terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Com Amor, Van Gogh - Crítica

Com Amor, Van Gogh - Crítica


   Uma co-produção entre Reino Unido e Polônia sobre os motivos por trás da morte do "pai" da arte moderna é também a animação mais inovadora de 2017 sendo o primeiro longa-metragem inteiramente pintado à óleo (não é à toa que a animação ganhou o prêmio de audiência da última edição do Festival de Annecy).
   O filme conta a história de Armand Roulin, filho de uma das pessoas mais retratadas nas pinturas de Van Gogh e um velho amigo seu, Joseph Roulin, e sua procura pelas motivações de Van Gogh à sua tentativa de suicídio seguida de um lento processo de morte enquanto precisa entregar a última carta escrita ao pintor para a família de seu irmão, Theo.
   Este é um filme que não está preocupado se o público entenderá facilmente o que está em tela. Com diversas ambiguidades que tornam o filme ainda mais rico (uma pena que praticamente todas elas revelam o final do longa e por isso eu não discutirei sobre as mesmas) e um monótono, porém eficaz, uso do efeito Yojimbo que perdura toda a uma hora e meia de duração; eu, de vez em quando, pude me ver perdido dentro do enredo.
   Para que a animação captasse movimentos mais fluidos, o que deve ser bem mais difícil com pintura à óleo, o filme traz de volta a técnica que não se via desde o (no mínimo) estranho "O Homem Duplo" de 2003 feito pelo Richard Linklater, a chamada "Rotoscopia". Ou seja, o filme inteiro foi rodado primeiramente em live-action com os atores de verdade e depois foi pintado por cima, quadro por quadro, um total de 65000 frames (ou devo dizer pinturas?), o que traz um ar de realismo ao filme devido à fluidez dos movimentos dos personagens. Mas o mais incrível de tudo, sem dúvidas, é o fato de que os 125 artistas que participaram do projeto fizeram questão de pintar todos os quadros com a mesma técnica que Van Gogh pintava.

   E justo por optarem pela Rotoscopia como técnica de animação, é preciso ver a atuação dos atores junto com o trabalho de voz. Robert Gulaczyk faz um Van Gogh bipolar, perturbado e depressivo que vai até o fim com a sua paixão pela arte apesar de ser um gênio incompreendido. Como muitas de suas cenas não tem falas, ele demandaria de uma expressividade facial muito grande. Infelizmente, o processo rotoscópico tirou parte de sua interpretação neste aspecto. Douglas Booth está em seu melhor trabalho. Ele consegue passar, diferente de Gulaczyk, todo o ar de curiosidade que seu personagem tem e a sua desconfiança em relação às pessoas da cidade na qual o filme se passa. Jerome Flynn consegue demonstrar que é um homem vivido e que entendia pelo que Vincent passava. Infelizmente ele tem a sua grande cena no terceiro ato, e é uma cena que revela muito sobre o filme. Saoirse Ronan aparece pouco, mas como sempre, está incrível. Por fim, Eleanor Tomlinson consegue roubar a cena mesmo carregando um alto tom de subjetividade em sua personagem, o que é bom, mas é devido à ela que o filme tenha momentos que nem todo mundo conseguirá entender.
   "Com Amor, Van Gogh" é belo, sério, inovador e intrigante ao buscar ao máximo dar mais perguntas do que respostas, mas pode ser lento e esquisito para muitos. 9.7/10

sábado, 27 de janeiro de 2018

O Destino de Uma Nação - Como um filme se torna decepcionante?

O Destino de Uma Nação - Decepcionante


   O novo filme do Joe Wright (diretor citado em minha última crítica: Orgulho & Preconceito - Sugestão Netflix) que conta a história do primeiro mês de Winston Churchill como primeiro-ministro inglês através de seu ponto de vista era promissor, principalmente após serem reveladas as suas 6 indicações ao Oscar 2018. Mas se mostra narrativamente razoável durante dois terços do longa até descarrilhar de vez no ato final. Mas vamos por partes.
   Sinceramente, não há nada do que reclamar do visual do filme. O design de produção é na verdade uma das únicas virtudes do filme. Pois apresenta um detalhismo aguçado e curioso em TODAS as cenas. O mesmo pode ser dito da direção de fotografia, que brinca com a iluminação e os ângulos de modo que da primeira até a última aparição de Churchill em tela, ele seja mostrado como um ser sobre-humano, mítico. Seja com contra plongées ou planos filmados apenas em contra-luz. Isso sem falar das transições magníficas que fazem um uso consciente de CGI para criar metáforas sobre o que a 2ª Guerra fez aos ingleses.
   O roteiro poderia ser pior. Que bom que não foi pois ele é naturalmente danificado. O escritor Anthony McCarten, embora não tendo uma longa carreira como roteirista, parece se especializar cada vez mais em cinebiografias de peso sobre grandes figuras da Grã-Bretanha, tendo como seu trabalho mais notável até então o roteiro de "A Teoria de Tudo", filme que conta a história do astrofísico Stephen Hawking. A verdade é que o roteiro do mesmo serviu apenas para engrandecer o ator que interpretava a figura magnífica cuja história de vida acabou se tornando um segundo plano para um melodrama barato sobre esclerose múltipla (não que eu não julgue a doença como algo sério). E com Churchill ele comete o mesmo erro, passando a impressão de que ele apenas ambiciona o número de prêmios que o elenco levará para casa. Seja com os monólogos entonados com uma auto-confiança gritante que, apesar de serem incríveis, não apresentam nenhuma surpresa para a plateia pois todos que tiveram boas aulas de história sobre a 2ª Guerra sabem de cor os fatos, seja com diálogos totalmente superficiais, e alguns ridículos de tão fictícios (cof...cof...cena do metrô), que tinham a intenção de fazer uma alegoria mas acabam sendo usados apenas para tentar cobrir a grande lacuna no fim do segundo ato onde praticamente não tem história.
   Assim como o visual, as atuações fazem você relevar as falhas do roteiro (exceto a Lily James, que apesar de não estar necessariamente ruim, traz vida a uma personagem completamente descartável). Kristen Scott Thomas está muito bem como a mulher de Churchill, mas seus diálogos acabam sendo um empecilho para o seu talento já que em vários deles ela apenas aparece para jogar uma informação no ar da qual nunca mais será citada. Ronald Pickup aparentemente já sabia que o filme praticamente não levaria a sério a situação de uma Inglaterra encurralada por todos os lados (mais um defeito do filme. Ele não está interessado em trazer ao espectador qualquer emoção em relação à urgência que o exército inglês passava em Durkirk) e abraçou a vilanização que seu personagem, Neville Chamberlain, recebeu. Ben Mendelsohn é um dos únicos que não caiu na patifaria de McCarten e aqui entrega sua melhor performance como Rei George VI, talvez sendo ainda melhor do que a atuação de Colin Firth em "O Discurso do Rei". Finalmente, Gary Oldman mergulhou de cabeça nesse personagem, mas diferente de seus outros papéis onde ele "desaparece dentro da pele dos personagens"* onde apenas a caracterização física é evidente (em "O Destino de Uma Nação" ele se encontra por baixo de muita maquiagem), aqui até a atípica dicção de Churchill, o beiço pra frente quando fuma um charuto, a gagueira repentina quando se perde nas palavras em discursos no parlamento e as expressões faciais quando está sob o efeito de álcool são delicadamente reproduzidos. Em resumo, Oldman salva o filme de ser um desastre. Nós millenials o conhecemos melhor no papel de Sirius Black da franquia Harry Potter. Então, sabem o Sirius Black, veja como ele está hoje. Já se sente velho?

   "O Destino de Uma Nação" é de longe é o mais fraco dos filmes que apareceram a partir de 2010 que buscam recriar um Universo Estendido do Reino Unido da década de 40 (como "O Discurso do Rei", "O Jogo da Imitação" e o recente "Dunkirk") pois busca inferir um tom de misticidade à uma das maiores figuras do século XX, e isso acaba sendo desastroso, não só no desenvolvimento dos personagens coadjuvantes que se tornam "escadas" para o protagonista, mas também na história em geral com "liberdades criativas" que o roteirista propõe, o que dá um certo receio aos cinéfilos que reconhecem que os próximos trabalhos do mesmo serão adaptações de biografias de Freddie Mercury e John Lennon, mas é um dos filmes mais belos de 2017 em aspectos visuais e traz uma das melhores performances masculinas do século 21. Ainda assim, não dá para entender a decisão da Academia de incluir este filme na lista de indicados para Melhor Filme de 2017. 6.7/10.

*Frase de Pablo Villaça

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Orgulho e Preconceito - Sugestão Netflix

Orgulho & Preconceito - Sugestão Netflix


   Uma das melhores adaptações literárias para o cinema está disponível na Netflix. Farei hoje uma breve análise sobre o filme para explicar o porquê do longa de estreia de Joe Wright (que está em cartaz atualmente com "O Destino de Uma Nação") merecer o título acima.
   Tecnicamente, o filme não é perfeito. Apesar de seus méritos nos figurinos que, segundo especialistas, são dignos de seu tempo, e na direção de arte (ambas sendo impecáveis graças às descrições metódicas que Jane Austen faz em boa parte da peça literária cujo o filme é inspirado), a direção  e a fotografia que insistem em exceder irritantemente o uso de close-ups manipulativos e um recurso totalmente incoerente de tracking shot, a famosa câmera tremida. Com incoerente eu quero dizer que não combina nem um pouco com a ambientação histórica, já que esse recurso é normalmente usado para dar um aspecto de documentário ao filme, mas este se passa na era vitoriana, quando certamente não haviam nem inventado o cinema ainda. Por outro lado, nem a edição nem o som apresentam falhas alarmantes.
   O roteiro é muito bem escrito. Não achava que alguém pudesse condensar toda a história do livro em duas horas sem afetar o ritmo e a coerência dos fatos, já que em algumas versões do romance, a narração é feita tanto em primeira quanto em terceira pessoa, mas a escritora Deborah Moggach me provou o contrário adaptando diálogos que ficam à altura aos do original, seja em vocabulário ou na entonação afiada que cada personagem recebe. Isso dá gancho para falar sobre outro ponto do filme: as atuações. Casting é uma arte. Saber qual ator/atriz escolher considerando o seu currículo, o talento natural e a percepção de uma futura identificação entre o personagem e o ator antes mesmo deste. Jina Jay, que foi a mesma diretora de casting de diversos filmes do Spielberg, como "Munique" e "Cavalo de Guerra", faz aqui, em minha opinião, o seu melhor trabalho juntando os melhores artistas para viverem na pele de vários dos personagens mais famosos da literatura britânica. Destaque para a brevíssima, porém incrível, atuação da Judi Dench como Lady Catherine de Bourgh que rouba a cena no terceiro ato.

   Orgulho & Preconceito é uma ótima adaptação, possui planos e atuações memoráveis, e não é nem um pouco cansativo. Mas não respeita a ambientação ao tentar inserir uma (falha) interação mais intíma entre a câmera e os personagens que já estava no ponto com os suaves, porém belos, travellings pelos cenários. Assistam enquanto podem pois a Netflix tirará o título do catálogo no momento em que perceberem que o filme não é assistido. 8.6/10.

sábado, 20 de janeiro de 2018

I, Tonya - Melhor comédia de 2017 (sim, melhor que "O Artista do Desastre")

I, Tonya - "Os Bons Companheiros" da patinação no gelo


   Como foi que eu deixei de ver esse filme na época em que eu estava fazendo o meu Top 25 dos melhores filmes do ano (aliás, aqui está o link para este post: Melhores do ano)?
   A cinebiografia da patinadora de gelo Tonya Harding, que se tornou uma das pessoas mais odiadas do mundo do esporte após um ataque contra a sua concorrente, Nancy Kerrigan, nas sessões de prática do campeonato nacional de 1993, é muito diferente de qualquer filme do gênero por dispensar o realismo que 90% dos diretores usariam ao invés da abordagem que mescla um humor negro e sarcástico com um drama envolvente que o diretor Craig Millespie fez.
   A maior parte disso vem do roteiro de Steven Rogers. Ele fez questão, assim como fizeram em "O Artista do Desastre", de não tornar Tonya Harding motivo de chacota mesmo sabendo que a mesma seria um alvo fácil. Muito pelo contrário, aqui até quem mais odeia ela sentirá uma profunda simpatia pela protagonista devido à sua garra e perseverança que prevaleceram em quase todos os momentos. O roteiro tem diversas outras virtudes, como as quebras de quarta parede que apresentam um timing cômico perfeito e as narrações que funcionam (o que é raro...MUITO raro) e até mesmo a pegada mockumentary que poderia muito bem estragar o filme por já ser uma técnica batida por ser tão não mainstream (Neill Blomkamp quem diga).
  Esteticamente falando, "I, Tonya" não chega a ser um "Blade Runner 2049" mas também tem o seu apreço e faz um bom uso dos seus aspectos visuais para ajudar nessa atmosfera sem precedentes (aliás, aqui está uma expressão que define muito bem esse filme: sem precedentes). A direção de fotografia traz à tona um senso de caos e simplicidade ao mesmo tempo que reflete muito bem o que a vida de Tonya é e sempre foi e que se acentua com a direção de arte e até mesmo a maquiagem (o que eu quase nunca olho em filmes que tem um personagem com alguma deformação ou místico, mas que nesse filme eu tive que reparar pela sua importância na narrativa). O figurino é apenas bonito, não tem muito o que falar do figurino.
   Assim como "Bingo - O Rei das Manhãs", "Guardiões da Galáxia - Volume II" e "Atômica", "I, Tonya" é mais um filme de 2017 cuja trilha sonora levanta um ar muito nostálgico com uma ótima seleção de grandes sucessos dos anos 80. A edição é legalzinha, mas tem alguns cortes cuja finalidade era fazer uma rima visual e que não funcionam muito bem. Não há nada para reclamar da edição e da montagem de som.
Contendo a frustração
   Margot Robbie, apesar de sua carreira curtíssima e tecnicamente instável, é muita querida na indústria e aqui está fazendo o seu melhor trabalho como a fase jovem e adulta de Tonya, uma mulher que sempre teve que ir atrás do que queria pois nunca teve muitas oportunidades devido à sua baixa escolaridade, já que teve que se dedicar inteiramente ao esporte, muito pela rigidez da mãe que, não só a influenciou mas complexou ainda mais a personalidade de Tonya. Mas os melhores momentos são quando ela tem que reter os seus sentimentos. Aliás, estas cenas em específico deveriam ser exibidas em escolas de teatro pra mostrar o que é viver inteiramente um personagem. Vale uma indicação ao Oscar. Outra que vai provavelmente ser reconhecida pelos membros da Academia (e provavelmente ganhar) é a Allison Janney. Ela arrasa como uma mãe abusiva e restrita que sempre acha o que é o melhor para a filha mas que raramente está certa. Por outro lado, boa parte do humor do filme se concentra nela. Quem também está ótima é a McKenna Grace que faz a versão criança da Tonya. Eu já havia feito um bom papel em "Um Laço de Amor" e aqui ela está ainda melhor, principalmente em uma cena que é de partir o coração de qualquer um. Sebastian Stan está razoável fazendo um homem muito inteligente e que consegue manter as coisas sobre controle depois do incidente com Kerrigan, mas também é marido abusivo. Por fim, Paul Walter House é mediano mas consegue fazer um personagem engraçado e odiável como o guarda-costas de Tonya que é o verdadeiro culpado pelo fim da carreira de Tonya (pelo menos ao meu ver).
   I, Tonya é um filme sem precedentes. Poderia simplesmente ter seguido as convenções do gênero mas foi por um caminho bem mais divertido e original. Reconta uma história importante para a história do esporte americano de uma forma nunca antes contada de forma que você sinta empatia pela protagonista já que de certa forma, todos já estiveram no lugar dela, como vítima de uma estupidez arbitrária feita por outra pessoa mas que você teve que assumir a culpa mesmo sabendo que não fez nada de errado. É belo, hilário, triste, único, às vezes estranho e eclético. Mas justamente por não escolher um gênero específico, acaba mostrando algumas falhas técnicas. 9.7/10. Recomendo muitíssimo.
   Se gostou, me divulguem.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Hollywood em Choque 3 - A que ponto as atitudes dos artistas afetam sua obra?

Hollywood em Choque 3 - A que ponto as atitudes dos artistas afetam sua obra?


   Este é o terceiro texto em que eu falo sobre as acusações de assédio sexual que vem acontecendo com artistas masculinos e vem chocando muita gente. Nos dois primeiros textos (Zentropa em crise e Hollywood em choque) eu foquei em dois casos isolados, o do produtor Harvey Weinstein e o escândalo no estúdio dinamarquês que produziu diversos filmes do nefasto (eu peguei muito pesado com esse adjetivo?) Lars von Trier. Mas agora, eu quero discutir um pouco de cada um dos casos mais famosos para tentar concluir se esses escândalos vão definir toda a obra anterior e posterior destes artistas.
   Começando pelo que chocou mais o público geral. Sua primeira acusação foi feita pelo ator de Star Trek, Anthony Rapp, que disse em entrevista ao BuzzFeed News que foi molestado em uma festa e Spacey estava bêbado. Na época Rapp tinha apenas 14 anos. Até aí eu, pessoalmente, ainda achava que Spacey poderia prosseguir com sua carreira apenas contratando um bom advogado para o defender, mas ele jogou fora todas as suas oportunidades de sair daquela situação após achar que seria uma boa ideia justificar a acusação com uma revelação sobre sua sexualidade. Isso só piorou, criando espaço para que outros também o acusarem, incluindo um integrante da família real norueguesa. A partir disso, a sua carreira foi ladeira abaixo, causando impactos diretos sobre a indústria, como uma inédita substituição de ator em um filme após o seu término ("All The Money in the World" do Ridley Scott) e até a sua demissão da série House of Cards e da própria Netflix, streaming da qual ele era praticamente garoto propaganda.

   Seguido pelo mais famoso dos casos que vieram antes dessa onda: Woody Allen. Basicamente, em 1992 a Mia Farrow, ex-mulher de Allen descobriu que ele mantinha fotos íntimas de Soon-Yi Previn, filha adotiva de Farrow e do ex-marido, André Previn, com quem mais tarde descobririam que ambos (Allen e Sonn-Yi mantinham um relacionamento secreto que dataria desde quando ela ainda era menor de idade). Além disso, no mesmo ano Allen foi acusado de ter abusado a própria filha biológica, Dylan, quando ela tinha apenas sete anos, tendo diversas provas que confirmavam o ocorrido apesar de não comprovar 100% que o agressor foi Allen. Acontece que, de qualquer forma, o cara já tá com mais de 80 anos, e mesmo que algo seja feito, no pior dos casos o que vai acontecer é uma prisão domiciliar estilo José Maria Marín, assim como o Michael Douglas se as acusações continuarem.

   Antes de chegar nos casos mais atuais, James Franco e Aziz Ansari (o último que foi a causa de eu escrever esse texto), eu gostaria de falar sobre "o comediante mais influente da última década", segundo Dana Stevens, Louis C. K. Esse cara é o que eu menos esperava mas ao mesmo tempo o que, olhando para trás, parecia ser o mais suspeito. Eu digo isso pois ele havia um programa de TV chamado Louie, do qual ele constantemente desenvolvia situações sobre coisas bizarras que poderiam acontecer em encontros e relacionamentos. E um dos assuntos que ele mais falava era principalmente o abuso sexual (seja o homem agressor ou vítima, quem já assistiu me entendeu). E é claro que eu não estou dizendo que só porque determinada obra apresenta tal elemento, ela É necessariamente sobre tal elemento, porque se fosse assim eu nem teria visto "Rei Leão" se o mesmo fosse vendido por muitos como um filme que diz que é preciso levar vantagem sobre outros membros da família só porque tem o Scar. Há uma tirinha que eu não pude encontrar para pôr aqui que explica exatamente o que eu quero dizer, que é como um compilado de shows do Louis C K onde ele fala coisas como "eu sou um pervertido' e a plateia inteira ria pois achavam que era piada, mas aos poucos você vai vendo que o tom de voz dele nessas piadas passa a mudar aos poucos a ponto de não parecer mais uma piada, como se ele estivesse falando com sinceridade. E provavelmente ninguém acreditaria que ele estava de certo modo falando sério.

   Por fim, os dois casos mais recentes, James Franco que recebeu diversas acusações SERÍSSIMAS de várias mulheres de dentro da indústria e inclusive alunas suas de teatro que já se sentiram no mínimo vulneráveis a ele de uma forma muito humilhante, mas de tão impreciso e recente que esses casos são, nem tem como aprofundar tanto nesse caso. Sobre o Aziz Ansari, eu estou muito triste pois ele era um artista que eu admirava profundamente. Em síntese, o que aconteceu foi que uma fotógrafa que fazia seu trabalho na premiação dos Emmys foi convidada por Aziz para um encontro, só que eles se desentenderam, e muito, no apartamento do comediante, então após 40 minutos de um comportamento nefasto (olha a palavra de novo) vindo de Aziz, ela foi embora e no dia seguinte conversou com o artista via chat com o intuito de esclarecer para ele como ele foi cruel na noite anterior, e pelo que eu entendi, ele realmente parecia arrependido pelo seu comportamento. E eu li muitas pessoas dizendo que esse caso é apenas um mal-entendido de um péssimo encontro, mas pela forma como a fotógrafa relata o caso, Aziz não é digno do respeito de mais ninguém.

   Mas então, voltando para o questionamento que eu deixei no título. Será que esses artistas merecem que suas obras sejam boicotadas? No caso de Spacey, todas aquelas atuações incríveis em House of Cards, Os Suspeitos e Beleza Americana não merecem mais aplausos? O Artista do Desastre de Franco não é mais digno de méritos apesar de apresentar um dos melhores roteiros adaptados de 2017? Ansari e C K, que são dois comediantes excepcionais não devem ser assistidos? Woody Allen é o pior ser humano que existe e sua filmografia revolucionária deve ser esquecida (se bem que eu  sou bem indiferente a ele, eu só gosto de dois dos 90 trabalhos dele. Pra mim não ia fazer muita diferença no mundo)? É claro, nunca mais veremos eles da mesma forma que víamos antes. Mas por outro lado, diversos cineastas como o Hitchcock, o Kubrick e até mesmo o Goddard eram tudo menos exemplos de ser humano, e mesmo assim aplaudimos até hoje para o trabalho desses três que são certamente os melhores de seus tempos. A questão é que independente de sua fama e influência, eles são pessoas e eles erram, erros que incluem a toxicidade da natureza masculina que vira e mexe impõe sobre quem não merece que a mesma seja ativada, e como público, insistimos em cavar o passado de celebridades e encontrar diversos escândalos, inclusive alguns que nem são tão difundidos, como Tim Allen sendo preso por tráfico de drogas nos anos 90, assim como a infância conturbada de Robert Downey Jr.
   Porém, isso não significa que vítimas devam se calar. Quanto mais forem desmascarados, mesmo choquem a maioria, mais bem representada a Hollywood será. #TimesUp

sábado, 13 de janeiro de 2018

Paddington 2 - Crítica

Paddington 2 - Crítica


   A continuação de um dos filmes mais subestimados de 2015, "As Aventuras de Paddington", que conta a história da integração de um urso peruano em uma família londrina, realiza o mesmo feito do original de ser um filme despretensioso para todas as idades, mas com uma qualidade técnica absurda e um roteiro invejável cheio de nuances profundas sobre assuntos delicados como imigração e xenofobia (principalmente xenofobia).
   Nessa nova aventura, o urso Paddington vai a procura de um presente para a sua tia Lucy que está no Peru e gostaria de visitar Londres. Ele encontra o presente perfeito, um livro pop-up de 12 pontos turísticos de Londres dos quais a tia Lucy adoraria ver. Acontece que esse livro é muito caro, o que chama a atenção do ator Phoenix Buchanan (Hugh Grant) que sabe algo sobre esse livro que os outros não sabem, então ele decide roubar o livro, mas quem acaba sendo acusado do crime é Paddington, e ele acaba sendo preso. Enquanto que a família Brown, com quem ele costumava morar, vai atrás do verdadeiro culpado.
   Como vocês, leitores, parecem ter notado, a primeira coisa que eu reparo nos filmes é a composição visual, ou seja, a direção de fotografia, direção de arte e figurino. Sobre Paddington 2, eu não estou querendo acusar ninguém de plágio, MAS, o filme é MUITO parecido com "Grande Hotel Budapeste" do Wes Anderson, praticamente idêntico visualmente (e narrativamente em algumas situações, quem assistir vai entender). Mas isso de forma alguma desmerece o trabalho da equipe técnica do filme, afinal, assim como o filme do Anderson, este é deslumbrante.
   Fora os aspectos estéticos, o que me chamou atenção foi a computação gráfica usada para construir o corpo do Paddington e dos tios dele. É muito bem feito, nem parece que é computadorizado. Digo, a gente só percebe isso quando ele abre a boca pra falar e pra fazer as piruletas dele, que são coisas que ursos normalmente não fazem...né???
   A atmosfera do filme é muito bem, construída com fins quase que óbvios de criar aquele ambiente completamente agradável, mas desafiador, de forma que haja muito para os personagens explorarem. E é aí que a trilha sonora entra. Alternando entre passadas melódicas agudas que transmitem alegria junto de um órgão grave que serve para criar a tensão necessária e a banda "Tobago and d'Lime" que já estava presente no outro filme e que aqui faz algo completamente inovador quando se fala de semi-diegese mas que acaba irritando um pouco quando chega ao ponto de narrar de uma forma mal disfarçada tudo o que está passando na frente da tela.
   Sobre as interpretações, não há muito sobre o que reclamar. O Ben Whishaw, que já tem uma carreira de ator bem estabelecida, aqui faz um trabalho de voz incrível e único dublando Paddington Brown. O Hugh Bonneville aparece aqui bem mais maduro do que no filme anterior, mostrando que agora o Paddington é como um filho para ele e não apenas um estrangeiro que está morando em sua casa. 2017 foi o ano da Sally Hawkins, a sua personagem já demonstrava muita compaixão e simpatia no primeiro filme, mas aqui, além de tudo isso, ela também demonstra uma postura elegante, além de parecer mais inteligente. É raro ver uma personagem coadjuvante, e em certa posição de vítima, ter um intelecto tão aguçado. A Julie Walters aparece bem menos caricata aqui, e isso é bom. Eu senti falta disso no primeiro filme. Por último mas não menos importante, o Hugh Grant faz um vilão que funciona bem melhor do que a Nicole Kidman no primeiro, principalmente porque, diferente da zoóloga que Kidman vivia, Phoenix Buchanan é um personagem muito mais real, palpável. Um ator em decadência que vai fazer de tudo para voltar ao estrelato é uma ideia que é pelo menos concebível. O melhor é que, além de tudo isso, seu personagem é o mais desenvolvido e ao mesmo tempo discreto, o que faz com que Grant roube a cena mas não ao ponto de limitar o tempo em cena dos outros artistas. O resto do elenco não está ruim, mas também é muito relevante falar sobre eles.
   O que me irritou nesse filme foram algumas facilitações narrativas daquelas que o público infantil não vai questionar que envolviam principalmente os personagens da Madeleine Harris e do Samuel Joslin. Isso sem falar de um fato no terceiro ato envolvendo o arco do Brendan Gleeson que é claramente ilógico, mas é um daqueles fatos que alegra o público, então não muito sobre o que comentar.
   Paddington 2 usa e abusa do humor físico digno de aplausos do próprio Buster Keaton, o que o faz divertidíssimo, além disso, é lindo, despretensioso, adorável e charmoso. Corrige vários erros presentes no primeiro filme mas não tem uma estrutura completamente estável. Nota 9/10. Me divulguem.
   É muito triste que esse filme claramente passará despercebido pelo público mais crescido que já está farto de filmes irritantes que misturam personagens de live-action com personagens computação gráfica como Garfield- O Filme, Alvin e os Esquilos 😤 e a franquia dos Smurfs. Mas este é diferente pois insere um personagem clássico no cenário contemporâneo sem se tornar desagradável, condescendente ou cafona" (palavras da The Hollywood Reporter) e apresentando um contexto muito atual que é sempre discutido mas não chega ao público infantil. Isso sem contar do crossover que o filme faz com "The Shape of Water".
(Só botei isso pra vocês também lerem a crítica de The Shape of Water: The Shape of Wter - Crítica)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

A Forma da Água - Crítica

A Forma da Água - Crítica


   O novo filme do mestre do horror contemporâneo, Guillermo del Toro (será que eu elevei muito a imagem dele?), que vai estrear aqui no Brasil em breve, "A Forma da Água" conta a história de Eliza, vivida por uma tocante Sally Hawkins nunca antes vista, uma limpadora muda do laboratório de segurança máxima do governo americano em Baltimore no ano 1962 que passa a conviver com uma criatura aquática que é mantida lá dentro e ambos acabam desenvolvendo uma proximidade maior, principalmente devido a essa deficiência que ambos tem com a linguagem verbal.
   O primeiro ponto que eu gostaria de chamar a atenção foi com relação à direção de arte , que buscou a total predominância de verde nos cenários. O que, não só me lembrou "Amélie" (o que eu reforcei na minha página do letterboxd que eu só uso para sacadinhas: Sacadinha - The Shape of Water), mas também consegui traçar um paralelo entre isso com o uso frequente da cor verde com o elemento da água nos contos da Lygia Fagundes Telles, algo que ela usa para representar a transformação e a renovação, como em "Natal na Barca" (eu estou muito orgulhoso porque aparentemente eu fui o único a ligar esses pontos), duas coisas que tem muito a ver com o filme.
   O que eu também achei bastante diferente foi como o Del Toro e a Vanessa Taylor tomaram algumas decisões no roteiro que deixaram o filme com um ar quase que lúdico para introduzir a relação entre a Eliza e o seu vizinho, Giles, que fora a sua colega de trabalho, Zelda, vivida por uma Octavia Spencer que esbanja carisma como sempre, é seu amigo mais próximo. A cena do sapateado, fazendo uma rima visual com os filmes da Shirley Temple quando criança é um dos momentos mais elegantes e fofos do cinema em 2017.
   As subtramas também são sensacionais. Michael Shannon tem chances de outra indicação por Melhor Ator Coadjuvante no Oscar desse ano, apesar de sua participação ser menor do que em "Animais Noturnos" (filme do qual ele foi reconhecido pela Academia ano passado), mas ter uma qualidade semelhante; vivendo um estereótipo muito bem construído do pai de família conservador que segue meticulosamente o "American Way of Life". O mesmo serve para o Michael Stuhlbarg que me surpreendeu muito por fazer um personagem completamente diferente do que ele normalmente interpreta. 
   Por último mas não menos importante, vem a maquiagem (que merece apresentações, como em
"O Labirinto do Fauno") e quem está po baixo dela, Doug Jones. Quem, para mim, junto com Andy Serkis, são os únicos dois atores que conseguem passar tamanha dramaticidade com tantas camadas físicas (e computadorizadas) que poderiam simplesmente atrapalhar e transformar os personagens que interpretam em meros elementos artificiais.

   O único contra do filme, assim dizendo, é o fim, que agrada o público mas é bastante meloso. Quem assistir vai entender. 9.7/10. Se você gostou, DIVULGUE

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

As Vinhas da Ira - Reflexão social

As Vinhas da Ira - Textão top

Vinhas da Ira Poster
   Essa postagem vai ser semelhante ao que eu escrevi sobre "A Mulher Faz o Homem", traçar um paralelo entre um filme de mais de 70 anos com a realidade brasileira atual. Vamos começar? Vamos começar.
   As Vinhas da Ira é um filme de 1940 dirigido pelo John Ford baseado em um livro homônimo do ano anterior sobre uma família que precisa sair do estado de Oklahoma para a Califórnia porque a fazenda deles foi comprada por uma empresa após a Grande Depressão e durante o percurso que eles fazem e até após chegarem ao destino final, tudo é muito sofrido e é aí que está a maior virtude do filme: a imprevisibilidade. Você não sabe o que esperar porque mesmo quando parece que não dá para piorar, eles vão lá e pioram e é muito ruim ver eles lá sofrendo e não poder de forma alguma ajudar eles.
   A reflexão que o filme me fez ter é sobre o MST porque o que a família do protagonista tá passando é o que os Sem-terra passam, é só parar pra pensar um pouco: os personagens não tem mais casa, aí tem que sair em grandes grupos em busca de algum lugar que aceite eles pra trabalhar em sua fazenda por uma quantidade pequena de dinheiro e uma parcela do que eles colhem para poderem se alimentar, e por fim, eles depois terão que reiniciar o ciclo por causa de algum problema. É ou não é a situação do MST? Na verdade, melhor ainda, a versão americana de Vidas Secas de Graciliano Ramos.
Image result for as vinhas da ira 1940
   Agora, eu não estou necessariamente indicando que o certo é uma reforma agrária pra reduzir os latifúndios inutilizados e movimentar ainda mais o setor agropecuário da economia brasileira que está em crise (embora eu particularmente acho que daria certo), mas o filme nos faz refletir isso, principalmente com algumas falas do protagonista interpretado pelo Henry Fonda lá pro finalzinho do longa.
   Esse texto não tem o intuito de ficar longo, então eu vou concluir com uma fala do filme: "You and me got sense. Them Okies got no sense and no feeling. They ain't human. Human being wouldn't live the way they do. Human being couldn't stand to be so miserable."
   Se gostou, divulgue.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Top 25 Melhores filmes de 2017

Top 25 Melhores Filmes de 2017

   2017 foi um ano histórico para o cinema. Não só tiveram filmes espetaculares que continham narrativas impressionantes e humanas, e uma qualidade técnica absurda, mas também tiveram catástrofes e escândalos, como o do caso Weinstein que eu inclusive escrevi sobre (Hollywood em Choque) e mais recentemente os abusos relatados no estúdio dinamarquês Zentropa (Crise no Zentropa). De centenas de filmes que lançaram este ano, foi muito difícil escolher apenas 25, mas eu consegui. É claro que faltaram alguns que facilmente apareceriam na lista, como The Beguiled, Phantom Thread, The Shape of the Water, The Square e até Paddington 2, mas foi porque ou eu não tive tempo de assistir ou o screener ainda não foi entregue.

Menções Honrosas

   Abaixo estão nove produções incríveis que não entraram para o top 25 mas que merecem ser assistidas por todos:
  • Okja

   O filme produzido pela Netflix não só apresenta uma premissa cativante, mas trabalha temas como a falta de ética de algumas empresas alimentícias (assunto que só foi aparecer na pauta aqui no Brasil com a Operação Carne Fraca) e os direitos dos animais. Isso sem contar dos efeitos visuais usados para criar o super leitão. Mas o roteiro é cheio de pequenos furos que, quando somados, diminuem a qualidade do mesmo e nunca procura se aprofundar nos personagens.
  • Homem-Aranha: De Volta ao Lar

   Esse é provavelmente o melhor filme da franquia do Homem Spider. Tom Holland está incrível e muito expressivo, criando um equilíbrio perfeito entre a leveza que o personagem leva consigo nos quadrinhos e a abordagem mais dramática da primeira trilogia. Além disso, toda a sua caracterização ao menos convence que ele é um estudante do Ensino Médio (o que não vinha acontecendo. O Tobey Maguire parecia um policial infiltrado e o Andrew Garfield, um repetente). O traje é o mais bacana, destaque pra Karen, que é uma Siri só que melhor. O arco do Michael Keaton é muito complexo e faz o queixo de qualquer um cair quando ele aparece em determinado lugar (quem viu entendeu). Infelizmente o conflito principal é meio superficial, chegando a ser estranho.
  • Terra Selvagem

   Vou poupar o tempo de vocês porque esse post vai muito longo, então ao invés de escrever um comentário completo sobre esse filme, aqui está a crítica dele pra quem quiser acessar: Crítica Terra Selvagem e Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
  • Extraordinário
   Eu também fiz crítica desse, entenda o porquê dele estar nas menções honrosas: Crítica - Extraordinário
  • Um Laço de Amor

   Eu vou ser bem honesto: eu não gosto do Marc Webb. Desde o começo, desde "(500) Dias com Ela", mas Um Laço de Amor me surpreendeu. Não só por ter uma premissa originalíssima ou por ver o Chris Evans atuando de verdade, mas consegue ter um timing cômico perfeito para um drama como o mesmo. Só não aparece no top 25 pois há algumas cenas tão irrelevantes que poderiam ser facilmente cortadas.
  • Colossal

   Colossal é um dos filmes mais subestimados desse ano. Uma comédia alegórica não parece ser uma boa ideia apesar de ser uma proposta criativa, mas esse filme acerta em cheio. O problema é que muitos dos personagens são mal desenvolvidos e a conclusão do conflito é muito simples, o que tira o ânimo do espectador quando o filme acaba.
  • Thor: Ragnarok

   Uma coincidência muito interessante que eu consegui identificar foi que houveram o terceiro filme de várias trilogias que conseguiram ser melhores do que os dois primeiros. Como em "Logan"e "Planeta dos Macacos: A Guerra", que ainda vão aparecer no top 25. Thor: Ragnarok também entrou nesse mérito. Ele não só é divertidíssimo, ágil e muito bem dirigido pelo Taika Waititi, mas apresenta vários dos momentos mais memoráveis do cinema de 2017, e muitos deles protagonizados pelo Loki ("I've been falling for 30 minutes"). O único defeito que fez com que ele não entrasse no Top 25, foi que em alguns momentos o filme deveria ter realmente levado a sério, mas o diretor quis fazer daquilo uma comédia (o que de fato é) até o final.
  • Grave

   2017 teve muito filme estranho, como "mãe!" e "O Sacrifício do Cervo Sagrado". Grave também entra nesse grupo. O estudo de personagem mais grotesco dos últimos anos tem uma pegada bem Lyncheana. Por um lado isso enriquece muito bem o universo aonde o filme se passa, que é originalmente apenas frio e ameaçador. Por outro, a realizadora deixa escapar algumas cenas que poderiam ser facilmente cortadas pois elas não fazem nenhum sentido fora do contexto, do qual em nenhum momento é sequer dado uma dica sobre o que ele possa ser. Fora isso, o filme é muito bom. Destaque pra transformação da protagonista que é tão sutil que só cai a ficha quando a transformação acaba e vemos o que ela se tornou, o que choca o espectador, de uma forma positiva, é claro.

  • It - A Coisa


   Esse filme me surpreendeu. Não que o longa pareça ser de cara mais um blockbuster de roteiro relaxado e vazio (e consequentemente uma péssima adaptação do Stephen King), mas sempre há certo receio após tantas falhas (inclusive nesse ano com "The Dark Tower"). Esse filme claramente pega carona no sucesso de Stranger Things, mas isso de forma alguma se mostrou como um ponto negativo. Inclusive, traz uma química melhor entre os personagens principais em comparação ao do filme original (principalmente o Finn Wolfhard que é hilário). O design de arte, a edição, a fotografia, a maquiagem e o figurino são espetaculares. O meu único problema com esse filme foi a repetitividade do recurso do Pennywise correndo atrás das crianças enquanto a câmera fecha no rosto dele, quase que um efeito Vertigo. Mesmo assim, isso não diminui a grande experiência de assisti-lo.

Top 25

25. Mulher Maravilha

   2017 foi o ano onde a presença feminina se intensificou. Tanto é que as quatro maiores bilheterias do ano foram estreladas por mulheres, o que só havia acontecido antes em 1958. Um desses sucessos foi Mulher Maravilha, o melhor filme do universo DC desde "Batman: O Cavaleiro das Trevas". O longa que acompanha a amazona Diana em sua jornada para salvar a humanidade de uma possível auto-extinção com a 1ª Guerra Mundial tem ótimas cenas de ação, um alívio cômico que não é vazio e um drama convincente. Acontece que o filme não é só construído de virtudes. O terceiro ato apresenta um plot twist previsível e um desfecho meloso, isso sem contar do excesso de cenas em câmera lenta.

24. A Silent Voice

   As animações japonesas estão passando por uma crise. O estúdio Ghibli está praticamente falindo. Porém, os estúdios menores não deixam isso transparecer já que acertam cada vez mais com animações muito bem feitas. Se ano passado foi o perfeito "Kimi no na wa", esse ano o destaque foi para Koe no katashi, que foi traduzido para "A Silent Voice". A animação se trata de Ishida-kun, um jovem que, quando criança, costumava praticar bullying com uma colega de sua sala, Nishimiya-san, que tinha deficiência auditiva. Isso acabou voltando contra ele, o que o transformou em um jovem incapaz de se comunicar com qualquer outra pessoa fora do seu círculo de convívio, que já é muito pequeno (e a representação dessa realidade é realizada de uma forma muito criativa, tapando o rosto das pessoas com um "X" azul), e que agora vai atrás de redenção, passando por experiências onde ele se redescobre e se abre aos poucos. Se trata da típica jornada do herói, quase que usando a Fórmula PIXAR. Acontece que, ao invés de um herói, o protagonista é também o próprio antagonista, e ele sabe disso, o que cria um conflito interno que não só é complexo, mas do qual o espectador consegue se identificar, algo que acontece nesses dramas. Quem nunca se viu lutando contra as suas inseguranças mas esta sempre parece ser mais forte, chegando em casos extremos a ponto de pensar em desistir de tudo? Então, "A Silent Voice" é sobre isso, mas ele não tenta ser moralista. Entretanto, o filme é muito longo e mesmo assim não consegue ser tão rico quanto o mangá homônimo, e em alguns momentos é apresentada uma narração desnecessária: "Mostre, não fale".

23. Gabriel e a Montanha

Eu também já havia comentado sobre esse filme, segue a crítica em anexo: Gabriel e a Montanha - Crítica

22. Bom Comportamento


Eis que o vampiro Edward segue a vida de crime. O trabalho mais recente dos irmãos Safdie, "Bom Comportamento" é um thriller frenético sobre dois irmãos, um deles que sofre de alguma doença mental da qual o filme não especifica, que vão roubar um banco, o que tem a deficiência é preso e o outro passa a madrugada fugindo da polícia e indo atrás de pessoas e lugares para conseguir dinheiro o suficiente para pagar a fiança do irmão que claramente não sobreviverá à prisão. Robert Pattinson está em sua melhor performance fazendo um péssimo exemplo de ser humano que, tirando a sua determinação para tirar o seu irmão da cadeia, não há nada para se orgulhar dele, ele é completamente odiável e desprezível. Quem também faz o seu melhor trabalho aqui são a dupla de diretores. Os irmão Safdie tem uma característica muito atípica de fazer com que seus filmes se pareçam com documentários. Chegando ao ponto de você se esquecer que são atores quem estão interpretando, já que o roteiro apresenta diálogos muito irreverentes e pesados, daqueles que você não presencia mas reconhece que fazem parte da realidade de algumas pessoas, o mesmo serve para a edição de som em um momento bem específico que quem assistir vai identificar. A direção de fotografia faz um ótimo trabalho trazendo uma vida desconvidativa da noite em vizinhanças mais simples e vários close-ups desconfortáveis, o que também ajuda no choque do espectador. Por fim, a trilha sonora que é completamente composta por sintetizadores, lembrando os filmes do John Carpenter, Vangelis e até mesmo a abertura Stranger Things cria uma atmosfera que casa perfeitamente com a forte presença do neon e o ritmo frenético da narrativa. O problema que eu tive foi com algumas pausas que o filme dá para o espectador dar uma respirada. Se os diretores optassem por prosseguir com o compasso acelerado, justamente para garantir a tensão do público, o filme se sairia bem melhor.

21. Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe

   "Art house" não é um termo que eu uso mas se eu começasse a usar eu certamente apontaria Noah Baumbach como referência do "movimento". O filme mais recente do americano foi uma das maiores surpresas desse ano, principalmente por conseguir o que todos achavam que era impossível: Adam Sandler em uma boa atuação. O longa sobre uma família de artistas em uma ocasião em que se juntam todos os membros da mesma. É um filme muito bonito, principalmente pela forma que é filmada e dita, lembrando até traços de Wes Anderson (inclusive Baumbach havia trabalhado com ele em sua obra mais conhecida, "The Squid and The Whale"), seja na paleta de cores pastéis encontrada nos figurinos, nos enquadramentos extremamente dinâmicos ou até mesmo nos diálogos que chegam a beirar o absurdo de tão aleatórios em algumas ocasiões. Tendo um elenco de atores que são mais conhecidos pela comédia, o filme está mais apontado para o drama, buscando explorar traumas e mágoas do passado, a maioria tendo como culpado o patriarca teimoso e egocêntrico vivido pelo Dustin Hoffman. Infelizmente, o Noah Baumbach também abusa da metalinguagem a ponto de irritar o espectador, o que ele já havia estabelecido em "Frances Ha", pois o roteiro é cheio de comentários pessoais dele sobre arte que ele bota para os atores falarem, mas de forma alguma isso traz um benefício para história, muito menos um avanço na narrativa.

20. O Sacrifício do Cervo Sagrado


   O quão estranho é esse filme? Xavier Dolan, o diretor que é mais conhecido pela direção do clipe de "Hello" da Adele do que pela sua rica filmografia somada, fez um comentário que expressa da melhor forma possível o que esse filme representa: "Eu amo um filme onde somos desafiados intelectualmente, e as malditas respostas não são dadas". A ousada adaptação do mito de Ifigênia em forma de terror psicológico conta a história de Steven, um cardiologista vivido por Colin Farrell que é casado com Anna (Nicole Kidman), com quem tem dois filhos. Ele mantêm contato comum adolescente filho de um ex-paciente dele que morreu na mesa de cirurgia (Barry Kheogan). Um dia ele decide apresentar esse menino para sua família, mas quando ele passa a ganhar menos atenção de Steven ele inicia um plano para vingar o seu pai. A premissa parece até bem comum, mas com Lanthimos não se pode brincar, ele faz de tudo para desconfortar o espectador com uma fotografia (seja com tracking shots ou close-ups, ambos invertidos), trilha sonora e direção de arte que faz referência a "O Iluminado" do Kubrick. O filme não chega ao ponto de ultrapassar o clássico do terror na qualidade técnica, mas o roteiro premiado em Cannes certamente chega perto com o uso do que todos certamente achariam repugnante. Não de uma forma gratuita, mas com um propósito na narrativa, principalmente no terceiro ato como Pablo Villaça explicou: "quando todos se reúnem na sala em um momento que não preciso descrever para que quem assistiu ao filme o reconheça, o sentimento que experimentamos oscila entre o puro horror e a constatação de que o que testemunhamos não poderia ser diferente". O único problema do filme foi deixar o final tão aberto que chega a parecer que não existe conclusão e o filme acaba a deriva.

19. Fragmentado

   Até que enfim o M. Night Shyamalan voltou a fazer um bom filme. Fragmentado conta a história de Kevin, um homem com 23 personalidades diferentes que sequestra três jovens. Novamente, esse filme tinha tudo para dar errado, como um Deus Ex Machina ou simplesmente não se aprofundar em nenhuma personalidade. Dessa vez foi diferente, começando pelo casting. Escalar o James McAvoy foi um baita acerto, principalmente porque nenhum outro ator daquela faixa etária se dedicaria ao ponto de desenvolver uma expressão facial e voz para cada um de seus personagens (destaque pro Hedwig que é uma criança de 8 anos, pra mim era o melhor). A mesma coisa serve para a Anna Taylor-Joy devido a sua habilidade de expressar tanto sem falar nada. Mesmo assim, como era de se esperar, o filme erra, e não é pouco. Começando pela abordagem no mínimo ofensiva do Distúrbio Dissociativo de Identidade, mas esse é o foco principal do filme, então nem dá muito do que reclamar sobre isso. Passando para os flashbacks da personagem da Anna Taylor-Joy que não ajudam em quase nada, 80% dos mesmos poderiam ser retirados que não fariam diferença nenhuma. Por fim, a conclusão que consegue ser tão oscilante quanto toda a filmografia do Shyamalan, mesmo que termine com uma referência que explode a cabeça de qualquer um que reconhece a boa fase do diretor, os minutos anteriores a esse decepcionam demais, mas o James McAvoy consegue segurar a barra e por isso Fragmentado é um dos melhores filmes do ano.

18. Doentes de Amor

   Essa foi de longe a melhor comédia romântica do ano. Kumail Nanjiani é um motorista de Uber e comediante de stand-up paquistanês que se apaixona por Emily, mas não conta apara a família pois, segundo a cultura de seu país, ele deve se casar com uma paquistanesa. A premissa é muito inventiva, e você fica muito surpreso quando se dá conta que aquilo foi baseado em fatos reais. O filme no geral não tem nada demais, é praticamente uma dramédia, mas o quê do filme é o segundo ato. Basicamente, ALGO acontece e isso faz com que Kumail passe um bom tempo com os pais de Emily, e isso resulta e vários dos diálogos mais engraçados do ano, como por exemplo "Então...e o 11 de Setembro...qual a sua opinião?" "Ah, totalmente contra, quer dizer, nós perdemos 19 dos nossos melhores homens (daí os pais da Emily olham pra ele perplexos). Isso era...isso era uma piada, me desculpe, o 11 de Setembro foi uma tragédia terrível" (e essa é só a primeira conversa que ele tem com o pai da Emily). Uma comédia romântica com um mise-en-scenè muito bom e muito bem escrito, o que é algo raro nos dias de hoje. O único problema de Doentes de Amor é porque ele se estende por bem mais do que deveria, toda vez que você aca que o filme vai acabar, ele tem mais uma cena, da qual poderia ser cortada ou resumida.

17. Mulheres do Século 20


   Eu sei que esse filme é de 2016, mas só chegou ao Brasil em 2017 (nessa lógica eu também poderia ter incluído "Silêncio" do Scorcese e este provavelmente estaria no top 3, mas eu já escrevi tudo e não quero mudar nada). Seguindo a moda de filmes nostálgicos, Mulheres do Século 20 acompanha uma família americana atípica em 1979 composta pelo adolescente Jamie, sua mãe vivida por Annette Bening (mais uma vez esnobada pelo Academia), sua melhor amiga, vivida pela Elle Fanning, uma jovem e excêntrica fotógrafa vivida pela Greta Gerwig e um faz-tudo muito legal vivido pelo Billy Crudup. Assim como em "Doentes de Amor", esse filme não tem uma grande cena ou diálogo ou qualquer outra coisa do gênero, são as pequenas anedotas que ocorrem no dia a dia dos personagens que fazem o filme valer a pena, é um filme sobre momentos, uma série de momentos cotidianos. Não há muito do que dizer, apenas que é um ótimo filme.

16. MÃE!


   Darren Aronofsky consegue pela infinitésima vez fazer o filme mais perturbador da história. Eu escreveria um comentário bem longo sobre esse filme, mas a crítica que o Tiago Belotti gravou sobre esse filme fala tudo e mais um pouco sobre o que também penso: MÃE! - Crítica com Spoilers?

15. The Last Jedi

   Há algum tempo eu escrevi uma crítica sobre esse filme. Segue anexo: The Last Jedi - Crítica

14. Viva - A Vida é Uma Festa


   Este não é o melhor filme da PIXAR, mas continua sendo um filme da PIXAR. Com isso eu quero dizer que, além de ter uma história linda, o filme tem personagens fascinantes e engraçados (destaque para o Dante que tem o melhor arco de todos os personagens caninos da história do cinema), é esteticamente deslumbrante e tem uma carga dramática que faz qualquer um se emocionar. Resumindo, é imperdível. Mas mais do que isso, é muito legal ver que os roteiristas pesquisaram muito sobre a cultura mexicana para fazer essa animação, dá pra sentir isso pois eles poderiam muito bem ter brincado com a cultura mexicana como fizeram no live-action da própria Disney, "Perdido Pra Cachorro", e não se aprofundar em nada. E é tão bem feito nesse sentido que a impressão que me deu em uma cena em específico foi que eles tiveram que se basear na animação semelhante feito pelo Guillermo Del Toro, "Festa no Céu". Mas não é bom desmerecer a animação porque ainda assim o filme apresenta marcas registradas da PIXAR

13. Planeta dos Macacos - A Guerra


   Como eu disse anteriormente no comentário do "Thor: Ragnarok", nesse ano tiveram vários filmes fechando trilogias que conseguem ser melhores do que os dois anteriores, e como eu disse anteriormente, "Planeta dos Macacos - A Guerra" é um deles. Esse é um filme de ação que se difere da maioria. Esse te faz pensar, e muito. O diretor aqui não está preocupado somente em conduzir uma narrativa frenética e rica (pelo menos para um filme de ação) sobre uma guerra entre símios e humanos, tanto é que em relação a guerra, existem somente duas cenas de conflito armado aqui. O diretor quer te mostrar como seria o lado psicológico da guerra, como aquele ambiente pode conduzir qualquer um a loucura, independente da espécie, principalmente um líder que necessita aguentar a pressão de perder homens em instantes mas e que, por isso, deve se reerguer em prontidão porque o inimigo não pode se achar superior, senão eles vão ganhar mais confiança. O mesmo serve para os subtextos. Matt Reeves queria ter certeza que todos entendessem, não só as referências em relação ao original de 1968, mas tudo o que ele está querendo dizer sobre a antiga sociedade escravocrata e a violência policial nos EUA. O mesmo serve para o Woody Harrelson que faz uma mistura de Trump com Roosevelt que poderia ter ficado horrível, mas está no ponto. Por falar nisso, todas as interpretações de motion capture estão incríveis. O Andy Serkis está excepcional, dá pra ver que ele amadureceu como Caesar ao longo da trilogia, e o Steve Zahn está surpreendentemente bem. Um alívio cômico nesse filme poderia matar todos os méritos que o filme já havia conquistado, mas o Bad Ape é engraçadíssimo e adiciona muito para a história. O filme apenas peca em dois tópicos: a computação gráfica, o que é irônico, mas eu estou falando mais precisamente das explosões, que parecem muito artificiais, principalmente a última explosão que tem no filme; o outro ponto é em relação a um momento em que o Woody Harrelson explica tudo o que aconteceu no filme até aquele ponto e é muito anti-climático, mais do que em "Terra Selvagem", porque pelo menos lá aquilo tem um peso menor e está na conclusão. Esse momento que eu citei se estabelece em pleno desenvolvimento.

12. Bingo - O Rei das Manhãs

   Segue anexo a crítica do melhor filme brasileiro de 2017: Bingo - Crítica

11. Logan


   Eu vou dizer aquilo que todos dizem sobre Logan: "finalmente o Wolverine está fazendo o que ele deveria fazer todo filme" e quer saber, tem razão. Devido a classificação indicativa mais restrita, o filme teve uma liberdade maior para expor toda a violência gráfica digna de um filme de X-Men. Obrigado novamente, 20th Century Fox. Logan consegue de tudo. Desde criar uma atmosfera ameaçadora e opressora do deserto com a cinematografia, até uma agonia que não se vai com o design de som. Seja no figurino mais simples que martela a nova realidade dos heróis que antigamente eram praticamente invencíveis ou até na direção de arte, sempre com traços de guerra. O roteiro é cheio de acertos, mas há alguns erros imperdoáveis, como o vídeo que a enfermeira Gabriela gravou no celular. Tudo por um simples motivo: há algumas sequências nesse vídeo nas quais a enfermeira não poderia estar filmando. São planos impossíveis e que não deveriam estar lá. Sobre as interpretações, todas estão impecáveis. O Sir Patrick Stewart está fazendo um Professor Xavier irreconhecível de tão vulnerável. A Dafne Keen tem um olhar ameaçador que consegue mostrar para o público como ela consegue matar qualquer soldado que vier. Boyd Holbrook está fazendo um vilão muito interessante pois ele reconhece toda a força que o Wolverine tem, mas ele não tem medo, e quando descobrimos a razão disso, você não pisca. Deixando o melhor para o final, Hugh Jackman está fazendo a sua melhor atuação como Wolverine: melancólico, frustrado, IMPACIENTE, enferrujado, com muita dificuldade para lutar e até mesmo não se regenerar como antes. A gente sente muito por ele, por ter perdido toda aquela agilidade que ele havia nos primeiros filmes da franquia. Mesmo assim, ele dá um show nas cenas de ação e o desfecho dele como personagem é muito emocionante.

10. Dunkirk


   O filme mais recente do Nolan é um daqueles filmes feitos pra ganhar Oscar (já que ele é um dos "injustiçados pela Academia"): explorando o lado dos Aliados na 2ª Guerra em uma batalha que mudou o rumo do confronto e não é muito visto nem propagado pela mídia. Na verdade não há muito o que falar, porque é um filme diferente de todos os outros do cineasta: curto. O filme tem menos de 2 horas de duração e é a história da espera de um resgate em massa dos Aliados que estão na praia francesa de Dunkirk mostrada em três pontos de vista: água, terra e ar. O jogo de câmera do Nolan aqui é muito bom, sempre intercalando entre um dos pontos de vista de uma forma muito criativa. O roteiro é simples e ousado ao mesmo tempo. Digo, enquanto que quase não há diálogos, toda a ação descrita é um vislumbre. O filme é uma lástima de mixagem de som, como em "Interstellar", mas a trilha sonora angustiante do Hans Zimmer salva.

9. O Artista do Desastre


   "I did naht hit-her, it's not true! It's bullshit!I did not hit her, I did naaaaaaaaht! OHAI, Mark" Já se perguntaram sobre a origem dessa fala? Então, a melhor comédia do ano, "O Artista do Desastre", é a adaptação do livro sobre o processo de criação da melhor/pior comédia intencional da história, "The Room". Para quem não sabe, "The Room" é considerado quase que unanimemente o pior filme da história, mas há um pequeno detalhe: o filme é MUITO engraçado. Isso se deve da excêntrica mente de Tommy Wiseau, um homem rico cuja a idade, o local de nascimento e a origem de seu dinheiro é completamente desconhecida, mas seu sonho é bem claro: virar um cineasta e ator de Hollywood. Na jornada ele conhece Greg, que futuramente será seu melhor amigo. Eles se mudam juntos para Los Angeles, mas a cidade é hostil para quem está só começando, então Wiseau decide chutar o balde e escreve um roteiro para o filme no qual ele planeja produzir, dirigir e atuar. Esse projeto tornaria a ser o "The Room". Como o Tommy Wiseau virou um meme entre os cinéfilos e o filme virou cult de tão ruim que é, o que eu mais esperava era que tirassem sarro do cidadão, o que pra mim já estaria bom, mas eu não poderia estar mais errado. O longa não só tenta ao máximo não tirar sarro do Wiseau, mas ele se mostra muito inspirador, o que é irônico, mas funciona. Porque pensa assim: você quer seguir com o seu sonho, mas tudo e todos não colaboram. O que você faz? Você realiza o seu sonho criando o mesmo. MELHOR SOLUÇÃO. Essa é apenas UMA das diversas virtudes que esse filme carrega. E por falar em carregar, o James Franco carrega quase todo o filme nas costas. Não que o seu irmão, Dave Franco, também não esteja bem nesse filme, mas o James Franco como Tommy Wiseau nos dá uma das melhores atuações de 2017. Ele consegue ser caricato ao não ser caricato, como Johnny Depp em "Ed Wood". Digo, no início você vai achar que os maneirismos de Franco são caricatura do Wiseau, mas aos poucos você vê o Tommy Wiseau é uma caricatura e que tudo o que Franco apresentava aconteceu de verdade. E é só quando você percebe isso que você reconhece como o James Franco está hilário. Não só hilário, na verdade ele é capaz de capturar todas as emoções de Wiseau, inclusive a tristeza que ele sente quando ele começa a notar que o público não recebeu o filme como ele queria (porque inicialmente "The Room" não era pra ser uma comédia, era pra ser um drama pesado sobre traição), e essa cena em específico é de quebrar o coração. O meu único problema foi que eles não saciaram a minha curiosidade em contar por que raios eles decidiram emoldurar colheres em uma cena de "The Room".

8. Three Billboards Outside Ebbing, Missouri

   Segue anexo a crítica: Crítica Terra Selvagem e Three Billboards Outside Ebbing, Missouri

7. Corra!


   Este é o filme mais mindblowing do ano. Jordan Peele, roteirista de "Keanu" também fez um dos melhores filme de 2017. Mas esse não é um filme comum, é um filme feito para o Oscar. Com um mise-em-scenè perfeito e uma premissa que chama a atenção de qualquer um, este filme com certeza terá o seu lugar garantido nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. O longa de terror tem a seguinte premissa: um jovem casal inter-racial composto por uma branca e um afro-americano decide passar um fim de semana na casa dos pais da menina, mesmo com a jovem acalmando o namorado em relação a não haver nenhum parente racista, quando ele chega lá ele se depara uma família de racistas passivos (daqueles que falam coisas como "você pratica algum tipo de luta? Não? Ah, eu pensei nisso por causa da sua genética, você deve levar jeito pra coisa", típico apoiador do Trump). Até então nada que ele já havia experienciado, mas certa noite o jovem sai para dar uma volta quando encontra a mãe da jovem. Esta que o hipnotiza a ponto de reviver um trauma de seu passado, e esta é só uma de várias coisas perturbadoras que o filme mostra. Perturbadora também é a trilha sonora eu decide não cair no clichê da trilha orquestral crescente. Aqui até Childish Gambino é tocado, e de uma forma que eu pessoalmente achei genial. As atuações aqui são excepcionais. O Daniel Kaluuya consegue passar bem toda a desconfiança que ele tem com a fala (e é aí que mora o único problema do filme, os personagens falam sozinho a ponto de deixar rolar uma facilitação narrativa que poderia ter sido evitada), mas é quando ele não fala que ele dá o seu show. Destaque para os seus olhos quando ele afunda no "Sunken Place" dele. A Allison Williams tem o melhor arco, e ela o executa com perfeição. A Caherine Keener e o Bradley Whitford estão sensacionais fazendo aquele tipo de personagem que parece simpático, mas eles parecem ser muito estranho também. O mesmo é dito sobre o Marcus Henderson, a Betty Gabriel e o Lakeith Stanfield. Mas essas performances ótimas são devido ao roteiro que é bem mais complexo do que se imagina. Quem diria, um filme de terror com um contexto que faz uma crítica social tão clara, principalmente ao racismo.

6. A Ghost Story

   Segue a crítica em anexo: A Ghost Story - Crítica

5. Call Me By Your Name

   Segue a crítica em anexo: Call Me By Your Name - Crítica

4. Em Ritmo de Fuga


    Edgar Wright é um dos melhores diretores de sua geração. Aqui ele acaba solidificando de vez essa verdade. Baby Driver é um filme de ação (ou seria musical?) sobre um piloto de fuga insano vivido pelo Ansel Egort que consegue finalmente se livrar da vida de crime, mas ainda assim é chamado para mais um trabalho crucial pelo seu chefe, vivido pelo agora repugnante Kevin Spacey. Como era de se esperar, Edgar Wright abusa das convenções do gênero, trazendo aqui novamente as suas marcas registradas: o humor visual e jump cuts de altíssima qualidade, assim como a edição e mixagem de som que casa perfeitamente com a trilha sonora (que também é perfeita), trazendo aquele quase morto processo muito bonito de mickey mousing. Sendo assim, "Em Ritmo de Fuga" é o filme com a melhor edição de 2017. O único problema que esse filme teve foi mal desenvolvimento dos personagens, o que também é de se esperar do Edgar Wright, embora não ligamos muito pra isso. Fora a introdução de personagens, o filme não dá nenhuma pista sobre a história e o passado dos personagens. Por isso que quando certo personagem tem uma reviravolta, você assusta pois não esperava que aquilo acontecesse, e nem tinha como saber. Mesmo assim, Em Ritmo de Fuga é o filme mais legal do ano. Não o melhor, mas definitivamente o mais legal.

3. Lady Bird

   Segue a crítica em anexo: Lady Bird - Crítica

2. Blade Runner 2049

    Eu estava MUITO receoso sobre esse filme pois continuações desnecessárias são as coisas que mais acontecem hoje em dia (Indiana Jones quem confirme). Não só sobre esse filme, mas sobre o diretor, Dennis Villeneuve, que é um cineasta que eu sou muito fã e que, se esse filme não se saísse bem, certamente seria o fim da carreira do Villeneuve. Fico muito feliz de estar errado. Blade Runner  2049é tecnicamente impecável, principalmente a direção de fotografia do Roger Deakins (será que agora ele ganha o Oscar dessa vez? Aqui ele se saiu muito bem) que se destaca de todo o resto dos elementos narrativos por reviver o conceito do Future-noir que foi antes estabelecido pelo Blade Runner original de 1982. O mesmo serve para a trilha sonora  que é uma super colaboração entre o Hanz Zimmer, o Vangelis e vários outros para restabelecer uma pegada mais futurista ainda do que do primeiro filme, e conseguem, fazendo até referências a trilha do original em um momento que emociona qualquer um que assistiu o primeiro filme. O Ryan Gosling está incrível aqui, fazendo um Blade Runner niilista e iludido, o Harrison Ford está melhor aqui do que esteve no "Star Wars Episódio VII", o que já é um motivo para assistir esse filme, a Sylvie Hoeks faz uma antagonista determinada e destemida daquelas que assusta qualquer um, a Ana de Armas faz uma das melhores personagens do cinema deste ano como uma Siri só que mil vezes melhor, devido ao fato que ela é um holograma, e mil vezes mais filosófica, devido ao fato que ela não tem um corpo físico propriamente dito e isso resulta em uma crise existencial. Por falar em filosófico, o filme abusa em relação a profundidade da narrativa, bem mais do que em "Blade Runner", assim como é bem mais imersivo. Esse filme não está em primeiro lugar desta lista por apenas um motivo: o seu ritmo que é muito lento, principalmente no início, mas se você tiver paciência, você com certeza amará este filme.

1. Projeto Flórida


    Com uma hora e 55 minutos, Projeto Flórida, dirigido, escrito e editado por Sean Baker, o mesmo que fez Tangerine, é quase que uma fábula sobre um grupo de pessoas (focando em uma mãe solteira e sua filha) que moram em hotéis baratos nos arredores da Disney que funcionam como habitações ilegalmente e para não prejudicar os gerentes, eles devem sair todo mês por 24 horas completas e depois podem voltar. Neste filme não há furos de roteiro, não há falhas na direção de fotografia (inclusive, esta é muito bonita, às vezes fazendo referência à simetria presente nos filmes do Wes Anderson) nem na edição, não se identificam problemas na captação de som e TODOS os atores foram bem escalados (e a grande maioria era amadora, o que me lembrou de Cidade de Deus) pela diretora de casting "Carmen Cuba" que é famosa por ter escalado o elenco de Stranger Things. É apenas real, mas mágico. Deu pra entender? Vou tentar explicar de outra forma: tudo o que é mostrado em tela é algo que ocorre, é uma realidade, mas como essa realidade nunca foi exposta, é ao mesmo tempo algo surreal. Agora eu acho que deu pra entender. Sobre as atuações, precisamos falar sobre a Broklynn Prince. ESSA MENINA É A NOVA MERYL STREEP. Ela dá melhor interpretação de uma atriz mirim desde...sempre. Vocês não estão entendendo, ela faz a Moonee, uma menina de seis anos muito precoce que é líder de um grupo de crianças que aprontam suas traquinagens durante esse verão quando o filme se passa. A Bria Vinaite traz um tom de realismo ainda maior com o filme, principalmente nas cena em que ela está vendendo ilegalmente perfume em um lugar onde ela não deve. Ela faz a mãe amorosa da Moonee, Halley, uma jovem que claramente teve gravidez precoce e que provavelmente foi expulsa de casa devido a isso e agora está lutando para sobreviver, mas ela ainda é muito imatura para poder lidar com algumas coisas, inclusive com a criação de uma criança (não que ela não seja uma boa mãe). Willem Dafoe também está no filme como o gerente do hotel onde elas vivem, e uma curiosidade, eu sempre assimilava o Willem Dafoe com os vilões, mas aqui em uma única cena ele me fez mudar toda esse minha imagem dele. Quem assistir vai saber que cena que é essa. O fim pode parecer meio sem sal, mas não é, e eu vou explicar porque. É porque quando o filme acaba você tem ideia do que ainda está para acontecer, e quando você percebe isso, você senta e chora, porque não tem nada do que você possa fazer. Projeto Flórida é real, otimista, mas pessimista, mágico, lindo, poético, muito bem filmado e fotografado, e tem a Brooklynn Prince que dá a melhor a performance do ano. É o melhor filme de 2017.