sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Los Angeles: Cidade Proibida - Vacilão NÃO morre cedo

Los Angeles: Cidade Proibida - Crítica Retrô

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   "Los Angeles: Cidade Proibida", estrelado por Russell Crowe, Kim Bassinger, Guy Pearce e Kevin Spacey, é um thriller policial de 1997 sobre a corrupção dentro do departamento policial de Los Angeles e o seu envolvimento com o crime organizado.
   Com todos os elementos de um neo-noir, esse filme não busca, em momento algum, achar um paralelo com a realidade, e isto é o que faz o longa ser tão charmoso. Digo, é de senso comum que há corrupção dentro da polícia de metrópoles (seja na época em que o filme se passa ou atualmente). Mas há algo naquele roteiro (compassado, porém com um ritmo bacana) dizia que tudo nele era um exagero, como se fosse caricato. Não caricato à la Tim Burton, mas algo beirando a obra do Tarantino (dispensa apresentações), do tipo que o realizador quer que você tenha consciência de que o que você está assistindo é uma obra fictícia.
   E isso é explorado de diversas maneiras. Seja com a direção de fotografia que sempre busca enaltecer personagens com contra plongées (principalmente Spacey, quem tem uma baixa estatura), na maquiagem de um corpo em decomposição que parece estar mais decomposto do que deveria, em função do período de tempo relativamente curto para chegar naquele estado; na mixagem de som dos tiros de armas que são claramente mais altos do que na maioria dos filmes, e até nos diálogos incrivelmente inteligentes escritos pelo notório Brian Helgeland que podem ser considerados tudo menos desinteressantes.
   Passando para a parte das atuações, as performances também expressam algo sobre o que eu falei anteriormente. Cada personagem poderia render um filme solo porque os arcos de cada um são tão bem construídos que você acaba querendo cada vez mais, mesmo o longa tendo mais de duas horas de duração. O Russell Crowe, por exemplo, faz o estereótipo do "bad cop": pavio curto, ego inflado, violento e objetivo. Aliás, "estereótipo" é a palavra-chave para cada personagem, o do Guy Pearce (Lenny de "Memento") nem se fala: é uma versão policial do Michael Corleone (entendedores entenderão, não quero dar detalhes para não relevar spoilers). Outros exemplos são a Kim Bassinger, que faz uma mulher venenosa e manipuladora de maneira tão magistral que lhe rendeu (justamente) um prêmio da Academia, e o Danny DeVito que, apesar de 5 anos após seu papel do "Pinguim" do Batman Returns, ainda carrega traços do vilão e utiliza desses recursos de uma maneira muito bem-humorada.
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   Outra virtude do filme é que ele sabe aonde parar. Quer dizer, ele tinha a opção de acabar momentos antes, mas ele escolhe continuar e quando ele finalmente termina você fica contente porque se acabasse na cena anterior o filme não seria tão grandioso assim.
   "Los Angeles: Cidade Proibida" captura sua atenção do começo ao fim, entretém como poucas obras do audiovisual e contém personagens carismáticos. É caricato mas faz bom uso dessa característica para torná-lo original o bastante para que virasse, assim, uma obra-prima dentro de um gênero tão batido quanto o neo-noir. Nota 10.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A importância dos reflexos em "Uma Mulher Fantástica"

Reflexos em "Uma Mulher Fantástica"

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   O longa chileno indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2017, "Uma Mulher Fantástica" aborda de maneira incrível um tema não muito comentado na sétima arte. O filme conta a jornada homérica de Marina, uma transsexual que é privada do luto de seu companheiro após a morte do mesmo.
   Devido à um mise-en-scène impecável e narrativamente perfeito, "Uma Mulher Fantástica" é um desses filmes que ganha inúmeros elogios sem precisar mostrar muito. Afinal, com apenas 104 minutos, o roteiro se desenvolve com tanta fluidez que até algumas cenas avulsas, potenciais à recheio de linguiça, tem seu valor para a trama.
   Mas o que realmente me chamou atenção, e o que eu não vi quase ninguém comentando, é o frequente uso de reflexos no filme. Há pelo menos seis planos em que o reflexo, seja de algum espelho ou de uma simples vitrine (sem apelar para o clichê do rosto do personagem sendo refletido em alguma vestimenta, lógico), representou algo incrivelmente profundo.
   Boa parte desses planos são bastante simples e não apresenta um significado tão implícito assim. Muitos deles só querem mostrar como a protagonista de vez em quando não se vê como ela gostaria de ser vista, como uma dúvida que ela mesma tem do que ela é. Ou seja, apesar da temática do filme ser algo que deveria elevar certa representatividade que não se vê no cinema, o próprio filme se aproxima do público que se enxergaria mais na pele da protagonista de forma um tanto quanto pessimista, mas é sagaz o bastante para abrir os olhos do público geral sobre o que a opressão pode fazer até mesmo a pessoa mais confiante.
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   Logo, estes planos também funcionam quase como um trocadilho com a "reflexão" que o filme deseja incentivar no público. Mas estes não são nada se não for levado em conta o grande final. Em outras palavras, a grande maioria desses planos é apenas uma preparação para algo maior no terceiro ato.
   É levantada ao longo do filme a dúvida se a protagonista é operada ou não, mas isso realmente não importa. E o diretor/roteirista Sebastián Lelio teve uma ideia brilhante para representar isso. Um dos últimos planos do filme mostra a protagonista se vendo em um espelho pousado em sua virilha, o que claramente diz que o importante para a personagem é a sua visão, a visão de que ela é de fato uma mulher e que é isso o que ela quer sentir (a mesma metáfora é feito um pouco antes de uma forma mais explícita com a música da Aretha Franklin "You Make Me Feel Like an Actual Woman" que toca enquanto ela dirige), criando um contraste que de início chega a parecer esquisito com o que eu falei pouco tempo atrás. Por isso eu achei tão importante ressaltar o fato de que este último plano, sendo o mais significativo, que eu citei estar no ato final.
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   Como o filme segue a clássica narrativa da jornada do herói, este contraste deveria ter sido mais visível pelos espectadores, o que eu, particularmente, não notei. Devido a isso, eu achei tão importante compartilhar a minha percepção com relação ao elemento do reflexo no filme chileno, pois talvez isso possa enriquecer a sua experiência em assistir "Uma Mulher Fantástica".

sábado, 17 de fevereiro de 2018

"Pantera Negra" é o melhor filme do MCU?

Pantera Negra - Crítica

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   T'Challa, o novo rei da nação africana Wakanda (que se mascara como um país de terceiro mundo em prol do desenvolvimento de tecnologias vindas do metal "Vibranium") e uma espécie de guerreiro com habilidades sobre-humanas, das quais ele utiliza para praticar a justiça, se vê lutando contra seus demônios internos e com as consequências que são frutos das decisões equivocadas deixadas pelo seu pai. Este é o enredo do mais recente filme do universo cinematográfico da Marvel, "Pantera Negra", dirigido e co-escrito pelo ótimo Ryan Coogler que, apesar de ter apenas três filmes na carreira, tem certamente o seu lugar garantido no Hall da Fama dos cineastas pós-2010 ao lado de futuras lendas como Damien Chazelle e Xavier Dolan após a recepção que este longa está tendo.
   Mesmo com 98% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo reconhecido pela plataforma como o terceiro melhor filme da história (apenas atrás de "O Mágico de Oz" e "Cidadão Kane"), o público não deve assistir o filme com expectativas tão altas (muito menos em 3D, não vale a pena gastar mais por um recurso que não adicionará em nada). Isso porque, mesmo sendo de fato um filme incrível, ele segue uma linha autoral o bastante para se derivar do resto do universo, o que com certeza não agradará a todos. Mas vamos por partes.
   Visualmente, o filme não é impecável. Nas últimas sequências de ação, a computação gráfica é tão perceptível que me fez lembrar da galhofa que foram os gráficos de "Mulher-Gato". Fora isso, o design de produção, o figurino e a trilha sonora estão de parabéns, já que mixa muito bem os traços tribalistas africanos com o tom futurista mais que original que o filme carrega, trazendo à tona uma cultura não muito difundida da "African Science Fiction" onde, aqui, é muito bem explorada também em termos narrativos.
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   Aliás, o roteiro do filme é mais um elemento que deve ser elogiado. Além de ter uma estrutura narrativa nem um pouco cansativa (o filme tem duas horas e vinte minutos e possui um ritmo acelerado o bastante para o público não se queixar da duração), o roteiro dosa, diferente de "Thor: Ragnarok", por exemplo, seu humor (ainda assim, todas as piadas funcionam). Isto não apenas cria um tom de seriedade para o filme, fazendo-o aproximar mais do Batman da trilogia do Nolan do que ao Homem de Ferro, mas também levanta questões  sociais que têm uma alta carga de relevância (principalmente após a repercussão da fala do Trump sobre "shit-hole nations" e o seu polêmico muro, o que faz com que o filme seja, junto de 'Mulher Maravilha", os dois melhores filmes de super-heróis neste aspecto) fazendo o público refletir no que eles estão assistindo, sendo que estas são projetadas de maneira espetacular nos diálogos do antagonista vivido por Michael B. Jordan.
   Isso faz com que entremos no quesito das performances. O que há de mágico nesse filme (que já havia nos outros filmes do universo compartilhado mas que aqui eu vejo que este é melhor desenvolvido) é omodo que são exploradas as imperfeições dos personagens. Chadwick Boseman, por exemplo, faz um T'Challa que não consegue lidar com toda a pressão que é posta sobre ele já que a nação precisa urgentemente de um rei pois até mesmo seu pai se mostrava um monarca ausente. Michael B. Jordan também está espetacular. Odie Henderson, quem escreveu a crítica do longa no RogerEbert.com falou que "a dupla formada entre Coogler e Jordan será reconhecida posteriormente tanto quanto a dupla Scorcese-De Niro é reconhecida hoje", e ele não está errado. É praticamente palpável a facilidade que foi dirigir Jordan no projeto, considerando que o fruto da relação foi a melhor atuação de um vilão da Marvel, passando sem esforço nenhum o Loki de Tom Hiddleston. Isso porque, além de ser notada as semelhanças entre Killmonger, personagem de Jordan, com o cruel "Zé Pequeno" de "Cidade de Deus", as motivações do anti-herói ficam claras desde o primeiro ato, tornando-o não só carismático mas também identificável. Fora estes, também merecem aplausos às performances de Daniel Kaluuya, que possui um arco muito interessante; Andy Serkis, que faz um homem detestável porém engraçado, mostrando que não é preciso nenhuma máscara digital criada a partir de programas e sensores brancos colados à um traje de chroma key para vê-lo fazendo uma boa atuação; Danai Gurira, quem faz a mulher mais badass do cinema e ponto final; Lupita Nyong'o, fazendo uma atuação incrível como sempre; e Letitia Wright e Winston Duke, ambos fazendo personagens completamente distintos entre si mas que trazem o humor no filme de forma excepcional.
   Sendo uma aula de representatividade e de como produzir um blockbuster sem cair nos clichês do "modo de produção Michael Bay", "Pantera Negra" chega a empatar com o primeiro "Homem de Ferro" como o melhor filme filme do universo Marvel em termos técnicos e narrativos, mas é de longe o mais importante. Nota 9,5/10.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

The 15:17 to Paris - Crítica

The 15:17 to Paris - Clint Eastwood está velho demais para fazer filmes

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   Os últimos filmes de Eastwood vieram trazendo uma temática muito específica: "heróis americanos dos últimos 10 anos". Aqui não é diferente. Assim como em "American Sniper" e "Sully", seu filme mais recente, "The 15:17 to Paris", conta a história verídica de cidadãos americanos que salvaram muitas vidas. Mais precisamente, o filme retrata a história dos três jovens, Alek Skarlatos, Spencer Stone e Anthony Sadler, que faziam um mochilão na Europa quando, no trem em que eles viajavam que vinha de Amsterdã e ia para Paris, evitaram um atentado terrorista e foram reconhecidos internacionalmente.
   Eu, particularmente, não gosto muito desses filmes do Eastwood que tem pretensão de fazer propaganda de como o governo norte-americano forma cidadãos exemplares (de "Sully" eu até gostei, mas odiei "American Sniper"). Eu nunca tive algo contra eles tecnicamente falando, ambos são muito bem dirigidos e executados. É uma questão de gosto mesmo. Porém, neste mais recente sobre o atentado no trem, ele não só é extremamente monótono, mas também é mal interpretado e podia muito bem ser condensado em um curta de 20 minutos apenas com as partes que nós, o público, realmente importaríamos. Algo que o diretor do curta indicado ao Oscar "DeKalb Elementary", que tem uma temática igualmente pesada, optou e acertou. Mas vamos por partes.
   O roteiro é uma bagunça. Apesar de ter seus três atos muito bem separados, eles são abruptamente interrompidos em certos momentos apenas para mostrar flashes do que está para acontecer e que futuramente será recapitulado com EXATAMENTE O MESMO TAKE. Seria legal se estas interrupções fossem propositalmente colocadas naqueles momentos para fazer um paralelo com a vida dos protagonistas, mas a impressão que dá é que a roteirista, Dorothy Blyskal (que não tem um currículo muito memorável, diga-se de passagem), os colocou na narrativa de forma completamente aleatória. Para piorar, parece é visível algo bem maior do que uma "referência" a outros filmes, como "Nascido Para Matar", o recente "Lady Bird" (aliás, aqui está a crítica do mesmo para quem não leu ainda: Crítica de Lady Bird) no primeiro ato, e até mesmo o besteirol "Eurotrip". Aliás, eu fiquei muito desconfortável com o segundo ato que já se passa na Europa. Isso porque ele é completamente parado e não tem absolutamente NADA a dizer. São apenas algumas sequências (muitas delas incrivelmente superficiais) dos protagonistas passeando pelas grandes cidades europeias.
   Também, diferente dos outros filmes do Eastwood com a mesma pegada, aqui a fotografia e a edição não parecem dizer nada. O mesmo pode-se dizer com o som, que não são nada menos do que toscos de tão genéricos (destaque pro clique da câmera do celular), assim como a trilha sonora. Por fim, se tem o design de arte e os figurinos. Ambos não são ruins, mas também não tem nada demais.
   Por fim, vem as atuações. Eastwood, fez a ousada decisão de escalar o pessoal que viveu tudo aquilo para o elenco principal. O problema é que não são todos os cineastas que conseguem trabalhar desta forma. Por exemplo, em "O Gabriel e a Montanha" (aliás, aqui está a crítica para quem ainda não leu: O Gabriel e a Montanha - Crítica) o diretor, Fellipe Gamarano Barbosa escolheu trabalhar com as pessoas que estiveram em contato com Gabriel em suas últimas semanas de vida, e conseguiu suceder com essa estratégia. Isso porque ele resolveu seguir com um segmento mais docudramático apenas com estas pessoas. O problema de Eastwood foi que ele quis ir ainda mais a fundo escolhendo os três jovens para viverem eles mesmos. O problema é que eles certamente nunca atuaram, e isso compromete o longa ao ponto de em todo fim de cena as vozes dos atores sumirem gradualmente pois eles sabiam que a cena estava acabando, como em uma peça infantil quando a criança está nervosa e quer logo acabar com a sua participação, então faz EXATAMENTE a mesma coisa. O que fica ainda mais visível no primeiro ato, onde mostram, os personagens ainda crianças.
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   Concluindo, este filme realmente não tinha como dar certo. Com um orçamento infinitamente menor comparado ao que Eastwood costuma trabalhar, ele nunca se saiu pior (até onde eu sei). Primeiramente, comprando um roteiro vazio, preguiçoso e que ligeiramente banaliza a imagem heroica dos jovens (notem que, apesar de eu ter concordado com a maioria da crítica em relação ao quanto este filme é podre, em momento nenhum eu falei algo contra os americanos senão em relação às performances). Depois, escalando pessoas não qualificadas para os papéis, e por fim não conseguindo lidar com tudo isso pois possivelmente já sabia que aquilo não renderia frutos e que ficaria bem melhor fazer o material em forma de curta-metragem já que, querendo ou não, não havia muita história para ser contada. 2/10.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Maze Runner 3 - Crítica

Maze Runner 3 - Crítica


   Há 4 anos e alguns meses o segundo filme da saga Jogo Vorazes, "Em Chamas", entrou em cartaz. Apesar de uma recepção muito positiva em relação ao roteiro (que, se avaliado apenas como uma sequência e não como uma adaptação, é muito bom em relação ao primeiro, por exemplo), às atuações e aos efeitos visuais, eu não achei o filme tão bom quanto falavam. Isso porque muita coisa que é fundamental no livro ficou de fora do filme e muito coisa que está tanto no livro quanto no filme podia ter ficado de fora do mesmo. Este sentimento retorna com o dois últimos filmes da trilogia "Maze Runner", sendo o segundo uma decepção pois diverge de forma execrável do enredo dos livros e o último apenas uma extensão razoavelmente bem dirigida desta divergência da história.
   Após decidirem resgatar um membro do grupo da empresa CRUEL e falharem, os fugitivos do labirinto vão atrás da "Última Cidade" para buscá-lo e conseguirem viver em paz finalmente. Esta premissa até que funcionaria para uma trilogia de filmes que não se derivam de uma série de livros (o que é raríssimo hoje em dia, o exemplo mais recente que eu consigo lembrar agora é a trilogia do Toy Story que se encerrou em 2009), mas para a adaptação do terceiro livro da série escrita pelo James Dashner não só é inviável mas também absurda, cujo motivo eu já havia citado. Mesmo assim, o filme possui pontos fortes.
   A criação de mundo é simplesmente excepcional, conseguindo criar um equilíbrio entre o future-noir, que o diretor de fotografia certamente se inspirou no universo de Blade Runner, e a atmosfera distópica presente nos dois filmes antecessores. Entretanto, o design de arte interno é minimalista comparado à epicidade do exterior, o que poderia ser justificado em produções de baixo orçamento, como é o caso de praticamente toda a filmografia do Yorgos Lanthimos, mas que aqui não se explica, considerando que o longa teve um orçamento de 62 milhões de dólares (e que com certeza metade do mesmo se destinou à pós-produção que é indiscutivelmente a melhor parte do filme).
   O roteiro, se é horrível como adaptação, não chega nem perto de ser razoável. Apesar de ter um primeiro ato relevante e o desenvolvimento até que não muito instável, a conclusão possui várias partes que deixam o espectador na beira da poltrona, mas a grande maioria desses momentos acabam sendo desperdiçados com reviravoltas desnecessárias, deixando subtramas confusas e um tom exagerado de sentimentalismo que chega a beirar o patético, deixando NO MÍNIMO 10 minutos sobrando e que poderiam muito bem ter sido cortados pois não apresentam absolutamente nada senão clichês, como o discurso sobre a glória em recomeçar.

   As atuações são pelo menos melhores do que nos filmes anteriores. O Dylan O'Brien tem bem mais personalidade e infinitas camadas, fazendo com que seu personagem seja mais bem trabalhado em questões narrativas. A Kaya Scodelario faz, até onde eu sei, a melhor performance da sua carreira. Ainda assim, não é grande coisa, já que o roteiro não a ajuda nem um pouco, tendo apenas um diálogo digno de aplausos e um momento onde ela realmente convence quem ela interpreta (apesar de ser um momento muito desnecessário). O Thomas Brodie-Sangster está bem, ele consegue passar a ideia que ele e Thomas possuem um vínculo afetivo de dar inveja e tem o seu momento de brilhar. A Rosa Salazar interpreta uma personagem MUITO rasa, chegando a não evoluir nada de um filme para o outro, mas ela pelo menos possui certa relevância narrativa. O Ki Hong Lee dá o seu melhor, assim como o Will Pouter, e digo isso pois ambos que não possuem tanto tempo de tela quanto mereciam e mesmo assim fazem um ótimo trabalho. A Patricia Clarkson está inútil (LITERALMENTE, tanto é que tem uma cena cujo objetivo dela é LITERALMENTE estar imóvel, como que se fizesse parte da decoração do ambiente onde a cena se passa) e o Aidan Gillen, calculista e manipulador.
   "Maze Runner: A Cura Mortal" tem as suas virtudes, principalmente no campo visual onde até a computação gráfica passou despercebida, mas muitos defeitos em relação ao roteiro, chegando a ser um elogio dizer que o mesmo possui um enredo medíocre. Isso sem contar de algumas atuações superficiais e possuir um desfecho que até o espectador que viu todos os filmes vai se sentir perdido pois deixa muitas pontas soltas ao mesmo tempo que gasta muito tempo inserindo material vazio. Por fim, o excesso de explosões é irritante já que, não lembra a fama do modo de produção do Michael Bay, tem como objetivo representar a anarquia, quem sabe, o ludismo, o que faz destes fragmentos puramente gráficos uma tentativa de referenciar à "Clube da Luta" mas que não tem absolutamente nenhuma importância. Ainda assim, o filme não é o pior da saga. 5,5/10.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Trama Fantasma - Definindo "IMPECÁVEL"

Trama Fantasma - Crítica


   Paul Thomas Anderson é um dos melhores cineastas dessa antiga/nova geração, que também convém inserir Aronofsky, os irmãos Coen, Tarantino e até mesmo o (agora não tão amado) Nolan, justamente por ele ter este poder de transformar as vidas mais desinteressantes possíveis, como a de um "homem do petróleo" do século XIX, um ganhador da loteria solitário ou de um seguidor de fanatismo religioso, em histórias que ninguém poderia sequer imaginar o quão interessantes elas poderiam ser. Seu novo filme (que até outubro do ano passado se chamava simplesmente "projeto não nomeado de Paul Thomas Anderson), "Trama Fantasma" é mais um destes estudos de personagem magníficos.
   O longa conta a história de um costureiro renomado chamado Reynolds Woodcock que é cheio de TOCs e não possui as melhores habilidades sociais  em uma Londres pós-guerra. Mas encontra inspiração em uma jovem garçonete chamada Alma que se torna sua musa e amante e isso acaba influenciando ambas as vidas de forma radical.
   Este é um filme sobre detalhes. Nada que é disposto em cena está por acaso, de graça. Tudo tem um propósito, nem que seja nos mínimos detalhes. Não é a toa que TODOS estão elogiando seu design de arte, sua fotografia e, ainda mais importante para o enredo, seu figurino.
   O que foi dito em relação a detalhes pode servir também para falar sobre desconforto. O filme possui de longe uma das melhores captações de som de todos os tempos. Isso porque o PTA realmente quis que o espectador visse o filme no ponto de vista de Woodcock (com relação às suas estranhezas e defeitos) e no ponto de vista de Alma (com relação à sua paciência e frustração) ao mesmo tempo. Logo, no caso de Woodcock ele preferiu utilizar o elemento do som para introduzir o personagem em uma cena fantástica que ditará o tom de praticamente dois terços do filme. Esta cena se passa no café da manhã na casa do personagem e tudo está em silêncio quando de repente Alma começa com ruídos ensurdecedores de talheres batendo em pratos ou em torradas, o que deixa Woodcock furioso. É aí que começa a aparecer aquela frase que se compõe de puro pleonasmo: "Daniel Day Lewis atuando bem".
   Alma, por outro lado, é o total oposto de Woodcock, e talvez seja isso o que tanto chamou sua atenção para se inspirar nela (aliás, se considerado este ponto de vista, o filme não passa de um retrato, não muito realista, de antítese). Isto é, tirando o fato de ambos não possuírem as melhores habilidades sociais e por isso terem de ficar um bom tempo se encarando até um deles encontrar algum assunto, um se difere completamente do outro e isso acaba traçando conflitos que envolvem a frustração e o estresse no qual Alma se submete somente para agradar Woodcock quando na verdade ele só quer ficar sozinho pois está em processo criativo, e isso fragiliza cada vez mais a relação dos dois.
   Entretanto, para nunca deixar a peteca cair (estou falando da capacidade que PTA tem de segurar nossa atenção), ele usa o velho truque de ser completamente imprevisível como veio fazendo em seus últimos dois filmes, "O Mestre" e "Vício Inerente", o que faz com que quando você começa cansar do que está em tela, ocorre algo que muda a direção do enredo e nos surpreende mais uma vez. Um ótimo exemplo são os vinte minutos finais, mas eu simplesmente não vou expô-los por questão de bom senso (apenas destacar o ótimo uso da imagem e do som para representar o sentimento de raiva).

   Assim como o som, a trilha sonora tem um papel fundamental. Com uma mesma melodia 90% não diegética e vívida tocada na clave de sol do piano, que pode ir de melancólico à frenético em questão de segundos, o compositor Johnny Greenwood conseguiu muito bem traduzir a atmosfera do filme da forma mais simples possível, coisa que eu admiro e que raramente vejo (fora ele só consigo lembrar do Gustavo Santaolalla e de ALGUNS trabalhos do John Williams), ou melhor, ouço.
   Sobre as atuações não há muito o que falar. Como já mencionado antes, Daniel Day Lewis está incrível, ele some dentro do personagem. Mas dizer isso é como dizer que água é molhada. Vicky Krieps é uma das melhores surpresas do ano fazendo, não só um ótimo trabalho com o corpo (muito incrível como ela vai mudando aos poucos sua postura e sua linguagem corporal para se adequar aos modos do companheiro), mas também impondo sua presença com diálogos que se tornam mais envolventes com ela. Lesley Manville faz a personificação do discreto. Com isso quero dizer que ela faz de tudo para não aparecer, e consegue. Tanto é que ela tem mais tempo de tela do que se imagina, o que faz de sua interpretação uma das mais únicas dos últimos anos.
   "Trama Fantasma" é puro, ligeiramente divertido, esteticamente completo, utiliza todos os elementos possíveis para criar uma atmosfera atípica sem apelar para o horror ou para o caricato, é cativante em todos os sentidos e apresenta uma das premissas mais esquisitas já escritas, transformando-a em um rico retrato sobre o que pode ocorrer quando trabalho e vida pessoal acabam se fundindo. É impecável. Nota 10.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

The Cloverfield Paradox - Crítica

The Cloverfield Paradox - Crítica


   Depois de Death Note, a empresa de Streaming, Netflix, realizou novamente a façanha de arruinar uma das franquias mais adoradas de seu público jovem-adulto. "The Cloverfield Paradox" é uma "sequência" do segundo filme da saga Cloverfield, "Rua Cloverfield, 10", que, não só cai em todos os clichês possíveis que um longa-metragem pode se submeter, mas ainda consegue sair disparado (apesar de ter concorrentes fortes como "Passageiros" e "Independence Day 2") como a pior ficção científica dos últimos 10 anos (e talvez apenas atrás do desastre de "Battlefield Earth" de assumir o posto como a pior da história).
   O filme conta a história de uma equipe de astronautas que estão há mais de dois anos em uma estação espacial em busca de colocar em funcionamento um acelerador de partículas para que possa haver energia de graça para todos da Terra, já que os oito bilhões de habitantes do mesmo (a trama se passa em um futuro não tão distante) estão passando por uma crise de recursos. Porém, eles falham constantemente em tentar acionar o aparelho e quando conseguem, abrem uma fenda no espaço-tempo onde eles são expelidos para outra dimensão e todo o multiverso se altera.
   É quase que inacreditável a falta de capacidade que o produtor, J. J. Abrams, teve de, não só escalar os profissionais mais preguiçosos da indústria, mas também comprar o roteiro mais problemático de todos os tempos (parece que alguém conseguiu bater o feito de "Esquadrão Suicida"). Para se ter ideia, em termos visuais, que é algo que eu costumo apontar os pontos positivos, aqui até o grande monstro Cloverfield (que aparece somente nos TRÊS SEGUNDOS FINAIS do longa) está completamente deformado. A impressão que dá é que os designers de computação gráfica copiaram os Kaijus de "O Círculo de Fogo" e só adicionaram os pulmões no pescoço, que é a característica mais marcante do monstro.
  E esse é só o começo. Aos poucos, o filme vai ficando cada vez mais pavoroso, até chegar no ponto em que a bandeira do Brasil que aparece no macacão do astronauta brasileiro (que é interpretado por um ator porto-riquenho que força DEMAIS o sotaque) aparece de ponta-cabeça e o teclado QWERTY do painel da nave aparece invertido. Por fim, a fotografia é incrivelmente 100% estourada, abusando excessivamente de elementos como planos holandeses, contra plongées e câmera tremida até o momento em que o filme se torna nauseante (não que se diferencie muito do primeiro filme da franquia, mas naquele caso tinha toda uma razão para aquilo).
   Narrativamente falando, o filme é uma bagunça. Os diálogos extrapolam na auto explicação mais do que em "Interestelar" do Nolan, há um personagem que deveria funcionar como alívio cômico, mas apenas piora a situação e levam a lógica dentro dos conflitos pelos ares. Elementos sobrenaturais são simplesmente jogados na sua frente, estes dos quais nunca mais serão nem mencionados por qualquer personagem, já que estes nem sequer presenciam estes acontecimentos que deveriam ser, no mínimo, relevantes para a história. Há uma subtrama fraquíssima e dispensável que tem como base um caso de vida ou morte e é resolvido com uma mensagem de texto, e mesmo assim essa subtrama é o fragmento de qualidade menos diminuta de todo o filme. Por fim, o desfecho não só faz o espectador perder todas as esperanças que ele tinha na franquia, mas também deixa em aberto questões que nem sequer deveriam ter sido feitas pela simples razão de serem incoerentes.
Quem concorda que boa parte das falhas do filme é por conta desse braço, respira
   O casting é provavelmente a parte mais subestimada de uma produção, e aqui podemos ver que às vezes o diretor de casting pode cometer erros terríveis. Com um elenco de peso, contendo nomes como Daniel Brühl de "Adeus, Lênin", "Rush - O Limite da Emoção" e "A Dama Dourada" e a estrela asiática Ziyi Zhang que já estrelou "Memórias de Uma Gueixa" e "O Tigre e o Dragão", porém mal escalado, a indiferença em relação aos personagens é fatal para o entrosamento entre o mesmo, chegando ao nível de atores explodirem fora de hora, falarem um por cima do outro como nos primeiros ensaios de uma peça infantil, ou na simples falta de comprometimento que os atores têm porque, assim como o público, já desistiram do filme há muito tempo. Logo, os personagens que aparecem por menos tempo são, apesar de mal planejados, os mais bem interpretados, como é o caso do vazio capitão da estação espacial vivido por David Oyelowo de "Selma".
   Por fim, eu só gostaria de questionar por que decidiram inserir esse filme dentro do universo de Cloverfield (que nem está dentro do universo de Cloverfield, se for parar pra pensar) se não há praticamente nada que se refere aos dois filmes anteriores nele. Esse filme tem muito mais cara de "Prometheus" do que de Cloverfield. Melhor seria se aproveitassem essa péssima fase da franquia de Alien para soltar esse filme. Pois, dessa maneira, economizava muita dor de cabeça dos fãs da saga do monstro gigante (e da Netflix que está decepcionando cada vez mais após uma boa fase como produtora) que apenas queriam um desfecho decente para a personagem da Mary Elizabeth Winstead no último filme.
   The Cloverfield Paradox não só traz desonra ao nome de sua franquia de qualidade técnica questionável (como não esquecer a câmera na mão do primeiro filme?), porém muito bem feita, que é possivelmente a melhor da história em questão de marketing sendo usado para enriquecer a trama, mas também tenta inserir muito coisa em tão pouco tempo e acaba não dizendo absolutamente nada devido à péssimos tratamentos de roteiro. Tudo isso, se adicionado aos clichês mais tóxicos da indústria, como "jumpscares", narrações desnecessárias e o antagonista que só revela a verdadeira face nos 45 do segundo tempo, faz do filme uma das piores ficções científicas já feitas, além de trazer descrença para aqueles que puderam deduzir que haverá uma possível continuação. O que tenta salvar, mas não consegue tirar o filme da fossa é a campanha de marketing feita no último domingo durante o intervalo do Super Bowl e o elenco que, apesar de mal dirigido, tem experiência o suficiente para evitar que o filme se torne ainda mais desastroso. 1,5/10.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Visages, Villages - Melhor Documentário do ano?

Visages, Villages - Crítica


   O que normalmente ocorre quando a maior cineasta mulher de todos os tempos decide lançar o provável último longa da carreira? A comunidade cinéfila inteira para pra assisti-lo. Esse é o caso da franco-belga Agnès Varda que ficou conhecida com os seus trabalhos desde a Nouvelle Vague e que agora se juntou com o muralista francês JR para dirigir um documentário sobre o potencial que o interior da França possui em haver histórias e pessoas extraordinárias.
   O longa possui um tempo curto (90 minutos para ser mais exato) e por isso ele aproveita de forma soberba toda a sua duração. Desde a criativa animação da abertura inicial, passando pela introdução que acompanha Varda e JR em ambientes cotidianos somente para dizer que não se encontraram em nenhum deles (destaque para Varda dançando na balada), até finalmente engatilhar e começar a retratarem a riqueza na cultura dos pequenos vilarejos dos quatro cantos do território francês.
   O que eu considerei mais legal na estrutura desse documentário é como ele nem sempre respeita as condições do gênero, criando uma linha muito sutil entre o que é ficção e o que é realidade (e ficção que eu digo é chegar ao ponto de fazer um trocadilho visual simplesmente por fazer, sem nenhuma função narrativa), o que poderia simplesmente estragar o documentário, mas Varda tem mãos de fada quando se trata em dirigir. Adicionando comentários dela e de JR sobre o que está sendo mostrado em tela e cenas totalmente fictícias, ela cria um certo tom de intimidade entre as pessoas/personagens do filme dela e nós. Bem provável que ela tenha se inspirado nos documentários do Martin Scorcese, pois ele faz praticamente a mesma coisa, só que com um ponto de vista bem mais técnico.
   Outro aspecto do longa que se mostrou incrivelmente interessante é o poder que ela e JR têm ao tornar o pretensioso em despretensioso. Com isso eu quero dizer que o filme poderia muito bem ter caído no pedantismo que quase sempre ocorre na hora de introduzir certo elemento metalinguístico que se refere ás habilidades artísticas dos realizadores (cof...cof...Woody Allen..cof...Noah Baumbach. Oh, tosse), quando na realidade os diretores utilizam os mesmos para buscar a beleza visual que o filme falta, como os time-lapses da composição das colagens de JR. Destaque para um dos enquadramentos mais belos em documentários de 2017:
(Ignorem Varda e JR que estão em primeiro plano, a única imagem boa que eu achei foi de um making off)
   Tudo isso é somado com a vida pessoal dos diretores e as ideias que um tem pelo outro, decupando ora a admiração mútua ora a frustração em relação às teimosias do outro. Um ótimo exemplo é quando Varda relaciona o hábito de JR utilizar óculos escuros com a personalidade de seu grande amigo, Jean-Luc Godard (este que até o momento eu pensava que já havia morrido), e essa assimilação dá gancho para o desfecho do filme que é simplesmente de cortar o coração. Não só por trazer novamente á tona a toxicidade da pessoa de Godard, mas também por apagar totalmente aquela linha sutil entre realidade e ficção já citada, criando um final melancólico e surpreendente mas que o espectador não faz a mínima ideia se aquilo aconteceu mesmo ou não.
   Visages, Villages é lindo, original, poético e despretensioso ao mesmo tempo, e muito bem dirigido. Não é à toa que está indicado ao Oscar de Melhor Documentário e provavelmente ganhe (já que o favorito da temporada, "Jane", não chegou a ser indicado). Nota 10.