domingo, 18 de março de 2018

The Vanishing Sidney Hall - Quando a manipulação no espectador passa a afetar a qualidade do filme

The Vanishing of Sidney Hall - Quando a manipulação no espectador passa a afetar a qualidade do filme

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   O mais novo longa do estúdio A24 (o melhor em questão de qualidade cinematográfica atualmente, diga-se de passagem), "The Vanishing of Sidney Hall", estrelado por Logan Lerman e Elle Fanning, e dirigido pelo vencedor do Oscar de melhor curta-metragem de 2013, Shawn Christensen, conta a história do precoce e renomado escritor Sidney Hall a partir de três linhas temporais diferentes para desvendar o que causou o seu paradeiro durante o ápice de sua carreira.
   Pela primeira vez em 4 anos a A24 me decepcionou. Já nos familiarizamos pelas propostas audaciosas que o estúdio investe, desde um docu-drama ultrarrealista como "Bom Comportamento" até um coming-of-age sobre a relação mãe-filha como "Lady Bird", porém o último filme da produtora é uma bagunça manipulativa com um roteiro misógino.
   Tudo bem um filme ser manipulativo (até porque a cena final de "The Florida Project" é uma das minhas cenas favoritas de um filme do ano passado), desde que seja bem feita a seguinte manipulação. O problema é que em "The Vanishing of Sidney Hall" a manipulação não fica somente no roteiro. Logan Lerman e Elle Fanning fazem ótimas atuações, porém em alguns momentos o exagero é trazido à tona e a cena, que poderia ser o ponto máximo do filme, perde seu efeito. Já a fotografia de Daniel Katz, que é muito bela, poderia ter sido a única coisa que se salvasse inteiramente do filme, se não fosse pelo abuso de close-ups manipulativos.
   Além disso, o filme não escolhe qual caminho seguir, que gênero se inserir. Transitando entre um drama pesado e mistério, com traços de road movie, o filme acaba dando pistas claras sobre o fechamento dos arcos principais através de transições entre as linhas temporais. Ao menos a maioria destas respeita a regra do "Não me fale, me mostre", como em "Dunkirk", mas pior, porque pelo menos o Nolan tinha Hanz Zimmer, e o compositor alemão conseguia manter um ar de tensão. Aqui, Shawn Christensen tem...Bob Dylan (sem querer desmerecer o cantor), que não colabora em nada neste aspecto.
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   Aliás, Bob Dylan é uma figura mencionada mais de uma vez no longa, e uma delas para trazer à tona o nível tóxico de misoginia que o roteiro desse filme carrega. No final do primeiro ato a personagem da Elle Fanning diz "Eu amo filmes de terror e Bob Dylan" e então o protagonista pergunta de volta "Tem certeza que você é uma garota?". Isso remete à ridícula e antiquada discussão de "coisa de menino e coisa de menina" que o filme faz mais de uma vez. Outro problema no filme em relação à isso é a forma doentia que é retratada o complexo de Édipo e como no fim das contas a forma de como é abordada pelo protagonista acaba sendo elogiada de "honesta".
   Fora isso, o filme se sai bem (é até irônico falar isso após tudo o que eu disse acima). Os personagens são interessantes, apesar de ser quase impossível se identificar com eles, as atuações são sólidas e engajantes (destaque para a Elle Fanning, principalmente quando sua personagem já é uma adulta), e a história, sem toda a manipulação, é intrigante. "The Vanishing of the Sidney Hall" tem seus méritos, mas seus defeitos ultrapassam as virtudes com um foguete. 4,5/10.

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