Gabriel e a Montanha - Takipariu, que filme
Gabriel e a Montanha é o mais novo filme nacional premiado internacionalmente. Adivinha aonde? CANNES. O filme ganhou o prêmio de Revelação da Semana na última Semana da Crítica de Cannes. O júri foi presidido pelo também brasileiro e também reconhecido por Cannes, Kléber Mendonça Filho (Aquarius, O Som ao Redor). Eu não botava muita fé nesse filme porque pelo título parecia mais uma daquela dramédias argentinas estreladas pelo Ricardo Darín, aí apareceu como propaganda do YouTube e dei uma chance e não me arrependi.
Gabriel e a Montanha, dirigido e roteirizado por Felipe Gamarano Barbosa e estrelado por João Pedro Zappa e Carol Abras, é baseada na história real de Gabriel Buchmann, um economista que entrou na lista de espera de uma universidade prestigiada da Califórnia e decide viajar o mundo observando a educação de vilarejos humildes enquanto que escala montanhas, e numa escalada no monte Sapitwa no Malauí ele vai sem o guia, se perde e morre de hipotermia (uma história bastante semelhante à apresentada no "Na Natureza Selvagem").
Aqui é apresentado um dos filmes mais dinâmicos dos últimos anos no Brasil, a cinematografia é muito criativa, com câmera tremida em uma dose perfeita e um roteiro inteligente cheio de diálogos corriqueiros muito reais (parecido com o que? Ahn? Ahn? Trilogia Before, que inclusive já fiz post só sobre ela: Trilogia Before), apesar de no fim ele cair na roubada de um drama muito exagerado na hora da morte do personagem, mas essa observação pode parecer bastante insensível. Esse roteiro, casado com atuações impressionantes, uma trilha sonora que varia entre músicas típicas da África e algo no estilo John Carpenter (em outras palavras, estilo tema de abertura de Stranger Things), resultando em pura cacofonia, e uma inovadora narração e participação de pessoas que na vida real conviveram com o Gabriel, faz com que o produto final seja quase que um documentário, inclusive com momentos onde personagens olham para a câmera. Nada surpreendente de um diretor de um bom documentário (Gamarano também dirigiu o documentário "Laura") e um amigo da adolescência de Gabriel.
A fotografia demonstra a crueza e a hostilidade de uma savana sem precedentes, fria, com uma vegetação rasteira mais esverdeada, mas às vezes bastante preguiçosa quando juntada à montagem, como quando uma personagem diz que está escurecendo, mas em seguida são apresentados cortes onde a iluminação parece mais clara, enquanto que havia um jeito simples de consertar isso caso a razão desse defeito fosse a falta de autorização para filmar de noite: Noite Americana.
As atuações são talvez a segunda maior virtude do filme (depois do roteiro), Zappa traz no jeito mais humano possível a teimosia e a loucura de Buchmann, que era aquele cara good vibes meio loucão e muitas vezes imprudente, o que deixa o espectador ainda mais triste pensando "putz, que cara legal, sério que ele vai fazer isso? Mano, como que vai ficar esse povo agora?", enquanto que Abras realmente rouba a cena em alguns momentos, ela é muita expressiva mesmo sem falar, uma cena muito marcante é quando não dá tempo para ela andar de elefante na Tanzânia, aí corta pra uma cena do casal no ônibus e o mais evidente nesse plano é a frustração na cara dela, e nenhuma palavra sequer teve de ser dita, ou numa briga de casal, também num ônibus, em que ela fica profundamente brava com Gabriel e a essa raiva podia ser simplesmente transmitida pelo olhar dela, como no frame abaixo.
As atuações são talvez a segunda maior virtude do filme (depois do roteiro), Zappa traz no jeito mais humano possível a teimosia e a loucura de Buchmann, que era aquele cara good vibes meio loucão e muitas vezes imprudente, o que deixa o espectador ainda mais triste pensando "putz, que cara legal, sério que ele vai fazer isso? Mano, como que vai ficar esse povo agora?", enquanto que Abras realmente rouba a cena em alguns momentos, ela é muita expressiva mesmo sem falar, uma cena muito marcante é quando não dá tempo para ela andar de elefante na Tanzânia, aí corta pra uma cena do casal no ônibus e o mais evidente nesse plano é a frustração na cara dela, e nenhuma palavra sequer teve de ser dita, ou numa briga de casal, também num ônibus, em que ela fica profundamente brava com Gabriel e a essa raiva podia ser simplesmente transmitida pelo olhar dela, como no frame abaixo.
Aqui não é preciso metáforas de direção nem subjetividades do gênero. Gabriel e a Montanha é um filme tocante, dinâmico, inteligente e, como disse o crítico do Le Nouve Observateur, "Depois desse filme, você nunca vai viajar como antes".
Existe um grau em que um filme atinge onde eu não consigo nem dar nota, que é quando eu tento assistir o filme como crítico, mas acabo como resenhista, apenas recomendando o filme ou não, sem dar nota. Gabriel e a Montanha chegou nesse grau, não é à toa que este virou um dos mais elogiados do ano. Recomendo muito esse filme, que acaba de entrar em cartaz nos cinemas brasileiros.
Existe um grau em que um filme atinge onde eu não consigo nem dar nota, que é quando eu tento assistir o filme como crítico, mas acabo como resenhista, apenas recomendando o filme ou não, sem dar nota. Gabriel e a Montanha chegou nesse grau, não é à toa que este virou um dos mais elogiados do ano. Recomendo muito esse filme, que acaba de entrar em cartaz nos cinemas brasileiros.
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