e Jordan será reconhecida posteriormente tanto quanto a dupla Scorcese-De Niro é reconhecida hoje", e ele não está errado. É praticamente palpável a facilidade que foi dirigir Jordan no projeto, considerando que o fruto da relação foi a melhor atuação de um vilão da Marvel, passando sem esforço nenhum o Loki de Tom Hiddleston. Isso porque, além de ser notada as semelhanças entre Killmonger, personagem de Jordan, com o cruel "Zé Pequeno" de "Cidade de Deus", as motivações do anti-herói ficam claras desde o primeiro ato, tornando-o não só carismático mas também identificável. Fora estes, também merecem aplausos às performances de Daniel Kaluuya, que possui um arco muito interessante; Andy Serkis, que faz um homem detestável porém engraçado, mostrando que não é preciso nenhuma máscara digital criada a partir de programas e sensores brancos colados à um traje de chroma key para vê-lo fazendo uma boa atuação; Danai Gurira, quem faz a mulher mais badass do cinema e ponto final; Lupita Nyong'o, fazendo uma atuação incrível como sempre; e Letitia Wright e Winston Duke, ambos fazendo personagens completamente distintos entre si mas que trazem o humor no filme de forma excepcional.
   Sendo uma aula de representatividade e de como produzir um blockbuster sem cair nos clichês do "modo de produção Michael Bay", "Pantera Negra" chega a empatar com o primeiro "Homem de Ferro" como o melhor filme filme do universo Marvel em termos técnicos e narrativos, mas é de longe o mais importante. Nota 9,5/10.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

The 15:17 to Paris - Crítica

The 15:17 to Paris - Clint Eastwood está velho demais para fazer filmes

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   Os últimos filmes de Eastwood vieram trazendo uma temática muito específica: "heróis americanos dos últimos 10 anos". Aqui não é diferente. Assim como em "American Sniper" e "Sully", seu filme mais recente, "The 15:17 to Paris", conta a história verídica de cidadãos americanos que salvaram muitas vidas. Mais precisamente, o filme retrata a história dos três jovens, Alek Skarlatos, Spencer Stone e Anthony Sadler, que faziam um mochilão na Europa quando, no trem em que eles viajavam que vinha de Amsterdã e ia para Paris, evitaram um atentado terrorista e foram reconhecidos internacionalmente.
   Eu, particularmente, não gosto muito desses filmes do Eastwood que tem pretensão de fazer propaganda de como o governo norte-americano forma cidadãos exemplares (de "Sully" eu até gostei, mas odiei "American Sniper"). Eu nunca tive algo contra eles tecnicamente falando, ambos são muito bem dirigidos e executados. É uma questão de gosto mesmo. Porém, neste mais recente sobre o atentado no trem, ele não só é extremamente monótono, mas também é mal interpretado e podia muito bem ser condensado em um curta de 20 minutos apenas com as partes que nós, o público, realmente importaríamos. Algo que o diretor do curta indicado ao Oscar "DeKalb Elementary", que tem uma temática igualmente pesada, optou e acertou. Mas vamos por partes.
   O roteiro é uma bagunça. Apesar de ter seus três atos muito bem separados, eles são abruptamente interrompidos em certos momentos apenas para mostrar flashes do que está para acontecer e que futuramente será recapitulado com EXATAMENTE O MESMO TAKE. Seria legal se estas interrupções fossem propositalmente colocadas naqueles momentos para fazer um paralelo com a vida dos protagonistas, mas a impressão que dá é que a roteirista, Dorothy Blyskal (que não tem um currículo muito memorável, diga-se de passagem), os colocou na narrativa de forma completamente aleatória. Para piorar, parece é visível algo bem maior do que uma "referência" a outros filmes, como "Nascido Para Matar", o recente "Lady Bird" (aliás, aqui está a crítica do mesmo para quem não leu ainda: Crítica de Lady Bird) no primeiro ato, e até mesmo o besteirol "Eurotrip". Aliás, eu fiquei muito desconfortável com o segundo ato que já se passa na Europa. Isso porque ele é completamente parado e não tem absolutamente NADA a dizer. São apenas algumas sequências (muitas delas incrivelmente superficiais) dos protagonistas passeando pelas grandes cidades europeias.
   Também, diferente dos outros filmes do Eastwood com a mesma pegada, aqui a fotografia e a edição não parecem dizer nada. O mesmo pode-se dizer com o som, que não são nada menos do que toscos de tão genéricos (destaque pro clique da câmera do celular), assim como a trilha sonora. Por fim, se tem o design de arte e os figurinos. Ambos não são ruins, mas também não tem nada demais.
   Por fim, vem as atuações. Eastwood, fez a ousada decisão de escalar o pessoal que viveu tudo aquilo para o elenco principal. O problema é que não são todos os cineastas que conseguem trabalhar desta forma. Por exemplo, em "O Gabriel e a Montanha" (aliás, aqui está a crítica para quem ainda não leu: O Gabriel e a Montanha - Crítica) o diretor, Fellipe Gamarano Barbosa escolheu trabalhar com as pessoas que estiveram em contato com Gabriel em suas últimas semanas de vida, e conseguiu suceder com essa estratégia. Isso porque ele resolveu seguir com um segmento mais docudramático apenas com estas pessoas. O problema de Eastwood foi que ele quis ir ainda mais a fundo escolhendo os três jovens para viverem eles mesmos. O problema é que eles certamente nunca atuaram, e isso compromete o longa ao ponto de em todo fim de cena as vozes dos atores sumirem gradualmente pois eles sabiam que a cena estava acabando, como em uma peça infantil quando a criança está nervosa e quer logo acabar com a sua participação, então faz EXATAMENTE a mesma coisa. O que fica ainda mais visível no primeiro ato, onde mostram, os personagens ainda crianças.
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   Concluindo, este filme realmente não tinha como dar certo. Com um orçamento infinitamente menor comparado ao que Eastwood costuma trabalhar, ele nunca se saiu pior (até onde eu sei). Primeiramente, comprando um roteiro vazio, preguiçoso e que ligeiramente banaliza a imagem heroica dos jovens (notem que, apesar de eu ter concordado com a maioria da crítica em relação ao quanto este filme é podre, em momento nenhum eu falei algo contra os americanos senão em relação às performances). Depois, escalando pessoas não qualificadas para os papéis, e por fim não conseguindo lidar com tudo isso pois possivelmente já sabia que aquilo não renderia frutos e que ficaria bem melhor fazer o material em forma de curta-metragem já que, querendo ou não, não havia muita história para ser contada. 2/10.