Pantera Negra - Crítica
T'Challa, o novo rei da nação africana Wakanda (que se mascara como um país de terceiro mundo em prol do desenvolvimento de tecnologias vindas do metal "Vibranium") e uma espécie de guerreiro com habilidades sobre-humanas, das quais ele utiliza para praticar a justiça, se vê lutando contra seus demônios internos e com as consequências que são frutos das decisões equivocadas deixadas pelo seu pai. Este é o enredo do mais recente filme do universo cinematográfico da Marvel, "Pantera Negra", dirigido e co-escrito pelo ótimo Ryan Coogler que, apesar de ter apenas três filmes na carreira, tem certamente o seu lugar garantido no Hall da Fama dos cineastas pós-2010 ao lado de futuras lendas como Damien Chazelle e Xavier Dolan após a recepção que este longa está tendo.
Mesmo com 98% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo reconhecido pela plataforma como o terceiro melhor filme da história (apenas atrás de "O Mágico de Oz" e "Cidadão Kane"), o público não deve assistir o filme com expectativas tão altas (muito menos em 3D, não vale a pena gastar mais por um recurso que não adicionará em nada). Isso porque, mesmo sendo de fato um filme incrível, ele segue uma linha autoral o bastante para se derivar do resto do universo, o que com certeza não agradará a todos. Mas vamos por partes.
Visualmente, o filme não é impecável. Nas últimas sequências de ação, a computação gráfica é tão perceptível que me fez lembrar da galhofa que foram os gráficos de "Mulher-Gato". Fora isso, o design de produção, o figurino e a trilha sonora estão de parabéns, já que mixa muito bem os traços tribalistas africanos com o tom futurista mais que original que o filme carrega, trazendo à tona uma cultura não muito difundida da "African Science Fiction" onde, aqui, é muito bem explorada também em termos narrativos.
Aliás, o roteiro do filme é mais um elemento que deve ser elogiado. Além de ter uma estrutura narrativa nem um pouco cansativa (o filme tem duas horas e vinte minutos e possui um ritmo acelerado o bastante para o público não se queixar da duração), o roteiro dosa, diferente de "Thor: Ragnarok", por exemplo, seu humor (ainda assim, todas as piadas funcionam). Isto não apenas cria um tom de seriedade para o filme, fazendo-o aproximar mais do Batman da trilogia do Nolan do que ao Homem de Ferro, mas também levanta questões sociais que têm uma alta carga de relevância (principalmente após a repercussão da fala do Trump sobre "shit-hole nations" e o seu polêmico muro, o que faz com que o filme seja, junto de 'Mulher Maravilha", os dois melhores filmes de super-heróis neste aspecto) fazendo o público refletir no que eles estão assistindo, sendo que estas são projetadas de maneira espetacular nos diálogos do antagonista vivido por Michael B. Jordan.
Isso faz com que entremos no quesito das performances. O que há de mágico nesse filme (que já havia nos outros filmes do universo compartilhado mas que aqui eu vejo que este é melhor desenvolvido) é omodo que são exploradas as imperfeições dos personagens. Chadwick Boseman, por exemplo, faz um T'Challa que não consegue lidar com toda a pressão que é posta sobre ele já que a nação precisa urgentemente de um rei pois até mesmo seu pai se mostrava um monarca ausente. Michael B. Jordan também está espetacular. Odie Henderson, quem escreveu a crítica do longa no RogerEbert.com falou que "a dupla formada entre Coogler e Jordan será reconhecida posteriormente tanto quanto a dupla Scorcese-De Niro é reconhecida hoje", e ele não está errado. É praticamente palpável a facilidade que foi dirigir Jordan no projeto, considerando que o fruto da relação foi a melhor atuação de um vilão da Marvel, passando sem esforço nenhum o Loki de Tom Hiddleston. Isso porque, além de ser notada as semelhanças entre Killmonger, personagem de Jordan, com o cruel "Zé Pequeno" de "Cidade de Deus", as motivações do anti-herói ficam claras desde o primeiro ato, tornando-o não só carismático mas também identificável. Fora estes, também merecem aplausos às performances de Daniel Kaluuya, que possui um arco muito interessante; Andy Serkis, que faz um homem detestável porém engraçado, mostrando que não é preciso nenhuma máscara digital criada a partir de programas e sensores brancos colados à um traje de chroma key para vê-lo fazendo uma boa atuação; Danai Gurira, quem faz a mulher mais badass do cinema e ponto final; Lupita Nyong'o, fazendo uma atuação incrível como sempre; e Letitia Wright e Winston Duke, ambos fazendo personagens completamente distintos entre si mas que trazem o humor no filme de forma excepcional.
Sendo uma aula de representatividade e de como produzir um blockbuster sem cair nos clichês do "modo de produção Michael Bay", "Pantera Negra" chega a empatar com o primeiro "Homem de Ferro" como o melhor filme filme do universo Marvel em termos técnicos e narrativos, mas é de longe o mais importante. Nota 9,5/10.
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