The Cloverfield Paradox - Crítica
Depois de Death Note, a empresa de Streaming, Netflix, realizou novamente a façanha de arruinar uma das franquias mais adoradas de seu público jovem-adulto. "The Cloverfield Paradox" é uma "sequência" do segundo filme da saga Cloverfield, "Rua Cloverfield, 10", que, não só cai em todos os clichês possíveis que um longa-metragem pode se submeter, mas ainda consegue sair disparado (apesar de ter concorrentes fortes como "Passageiros" e "Independence Day 2") como a pior ficção científica dos últimos 10 anos (e talvez apenas atrás do desastre de "Battlefield Earth" de assumir o posto como a pior da história).
O filme conta a história de uma equipe de astronautas que estão há mais de dois anos em uma estação espacial em busca de colocar em funcionamento um acelerador de partículas para que possa haver energia de graça para todos da Terra, já que os oito bilhões de habitantes do mesmo (a trama se passa em um futuro não tão distante) estão passando por uma crise de recursos. Porém, eles falham constantemente em tentar acionar o aparelho e quando conseguem, abrem uma fenda no espaço-tempo onde eles são expelidos para outra dimensão e todo o multiverso se altera.
É quase que inacreditável a falta de capacidade que o produtor, J. J. Abrams, teve de, não só escalar os profissionais mais preguiçosos da indústria, mas também comprar o roteiro mais problemático de todos os tempos (parece que alguém conseguiu bater o feito de "Esquadrão Suicida"). Para se ter ideia, em termos visuais, que é algo que eu costumo apontar os pontos positivos, aqui até o grande monstro Cloverfield (que aparece somente nos TRÊS SEGUNDOS FINAIS do longa) está completamente deformado. A impressão que dá é que os designers de computação gráfica copiaram os Kaijus de "O Círculo de Fogo" e só adicionaram os pulmões no pescoço, que é a característica mais marcante do monstro.
E esse é só o começo. Aos poucos, o filme vai ficando cada vez mais pavoroso, até chegar no ponto em que a bandeira do Brasil que aparece no macacão do astronauta brasileiro (que é interpretado por um ator porto-riquenho que força DEMAIS o sotaque) aparece de ponta-cabeça e o teclado QWERTY do painel da nave aparece invertido. Por fim, a fotografia é incrivelmente 100% estourada, abusando excessivamente de elementos como planos holandeses, contra plongées e câmera tremida até o momento em que o filme se torna nauseante (não que se diferencie muito do primeiro filme da franquia, mas naquele caso tinha toda uma razão para aquilo).
Narrativamente falando, o filme é uma bagunça. Os diálogos extrapolam na auto explicação mais do que em "Interestelar" do Nolan, há um personagem que deveria funcionar como alívio cômico, mas apenas piora a situação e levam a lógica dentro dos conflitos pelos ares. Elementos sobrenaturais são simplesmente jogados na sua frente, estes dos quais nunca mais serão nem mencionados por qualquer personagem, já que estes nem sequer presenciam estes acontecimentos que deveriam ser, no mínimo, relevantes para a história. Há uma subtrama fraquíssima e dispensável que tem como base um caso de vida ou morte e é resolvido com uma mensagem de texto, e mesmo assim essa subtrama é o fragmento de qualidade menos diminuta de todo o filme. Por fim, o desfecho não só faz o espectador perder todas as esperanças que ele tinha na franquia, mas também deixa em aberto questões que nem sequer deveriam ter sido feitas pela simples razão de serem incoerentes.
Quem concorda que boa parte das falhas do filme é por conta desse braço, respira
O casting é provavelmente a parte mais subestimada de uma produção, e aqui podemos ver que às vezes o diretor de casting pode cometer erros terríveis. Com um elenco de peso, contendo nomes como Daniel Brühl de "Adeus, Lênin", "Rush - O Limite da Emoção" e "A Dama Dourada" e a estrela asiática Ziyi Zhang que já estrelou "Memórias de Uma Gueixa" e "O Tigre e o Dragão", porém mal escalado, a indiferença em relação aos personagens é fatal para o entrosamento entre o mesmo, chegando ao nível de atores explodirem fora de hora, falarem um por cima do outro como nos primeiros ensaios de uma peça infantil, ou na simples falta de comprometimento que os atores têm porque, assim como o público, já desistiram do filme há muito tempo. Logo, os personagens que aparecem por menos tempo são, apesar de mal planejados, os mais bem interpretados, como é o caso do vazio capitão da estação espacial vivido por David Oyelowo de "Selma".
Por fim, eu só gostaria de questionar por que decidiram inserir esse filme dentro do universo de Cloverfield (que nem está dentro do universo de Cloverfield, se for parar pra pensar) se não há praticamente nada que se refere aos dois filmes anteriores nele. Esse filme tem muito mais cara de "Prometheus" do que de Cloverfield. Melhor seria se aproveitassem essa péssima fase da franquia de Alien para soltar esse filme. Pois, dessa maneira, economizava muita dor de cabeça dos fãs da saga do monstro gigante (e da Netflix que está decepcionando cada vez mais após uma boa fase como produtora) que apenas queriam um desfecho decente para a personagem da Mary Elizabeth Winstead no último filme.
The Cloverfield Paradox não só traz desonra ao nome de sua franquia de qualidade técnica questionável (como não esquecer a câmera na mão do primeiro filme?), porém muito bem feita, que é possivelmente a melhor da história em questão de marketing sendo usado para enriquecer a trama, mas também tenta inserir muito coisa em tão pouco tempo e acaba não dizendo absolutamente nada devido à péssimos tratamentos de roteiro. Tudo isso, se adicionado aos clichês mais tóxicos da indústria, como "jumpscares", narrações desnecessárias e o antagonista que só revela a verdadeira face nos 45 do segundo tempo, faz do filme uma das piores ficções científicas já feitas, além de trazer descrença para aqueles que puderam deduzir que haverá uma possível continuação. O que tenta salvar, mas não consegue tirar o filme da fossa é a campanha de marketing feita no último domingo durante o intervalo do Super Bowl e o elenco que, apesar de mal dirigido, tem experiência o suficiente para evitar que o filme se torne ainda mais desastroso. 1,5/10.