quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A importância dos reflexos em "Uma Mulher Fantástica"

Reflexos em "Uma Mulher Fantástica"

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   O longa chileno indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2017, "Uma Mulher Fantástica" aborda de maneira incrível um tema não muito comentado na sétima arte. O filme conta a jornada homérica de Marina, uma transsexual que é privada do luto de seu companheiro após a morte do mesmo.
   Devido à um mise-en-scène impecável e narrativamente perfeito, "Uma Mulher Fantástica" é um desses filmes que ganha inúmeros elogios sem precisar mostrar muito. Afinal, com apenas 104 minutos, o roteiro se desenvolve com tanta fluidez que até algumas cenas avulsas, potenciais à recheio de linguiça, tem seu valor para a trama.
   Mas o que realmente me chamou atenção, e o que eu não vi quase ninguém comentando, é o frequente uso de reflexos no filme. Há pelo menos seis planos em que o reflexo, seja de algum espelho ou de uma simples vitrine (sem apelar para o clichê do rosto do personagem sendo refletido em alguma vestimenta, lógico), representou algo incrivelmente profundo.
   Boa parte desses planos são bastante simples e não apresenta um significado tão implícito assim. Muitos deles só querem mostrar como a protagonista de vez em quando não se vê como ela gostaria de ser vista, como uma dúvida que ela mesma tem do que ela é. Ou seja, apesar da temática do filme ser algo que deveria elevar certa representatividade que não se vê no cinema, o próprio filme se aproxima do público que se enxergaria mais na pele da protagonista de forma um tanto quanto pessimista, mas é sagaz o bastante para abrir os olhos do público geral sobre o que a opressão pode fazer até mesmo a pessoa mais confiante.
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   Logo, estes planos também funcionam quase como um trocadilho com a "reflexão" que o filme deseja incentivar no público. Mas estes não são nada se não for levado em conta o grande final. Em outras palavras, a grande maioria desses planos é apenas uma preparação para algo maior no terceiro ato.
   É levantada ao longo do filme a dúvida se a protagonista é operada ou não, mas isso realmente não importa. E o diretor/roteirista Sebastián Lelio teve uma ideia brilhante para representar isso. Um dos últimos planos do filme mostra a protagonista se vendo em um espelho pousado em sua virilha, o que claramente diz que o importante para a personagem é a sua visão, a visão de que ela é de fato uma mulher e que é isso o que ela quer sentir (a mesma metáfora é feito um pouco antes de uma forma mais explícita com a música da Aretha Franklin "You Make Me Feel Like an Actual Woman" que toca enquanto ela dirige), criando um contraste que de início chega a parecer esquisito com o que eu falei pouco tempo atrás. Por isso eu achei tão importante ressaltar o fato de que este último plano, sendo o mais significativo, que eu citei estar no ato final.
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   Como o filme segue a clássica narrativa da jornada do herói, este contraste deveria ter sido mais visível pelos espectadores, o que eu, particularmente, não notei. Devido a isso, eu achei tão importante compartilhar a minha percepção com relação ao elemento do reflexo no filme chileno, pois talvez isso possa enriquecer a sua experiência em assistir "Uma Mulher Fantástica".

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