Lady Bird - Crítica (Melhor Filme do Ano?)
"Melhor Filme do Ano?" vai ser uma série de 4 postagens de filmes que foram muito elogiados pela crítica nesse ano de 2017 para analisar qual foi o melhor do ano. Vamos começar com um longa que vai estrear no Brasil por volta de abril de 2018 se não ganhar algum grande prêmio no circuito do começo do ano que vem (pois isso interfere na data de lançamento no exterior).
"Lady Bird" ou "Lady Bird: É Hora de Voar" é a estreia como diretora e roteirista da rainha do cinema indie atual, Greta Gerwig, e estrelado por um grande elenco relativamente jovem e ainda não tão grande na indústria, como Saoirse Ronan (Brooklyn, Um Olhar do Paraíso), Lucas Hedges (Manchester À Beira Mar), Thimothee Chamalet (Call Me By Your Name, que inclusive pode vir a aparecer aqui) e Laurie Metcalf (Getting On). O filme é um "coming of age" (termo usado pra se referir ao gênero que John Hughes popularizou com "Clube dos Cinco" e "Gatinhas e Gatões") que se passa em 2002 sobre a adolescente Christine (Ronan) que prefere ser chamada de Lady Bird e explora a sua relação com a mãe (Metcalf), assim como a sua ambição de sair de sua cidade para estudar em uma boa faculdade na costa leste dos EUA. Isso o difere de qualquer outro coming of age que normalmente fala sobre as primeiras paixões e a luta para se tornar popular na escola, o que transforma Lady Bird em um clássico instantâneo por ser bem-sucedido na tentativa de reinventar um gênero tão previsível.
Começando pelo roteiro, ele é completamente orgânico e original, por isso que eu estou apostando nele para o Oscar. De cara ele poderia seguir por caminhos já conhecidos, para mostrar a vida difícil e oprimida de uma estudante em um colégio religioso. Pelo contrário, Lady Bird mostra a escola da protagonista como um lugar bem mais legal do que parece, onde há atividades extras bacanas, como a aula de teatro, e professores tranquilos. O que não impede de haver restrições das quais ela tem que respeitar mas eventualmente as quebra devido à sua natureza rebelde.Outro ponto positivo no roteiro são os diálogos que se iniciam com os personagens já conversando, como se eles já estivessem atuando mas a câmera apenas ligasse depois. Isso traz um tom de naturalidade gigantesco, de modo que eu me perguntava se eles estavam improvisando, como em Frances Ha (filme do qual Gerwig estrela). Sem falar nas piadas, que tem um timing perfeito e contextos muito engraçados, como quando no supermercado local, Lady Bird conversa com a amiga Julie sobre ir Nova Iorque para estudar, então Julie pergunta "Mas e o terrorismo?", então Lady Bird responde "Não seja tão Republicana", criticando o sensacionalismo do partido de Bush.
Tanto a edição quanto a direção de fotografia não tem muito a dizer, o filme não procura focar nesses artifícios visuais, embora fizessem algum esforço, como colocar lentes antigas de Panavision em uma Alexa Mini para criar aquele efeito de imagem granular de câmeras caseiras da época. Diferentemente da direção de arte, figurino e trilha sonora, que ajudam na ambientação, visando recriar um pós 11 de Setembro pelo ponto de vista dos jovens da época, e é aí que vemos a maestria da direção de Greta Gerwig. Em uma entrevista ela disse ao diretor de fotografia que queria que o filme tivesse cara de memória, como em "Quatre Cent Coups" do Truffault ou " Boyhood" do Linklater, e ela consegue fazer isso quase que por conta própria, e é muito legal para um fã do cinema indie que acompanhou praticamente toda a carreira dela, ver a que patamar ela alcançou em tão pouco tempo.
Gerwig com o diretor de fotografia, Sam Levy
No aspecto das atuações, o elenco não podia ser melhor. Saoirse Ronan consegue se superar mais um vez e provavelmente vai receber uma indicação ao Oscar pela interpretação mais sincera que eu vi no ano até agora. O mesmo pode se dizer sobre Laurie Metcalf, já que é possível ver que ela está quase que interpretando a ela mesma como mãe. Desde as pequenas discussões que acabam em um abraço e o carinho e cuidado que ela tem com a filha até as broncas giganormes por causa de mal comportamento e rebeldia. Thimothee Chamalet é o típico rebelde sem causa, e mesmo com um personagem tão simples, ele consegue dar um show. Lucas Hedges, que faz o par romântico da Lady Bird até metade do filme, não é o melhor em tela, como pode-se ver na cena onde o objetivo era claramente nos deixar tristes pela sua situação, mas ele não consegue. Hedges é um bom ator, exceto para transmitir tristeza, e isso já foi claro na sua atuação em Manchester À Beira Mar. Mesmo assim, no geral a sua atuação é ótima e a cena não desvaloriza seu trabalho, assim como não tira méritos do filme que é incrível.
Lady Bird é intimista, hilário, orgânico, despretensioso e único. Mesmo sabendo que o filme já não terá um público grande aqui no Brasil pois é fato que a luta é sempre entre o duopólio Disney-Warner, eu recomendo muito que assistam a esse filme. Nota 10.
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