2017 foi um ano histórico para o cinema. Não só tiveram filmes espetaculares que continham narrativas impressionantes e humanas, e uma qualidade técnica absurda, mas também tiveram catástrofes e escândalos, como o do caso Weinstein que eu inclusive escrevi sobre (
). De centenas de filmes que lançaram este ano, foi muito difícil escolher apenas 25, mas eu consegui. É claro que faltaram alguns que facilmente apareceriam na lista, como The Beguiled, Phantom Thread, The Shape of the Water, The Square e até Paddington 2, mas foi porque ou eu não tive tempo de assistir ou o screener ainda não foi entregue.
Esse filme me surpreendeu. Não que o longa pareça ser de cara mais um blockbuster de roteiro relaxado e vazio (e consequentemente uma péssima adaptação do Stephen King), mas sempre há certo receio após tantas falhas (inclusive nesse ano com "The Dark Tower"). Esse filme claramente pega carona no sucesso de Stranger Things, mas isso de forma alguma se mostrou como um ponto negativo. Inclusive, traz uma química melhor entre os personagens principais em comparação ao do filme original (principalmente o Finn Wolfhard que é hilário). O design de arte, a edição, a fotografia, a maquiagem e o figurino são espetaculares. O meu único problema com esse filme foi a repetitividade do recurso do Pennywise correndo atrás das crianças enquanto a câmera fecha no rosto dele, quase que um efeito Vertigo. Mesmo assim, isso não diminui a grande experiência de assisti-lo.
Top 25
As animações japonesas estão passando por uma crise. O estúdio Ghibli está praticamente falindo. Porém, os estúdios menores não deixam isso transparecer já que acertam cada vez mais com animações muito bem feitas. Se ano passado foi o perfeito "Kimi no na wa", esse ano o destaque foi para Koe no katashi, que foi traduzido para "A Silent Voice". A animação se trata de Ishida-kun, um jovem que, quando criança, costumava praticar bullying com uma colega de sua sala, Nishimiya-san, que tinha deficiência auditiva. Isso acabou voltando contra ele, o que o transformou em um jovem incapaz de se comunicar com qualquer outra pessoa fora do seu círculo de convívio, que já é muito pequeno (e a representação dessa realidade é realizada de uma forma muito criativa, tapando o rosto das pessoas com um "X" azul), e que agora vai atrás de redenção, passando por experiências onde ele se redescobre e se abre aos poucos. Se trata da típica jornada do herói, quase que usando a Fórmula PIXAR. Acontece que, ao invés de um herói, o protagonista é também o próprio antagonista, e ele sabe disso, o que cria um conflito interno que não só é complexo, mas do qual o espectador consegue se identificar, algo que acontece nesses dramas. Quem nunca se viu lutando contra as suas inseguranças mas esta sempre parece ser mais forte, chegando em casos extremos a ponto de pensar em desistir de tudo? Então, "A Silent Voice" é sobre isso, mas ele não tenta ser moralista. Entretanto, o filme é muito longo e mesmo assim não consegue ser tão rico quanto o mangá homônimo, e em alguns momentos é apresentada uma narração desnecessária: "Mostre, não fale".
Eu também já havia comentado sobre esse filme, segue a crítica em anexo:
Gabriel e a Montanha - Crítica
22. Bom Comportamento
Eis que o vampiro Edward segue a vida de crime. O trabalho mais recente dos irmãos Safdie, "Bom Comportamento" é um thriller frenético sobre dois irmãos, um deles que sofre de alguma doença mental da qual o filme não especifica, que vão roubar um banco, o que tem a deficiência é preso e o outro passa a madrugada fugindo da polícia e indo atrás de pessoas e lugares para conseguir dinheiro o suficiente para pagar a fiança do irmão que claramente não sobreviverá à prisão. Robert Pattinson está em sua melhor performance fazendo um péssimo exemplo de ser humano que, tirando a sua determinação para tirar o seu irmão da cadeia, não há nada para se orgulhar dele, ele é completamente odiável e desprezível. Quem também faz o seu melhor trabalho aqui são a dupla de diretores. Os irmão Safdie tem uma característica muito atípica de fazer com que seus filmes se pareçam com documentários. Chegando ao ponto de você se esquecer que são atores quem estão interpretando, já que o roteiro apresenta diálogos muito irreverentes e pesados, daqueles que você não presencia mas reconhece que fazem parte da realidade de algumas pessoas, o mesmo serve para a edição de som em um momento bem específico que quem assistir vai identificar. A direção de fotografia faz um ótimo trabalho trazendo uma vida desconvidativa da noite em vizinhanças mais simples e vários close-ups desconfortáveis, o que também ajuda no choque do espectador. Por fim, a trilha sonora que é completamente composta por sintetizadores, lembrando os filmes do John Carpenter, Vangelis e até mesmo a abertura Stranger Things cria uma atmosfera que casa perfeitamente com a forte presença do neon e o ritmo frenético da narrativa. O problema que eu tive foi com algumas pausas que o filme dá para o espectador dar uma respirada. Se os diretores optassem por prosseguir com o compasso acelerado, justamente para garantir a tensão do público, o filme se sairia bem melhor.
21. Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe
"Art house" não é um termo que eu uso mas se eu começasse a usar eu certamente apontaria Noah Baumbach como referência do "movimento". O filme mais recente do americano foi uma das maiores surpresas desse ano, principalmente por conseguir o que todos achavam que era impossível: Adam Sandler em uma boa atuação. O longa sobre uma família de artistas em uma ocasião em que se juntam todos os membros da mesma. É um filme muito bonito, principalmente pela forma que é filmada e dita, lembrando até traços de Wes Anderson (inclusive Baumbach havia trabalhado com ele em sua obra mais conhecida, "The Squid and The Whale"), seja na paleta de cores pastéis encontrada nos figurinos, nos enquadramentos extremamente dinâmicos ou até mesmo nos diálogos que chegam a beirar o absurdo de tão aleatórios em algumas ocasiões. Tendo um elenco de atores que são mais conhecidos pela comédia, o filme está mais apontado para o drama, buscando explorar traumas e mágoas do passado, a maioria tendo como culpado o patriarca teimoso e egocêntrico vivido pelo Dustin Hoffman. Infelizmente, o Noah Baumbach também abusa da metalinguagem a ponto de irritar o espectador, o que ele já havia estabelecido em "Frances Ha", pois o roteiro é cheio de comentários pessoais dele sobre arte que ele bota para os atores falarem, mas de forma alguma isso traz um benefício para história, muito menos um avanço na narrativa.
20. O Sacrifício do Cervo Sagrado
O quão estranho é esse filme? Xavier Dolan, o diretor que é mais conhecido pela direção do clipe de "Hello" da Adele do que pela sua rica filmografia somada, fez um comentário que expressa da melhor forma possível o que esse filme representa: "Eu amo um filme onde somos desafiados intelectualmente, e as malditas respostas não são dadas". A ousada adaptação do mito de Ifigênia em forma de terror psicológico conta a história de Steven, um cardiologista vivido por Colin Farrell que é casado com Anna (Nicole Kidman), com quem tem dois filhos. Ele mantêm contato comum adolescente filho de um ex-paciente dele que morreu na mesa de cirurgia (Barry Kheogan). Um dia ele decide apresentar esse menino para sua família, mas quando ele passa a ganhar menos atenção de Steven ele inicia um plano para vingar o seu pai. A premissa parece até bem comum, mas com Lanthimos não se pode brincar, ele faz de tudo para desconfortar o espectador com uma fotografia (seja com tracking shots ou close-ups, ambos invertidos), trilha sonora e direção de arte que faz referência a "O Iluminado" do Kubrick. O filme não chega ao ponto de ultrapassar o clássico do terror na qualidade técnica, mas o roteiro premiado em Cannes certamente chega perto com o uso do que todos certamente achariam repugnante. Não de uma forma gratuita, mas com um propósito na narrativa, principalmente no terceiro ato como Pablo Villaça explicou: "
quando todos se reúnem na sala em um momento que não preciso descrever para que quem assistiu ao filme o reconheça, o sentimento que experimentamos oscila entre o puro horror e a constatação de que o que testemunhamos não poderia ser diferente". O único problema do filme foi deixar o final tão aberto que chega a parecer que não existe conclusão e o filme acaba a deriva.
19. Fragmentado
Até que enfim o M. Night Shyamalan voltou a fazer um bom filme. Fragmentado conta a história de Kevin, um homem com 23 personalidades diferentes que sequestra três jovens. Novamente, esse filme tinha tudo para dar errado, como um Deus Ex Machina ou simplesmente não se aprofundar em nenhuma personalidade. Dessa vez foi diferente, começando pelo casting. Escalar o James McAvoy foi um baita acerto, principalmente porque nenhum outro ator daquela faixa etária se dedicaria ao ponto de desenvolver uma expressão facial e voz para cada um de seus personagens (destaque pro Hedwig que é uma criança de 8 anos, pra mim era o melhor). A mesma coisa serve para a Anna Taylor-Joy devido a sua habilidade de expressar tanto sem falar nada. Mesmo assim, como era de se esperar, o filme erra, e não é pouco. Começando pela abordagem no mínimo ofensiva do Distúrbio Dissociativo de Identidade, mas esse é o foco principal do filme, então nem dá muito do que reclamar sobre isso. Passando para os flashbacks da personagem da Anna Taylor-Joy que não ajudam em quase nada, 80% dos mesmos poderiam ser retirados que não fariam diferença nenhuma. Por fim, a conclusão que consegue ser tão oscilante quanto toda a filmografia do Shyamalan, mesmo que termine com uma referência que explode a cabeça de qualquer um que reconhece a boa fase do diretor, os minutos anteriores a esse decepcionam demais, mas o James McAvoy consegue segurar a barra e por isso Fragmentado é um dos melhores filmes do ano.
18. Doentes de Amor
Essa foi de longe a melhor comédia romântica do ano. Kumail Nanjiani é um motorista de Uber e comediante de stand-up paquistanês que se apaixona por Emily, mas não conta apara a família pois, segundo a cultura de seu país, ele deve se casar com uma paquistanesa. A premissa é muito inventiva, e você fica muito surpreso quando se dá conta que aquilo foi baseado em fatos reais. O filme no geral não tem nada demais, é praticamente uma dramédia, mas o quê do filme é o segundo ato. Basicamente, ALGO acontece e isso faz com que Kumail passe um bom tempo com os pais de Emily, e isso resulta e vários dos diálogos mais engraçados do ano, como por exemplo "Então...e o 11 de Setembro...qual a sua opinião?" "Ah, totalmente contra, quer dizer, nós perdemos 19 dos nossos melhores homens (daí os pais da Emily olham pra ele perplexos). Isso era...isso era uma piada, me desculpe, o 11 de Setembro foi uma tragédia terrível" (e essa é só a primeira conversa que ele tem com o pai da Emily). Uma comédia romântica com um mise-en-scenè muito bom e muito bem escrito, o que é algo raro nos dias de hoje. O único problema de Doentes de Amor é porque ele se estende por bem mais do que deveria, toda vez que você aca que o filme vai acabar, ele tem mais uma cena, da qual poderia ser cortada ou resumida.
17. Mulheres do Século 20
Eu sei que esse filme é de 2016, mas só chegou ao Brasil em 2017 (nessa lógica eu também poderia ter incluído "Silêncio" do Scorcese e este provavelmente estaria no top 3, mas eu já escrevi tudo e não quero mudar nada). Seguindo a moda de filmes nostálgicos, Mulheres do Século 20 acompanha uma família americana atípica em 1979 composta pelo adolescente Jamie, sua mãe vivida por Annette Bening (mais uma vez esnobada pelo Academia), sua melhor amiga, vivida pela Elle Fanning, uma jovem e excêntrica fotógrafa vivida pela Greta Gerwig e um faz-tudo muito legal vivido pelo Billy Crudup. Assim como em "Doentes de Amor", esse filme não tem uma grande cena ou diálogo ou qualquer outra coisa do gênero, são as pequenas anedotas que ocorrem no dia a dia dos personagens que fazem o filme valer a pena, é um filme sobre momentos, uma série de momentos cotidianos. Não há muito do que dizer, apenas que é um ótimo filme.
16. MÃE!
Darren Aronofsky consegue pela infinitésima vez fazer o filme mais perturbador da história. Eu escreveria um comentário bem longo sobre esse filme, mas a crítica que o Tiago Belotti gravou sobre esse filme fala tudo e mais um pouco sobre o que também penso: MÃE! - Crítica com Spoilers?
15. The Last Jedi
Há algum tempo eu escrevi uma crítica sobre esse filme. Segue anexo:
The Last Jedi - Crítica
14. Viva - A Vida é Uma Festa
Este não é o melhor filme da PIXAR, mas continua sendo um filme da PIXAR. Com isso eu quero dizer que, além de ter uma história linda, o filme tem personagens fascinantes e engraçados (destaque para o Dante que tem o melhor arco de todos os personagens caninos da história do cinema), é esteticamente deslumbrante e tem uma carga dramática que faz qualquer um se emocionar. Resumindo, é imperdível. Mas mais do que isso, é muito legal ver que os roteiristas pesquisaram muito sobre a cultura mexicana para fazer essa animação, dá pra sentir isso pois eles poderiam muito bem ter brincado com a cultura mexicana como fizeram no live-action da própria Disney, "Perdido Pra Cachorro", e não se aprofundar em nada. E é tão bem feito nesse sentido que a impressão que me deu em uma cena em específico foi que eles tiveram que se basear na animação semelhante feito pelo Guillermo Del Toro, "Festa no Céu". Mas não é bom desmerecer a animação porque ainda assim o filme apresenta marcas registradas da PIXAR
13. Planeta dos Macacos - A Guerra
Como eu disse anteriormente no comentário do "Thor: Ragnarok", nesse ano tiveram vários filmes fechando trilogias que conseguem ser melhores do que os dois anteriores, e como eu disse anteriormente, "Planeta dos Macacos - A Guerra" é um deles. Esse é um filme de ação que se difere da maioria. Esse te faz pensar, e muito. O diretor aqui não está preocupado somente em conduzir uma narrativa frenética e rica (pelo menos para um filme de ação) sobre uma guerra entre símios e humanos, tanto é que em relação a guerra, existem somente duas cenas de conflito armado aqui. O diretor quer te mostrar como seria o lado psicológico da guerra, como aquele ambiente pode conduzir qualquer um a loucura, independente da espécie, principalmente um líder que necessita aguentar a pressão de perder homens em instantes mas e que, por isso, deve se reerguer em prontidão porque o inimigo não pode se achar superior, senão eles vão ganhar mais confiança. O mesmo serve para os subtextos. Matt Reeves queria ter certeza que todos entendessem, não só as referências em relação ao original de 1968, mas tudo o que ele está querendo dizer sobre a antiga sociedade escravocrata e a violência policial nos EUA. O mesmo serve para o Woody Harrelson que faz uma mistura de Trump com Roosevelt que poderia ter ficado horrível, mas está no ponto. Por falar nisso, todas as interpretações de motion capture estão incríveis. O Andy Serkis está excepcional, dá pra ver que ele amadureceu como Caesar ao longo da trilogia, e o Steve Zahn está surpreendentemente bem. Um alívio cômico nesse filme poderia matar todos os méritos que o filme já havia conquistado, mas o Bad Ape é engraçadíssimo e adiciona muito para a história. O filme apenas peca em dois tópicos: a computação gráfica, o que é irônico, mas eu estou falando mais precisamente das explosões, que parecem muito artificiais, principalmente a última explosão que tem no filme; o outro ponto é em relação a um momento em que o Woody Harrelson explica tudo o que aconteceu no filme até aquele ponto e é muito anti-climático, mais do que em "Terra Selvagem", porque pelo menos lá aquilo tem um peso menor e está na conclusão. Esse momento que eu citei se estabelece em pleno desenvolvimento.
12. Bingo - O Rei das Manhãs
Segue anexo a crítica do melhor filme brasileiro de 2017:
Bingo - Crítica
11. Logan
Eu vou dizer aquilo que todos dizem sobre Logan: "finalmente o Wolverine está fazendo o que ele deveria fazer todo filme" e quer saber, tem razão. Devido a classificação indicativa mais restrita, o filme teve uma liberdade maior para expor toda a violência gráfica digna de um filme de X-Men. Obrigado novamente, 20th Century Fox. Logan consegue de tudo. Desde criar uma atmosfera ameaçadora e opressora do deserto com a cinematografia, até uma agonia que não se vai com o design de som. Seja no figurino mais simples que martela a nova realidade dos heróis que antigamente eram praticamente invencíveis ou até na direção de arte, sempre com traços de guerra. O roteiro é cheio de acertos, mas há alguns erros imperdoáveis, como o vídeo que a enfermeira Gabriela gravou no celular. Tudo por um simples motivo: há algumas sequências nesse vídeo nas quais a enfermeira não poderia estar filmando. São planos impossíveis e que não deveriam estar lá. Sobre as interpretações, todas estão impecáveis. O Sir Patrick Stewart está fazendo um Professor Xavier irreconhecível de tão vulnerável. A Dafne Keen tem um olhar ameaçador que consegue mostrar para o público como ela consegue matar qualquer soldado que vier. Boyd Holbrook está fazendo um vilão muito interessante pois ele reconhece toda a força que o Wolverine tem, mas ele não tem medo, e quando descobrimos a razão disso, você não pisca. Deixando o melhor para o final, Hugh Jackman está fazendo a sua melhor atuação como Wolverine: melancólico, frustrado, IMPACIENTE, enferrujado, com muita dificuldade para lutar e até mesmo não se regenerar como antes. A gente sente muito por ele, por ter perdido toda aquela agilidade que ele havia nos primeiros filmes da franquia. Mesmo assim, ele dá um show nas cenas de ação e o desfecho dele como personagem é muito emocionante.
10. Dunkirk
O filme mais recente do Nolan é um daqueles filmes feitos pra ganhar Oscar (já que ele é um dos "injustiçados pela Academia"): explorando o lado dos Aliados na 2ª Guerra em uma batalha que mudou o rumo do confronto e não é muito visto nem propagado pela mídia. Na verdade não há muito o que falar, porque é um filme diferente de todos os outros do cineasta: curto. O filme tem menos de 2 horas de duração e é a história da espera de um resgate em massa dos Aliados que estão na praia francesa de Dunkirk mostrada em três pontos de vista: água, terra e ar. O jogo de câmera do Nolan aqui é muito bom, sempre intercalando entre um dos pontos de vista de uma forma muito criativa. O roteiro é simples e ousado ao mesmo tempo. Digo, enquanto que quase não há diálogos, toda a ação descrita é um vislumbre. O filme é uma lástima de mixagem de som, como em "Interstellar", mas a trilha sonora angustiante do Hans Zimmer salva.
9. O Artista do Desastre
"I did naht hit-her, it's not true! It's bullshit!I did not hit her, I did naaaaaaaaht! OHAI, Mark" Já se perguntaram sobre a origem dessa fala? Então, a melhor comédia do ano, "O Artista do Desastre", é a adaptação do livro sobre o processo de criação da melhor/pior comédia intencional da história, "The Room". Para quem não sabe, "The Room" é considerado quase que unanimemente o pior filme da história, mas há um pequeno detalhe: o filme é MUITO engraçado. Isso se deve da excêntrica mente de Tommy Wiseau, um homem rico cuja a idade, o local de nascimento e a origem de seu dinheiro é completamente desconhecida, mas seu sonho é bem claro: virar um cineasta e ator de Hollywood. Na jornada ele conhece Greg, que futuramente será seu melhor amigo. Eles se mudam juntos para Los Angeles, mas a cidade é hostil para quem está só começando, então Wiseau decide chutar o balde e escreve um roteiro para o filme no qual ele planeja produzir, dirigir e atuar. Esse projeto tornaria a ser o "The Room". Como o Tommy Wiseau virou um meme entre os cinéfilos e o filme virou cult de tão ruim que é, o que eu mais esperava era que tirassem sarro do cidadão, o que pra mim já estaria bom, mas eu não poderia estar mais errado. O longa não só tenta ao máximo não tirar sarro do Wiseau, mas ele se mostra muito inspirador, o que é irônico, mas funciona. Porque pensa assim: você quer seguir com o seu sonho, mas tudo e todos não colaboram. O que você faz? Você realiza o seu sonho criando o mesmo. MELHOR SOLUÇÃO. Essa é apenas UMA das diversas virtudes que esse filme carrega. E por falar em carregar, o James Franco carrega quase todo o filme nas costas. Não que o seu irmão, Dave Franco, também não esteja bem nesse filme, mas o James Franco como Tommy Wiseau nos dá uma das melhores atuações de 2017. Ele consegue ser caricato ao não ser caricato, como Johnny Depp em "Ed Wood". Digo, no início você vai achar que os maneirismos de Franco são caricatura do Wiseau, mas aos poucos você vê o Tommy Wiseau é uma caricatura e que tudo o que Franco apresentava aconteceu de verdade. E é só quando você percebe isso que você reconhece como o James Franco está hilário. Não só hilário, na verdade ele é capaz de capturar todas as emoções de Wiseau, inclusive a tristeza que ele sente quando ele começa a notar que o público não recebeu o filme como ele queria (porque inicialmente "The Room" não era pra ser uma comédia, era pra ser um drama pesado sobre traição), e essa cena em específico é de quebrar o coração. O meu único problema foi que eles não saciaram a minha curiosidade em contar por que raios eles decidiram emoldurar colheres em uma cena de "The Room".
8. Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
Segue anexo a crítica:
Crítica Terra Selvagem e Three Billboards Outside Ebbing, Missouri
7. Corra!
Este é o filme mais mindblowing do ano. Jordan Peele, roteirista de "Keanu" também fez um dos melhores filme de 2017. Mas esse não é um filme comum, é um filme feito para o Oscar. Com um mise-em-scenè perfeito e uma premissa que chama a atenção de qualquer um, este filme com certeza terá o seu lugar garantido nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. O longa de terror tem a seguinte premissa: um jovem casal inter-racial composto por uma branca e um afro-americano decide passar um fim de semana na casa dos pais da menina, mesmo com a jovem acalmando o namorado em relação a não haver nenhum parente racista, quando ele chega lá ele se depara uma família de racistas passivos (daqueles que falam coisas como "você pratica algum tipo de luta? Não? Ah, eu pensei nisso por causa da sua genética, você deve levar jeito pra coisa", típico apoiador do Trump). Até então nada que ele já havia experienciado, mas certa noite o jovem sai para dar uma volta quando encontra a mãe da jovem. Esta que o hipnotiza a ponto de reviver um trauma de seu passado, e esta é só uma de várias coisas perturbadoras que o filme mostra. Perturbadora também é a trilha sonora eu decide não cair no clichê da trilha orquestral crescente. Aqui até Childish Gambino é tocado, e de uma forma que eu pessoalmente achei genial. As atuações aqui são excepcionais. O Daniel Kaluuya consegue passar bem toda a desconfiança que ele tem com a fala (e é aí que mora o único problema do filme, os personagens falam sozinho a ponto de deixar rolar uma facilitação narrativa que poderia ter sido evitada), mas é quando ele não fala que ele dá o seu show. Destaque para os seus olhos quando ele afunda no "Sunken Place" dele. A Allison Williams tem o melhor arco, e ela o executa com perfeição. A Caherine Keener e o Bradley Whitford estão sensacionais fazendo aquele tipo de personagem que parece simpático, mas eles parecem ser muito estranho também. O mesmo é dito sobre o Marcus Henderson, a Betty Gabriel e o Lakeith Stanfield. Mas essas performances ótimas são devido ao roteiro que é bem mais complexo do que se imagina. Quem diria, um filme de terror com um contexto que faz uma crítica social tão clara, principalmente ao racismo.
6. A Ghost Story
Segue a crítica em anexo:
A Ghost Story - Crítica
5. Call Me By Your Name
Segue a crítica em anexo:
Call Me By Your Name - Crítica
4. Em Ritmo de Fuga
Edgar Wright é um dos melhores diretores de sua geração. Aqui ele acaba solidificando de vez essa verdade. Baby Driver é um filme de ação (ou seria musical?) sobre um piloto de fuga insano vivido pelo Ansel Egort que consegue finalmente se livrar da vida de crime, mas ainda assim é chamado para mais um trabalho crucial pelo seu chefe, vivido pelo agora repugnante Kevin Spacey. Como era de se esperar, Edgar Wright abusa das convenções do gênero, trazendo aqui novamente as suas marcas registradas: o humor visual e jump cuts de altíssima qualidade, assim como a edição e mixagem de som que casa perfeitamente com a trilha sonora (que também é perfeita), trazendo aquele quase morto processo muito bonito de mickey mousing. Sendo assim, "Em Ritmo de Fuga" é o filme com a melhor edição de 2017. O único problema que esse filme teve foi mal desenvolvimento dos personagens, o que também é de se esperar do Edgar Wright, embora não ligamos muito pra isso. Fora a introdução de personagens, o filme não dá nenhuma pista sobre a história e o passado dos personagens. Por isso que quando certo personagem tem uma reviravolta, você assusta pois não esperava que aquilo acontecesse, e nem tinha como saber. Mesmo assim, Em Ritmo de Fuga é o filme mais legal do ano. Não o melhor, mas definitivamente o mais legal.
3. Lady Bird
Segue a crítica em anexo:
Lady Bird - Crítica
2. Blade Runner 2049
Eu estava MUITO receoso sobre esse filme pois continuações desnecessárias são as coisas que mais acontecem hoje em dia (Indiana Jones quem confirme). Não só sobre esse filme, mas sobre o diretor, Dennis Villeneuve, que é um cineasta que eu sou muito fã e que, se esse filme não se saísse bem, certamente seria o fim da carreira do Villeneuve. Fico muito feliz de estar errado. Blade Runner 2049é tecnicamente impecável, principalmente a direção de fotografia do Roger Deakins (será que agora ele ganha o Oscar dessa vez? Aqui ele se saiu muito bem) que se destaca de todo o resto dos elementos narrativos por reviver o conceito do Future-noir que foi antes estabelecido pelo Blade Runner original de 1982. O mesmo serve para a trilha sonora que é uma super colaboração entre o Hanz Zimmer, o Vangelis e vários outros para restabelecer uma pegada mais futurista ainda do que do primeiro filme, e conseguem, fazendo até referências a trilha do original em um momento que emociona qualquer um que assistiu o primeiro filme. O Ryan Gosling está incrível aqui, fazendo um Blade Runner niilista e iludido, o Harrison Ford está melhor aqui do que esteve no "Star Wars Episódio VII", o que já é um motivo para assistir esse filme, a Sylvie Hoeks faz uma antagonista determinada e destemida daquelas que assusta qualquer um, a Ana de Armas faz uma das melhores personagens do cinema deste ano como uma Siri só que mil vezes melhor, devido ao fato que ela é um holograma, e mil vezes mais filosófica, devido ao fato que ela não tem um corpo físico propriamente dito e isso resulta em uma crise existencial. Por falar em filosófico, o filme abusa em relação a profundidade da narrativa, bem mais do que em "Blade Runner", assim como é bem mais imersivo. Esse filme não está em primeiro lugar desta lista por apenas um motivo: o seu ritmo que é muito lento, principalmente no início, mas se você tiver paciência, você com certeza amará este filme.
1. Projeto Flórida
Com uma hora e 55 minutos, Projeto Flórida, dirigido, escrito e editado por Sean Baker, o mesmo que fez Tangerine, é quase que uma fábula sobre um grupo de pessoas (focando em uma mãe solteira e sua filha) que moram em hotéis baratos nos arredores da Disney que funcionam como habitações ilegalmente e para não prejudicar os gerentes, eles devem sair todo mês por 24 horas completas e depois podem voltar. Neste filme não há furos de roteiro, não há falhas na direção de fotografia (inclusive, esta é muito bonita, às vezes fazendo referência à simetria presente nos filmes do Wes Anderson) nem na edição, não se identificam problemas na captação de som e TODOS os atores foram bem escalados (e a grande maioria era amadora, o que me lembrou de Cidade de Deus) pela diretora de casting "Carmen Cuba" que é famosa por ter escalado o elenco de Stranger Things. É apenas real, mas mágico. Deu pra entender? Vou tentar explicar de outra forma: tudo o que é mostrado em tela é algo que ocorre, é uma realidade, mas como essa realidade nunca foi exposta, é ao mesmo tempo algo surreal. Agora eu acho que deu pra entender. Sobre as atuações, precisamos falar sobre a Broklynn Prince. ESSA MENINA É A NOVA MERYL STREEP. Ela dá melhor interpretação de uma atriz mirim desde...sempre. Vocês não estão entendendo, ela faz a Moonee, uma menina de seis anos muito precoce que é líder de um grupo de crianças que aprontam suas traquinagens durante esse verão quando o filme se passa. A Bria Vinaite traz um tom de realismo ainda maior com o filme, principalmente nas cena em que ela está vendendo ilegalmente perfume em um lugar onde ela não deve. Ela faz a mãe amorosa da Moonee, Halley, uma jovem que claramente teve gravidez precoce e que provavelmente foi expulsa de casa devido a isso e agora está lutando para sobreviver, mas ela ainda é muito imatura para poder lidar com algumas coisas, inclusive com a criação de uma criança (não que ela não seja uma boa mãe). Willem Dafoe também está no filme como o gerente do hotel onde elas vivem, e uma curiosidade, eu sempre assimilava o Willem Dafoe com os vilões, mas aqui em uma única cena ele me fez mudar toda esse minha imagem dele. Quem assistir vai saber que cena que é essa. O fim pode parecer meio sem sal, mas não é, e eu vou explicar porque. É porque quando o filme acaba você tem ideia do que ainda está para acontecer, e quando você percebe isso, você senta e chora, porque não tem nada do que você possa fazer. Projeto Flórida é real, otimista, mas pessimista, mágico, lindo, poético, muito bem filmado e fotografado, e tem a Brooklynn Prince que dá a melhor a performance do ano. É o melhor filme de 2017.