domingo, 25 de março de 2018

Your Name (Kimi no na wa) - Análise

Your Name (Kimi no na wa) - Análise


   Makoto Shinkai é provavelmente o melhor animador de sua geração. Com uma filmografia excepcional que inclui "Jardim das Palavras" e "Cinco Centímetros por Segundo", o japonês conseguiu se consolidar no mercado com uma linha autoral própria ao mesmo tempo que trazia sutis referências ao legado de uma de suas óbvias inspirações, Hayao Miyasaki, a lenda que criou o Estúdio Ghibli, como o constante uso do "Ma" em cenas que poderiam ser simplesmente avulsas. O trabalho mais notável do cineasta é, com certeza, "Your Name", a minha animação preferida. E hoje analisarei a mesma.
   A animação de 2016 conta a história de Taki e Mitsuha. Um garoto de Tóquio e uma garota que mora em um vilarejo de mais de 1000 anos, respectivamente que descobrem que , por algum motivo, trocam de corpos dia sim dia não. Eu sei que esta premissa não é muito surpreendente, já que "Sexta-Feira Muito Louca" e o brasileiro "Se Eu Fosse Você" são dois filmes relativamente populares e bem feitos com uma história semelhante. Mas acredite, "Your Name" possui mais de uma camada, ao contrário dos dois longas citados acima.
   Mas, antes de falar sobre o roteiro, é preciso dar o devido mérito ao aspecto visual do filme. Tanto a edição quanto a direção de fotografia da animação foram feitas pelo próprio Makoto Shinkai, o que é sensacional já que vários diretores de filmes de animação preferem se distanciar destas funções e contratar outras pessoas para o trabalho, como o brasileiro Renato Falcão, que desenvolve este papel em quase toda animação da Fox Pictures. Mas voltando a "Your Name". Com uma paleta de cores vívida e um ultrarrealismo de dar inveja (e que no campo de animações japonesas eu apenas vi em filmes do Shinkai) que chega a incluir os detalhes da luz solar como se filmados por uma câmera de verdade, resultando em sequências estonteantes como a do cometa (esta que possui aqueles giros filmados em contra plongée em torno dos personagens característicos do Michael Bay...só que bem feitos e com alguma coerência narrativa).
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   Além disso, o filme traz à tona uma realidade que não estamos acostumados a ver em animações japonesas: o século 21. Isso porque estes filmes e séries priorizam universos distópicos ou então retratam o Japão feudal que o Ocidente passou a conhecer melhor com a filmografia do Kurosawa. Por fim, no aspecto visual do filme devemos citar o uso do "Ma". Isto é, o "movimento gratuito", termo utilizado por Roger Ebert sobre as sequências criadas por Miyasaki em seus filmes que não levavam a história adiante mas que servem apenas para o espectador respirar. Este recurso, na filmografia de Shinkai é mais evidente em "Jardim das Palavras", mas aqui o diretor usa e abusa do mesmo de uma forma muito bela, como quando ele busca estabelecer, sem utilizar palavras, uma metáfora com trens que eu explicarei no texto apenas sobre as camadas que o roteiro da animação.
   O trabalho das vozes também está sensacional. Ryûnosuke Kamiki, quem faz Taki, e que antes era apenas conhecido por fazer Bô em "A Viagem de Chihiro" e Makimuru em "O Castelo Animado", consegue trabalhar muito bem com a entonação a fim do espectador poder diferenciar quando ele é Taki e quando é a Mitsuha quem está em seu corpo. Já sobre Mone Kamishiraishi, quem interpreta Mitsuha, não posso dizer o mesmo. No caso de sua personagem (que na realidade são dois) as imagens conseguem transmitir inteiramente a diferença entre as personalidades apenas através de flashbacks e da postura de seu corpo, se mostrando quase que desnecessário o esforço que o dublador de Taki fez. Mas fora isso, o trabalho de Kamishiraishi está impecável.
   Finalmente, sobre o roteiro. "Your Name" não é apenas um "Se Eu Fosse Você" japonês. Seu roteiro possui profundidade que renderia uma postagem particular apenas para explicá-la (aliás, é exatamente isso o que eu vou fazer), além de conseguir fazer ótimas transições entre os arcos dos personagens principais sem ser muito bruto. Isso sem contar das ótimas piadas que servem para trazer uma leveza para um baita romance dramático. Por falar nisso, é preciso constar que em muitos momentos o filme não se decide de qual gênero ele pertence, e isso não incomoda. Na verdade acrescenta, pois à medida que a história vai para frente o espectador passa a estar mais certo que o filme vai mais por uma linha de fantasia do que por ficção científica. Mas o roteiro não é perfeito. Isto porque muitas vezes é dito o que já é óbvio. Porém, isto não é feito pelas irritantes e desnecessárias narrações que o filme também possui. Por mais péssimo que seja, o roteiro, que nesse aspecto se mostra tão expositivo quanto de "Interstelar" do Nolan, se apossa do terrível recurso de simplesmente pôr os personagens falando mais do que explicitadamente o que já é possível ver em tela, sendo que em alguns destes "diálogos" o personagem fala sozinho (ou grita), como se estivessem loucos.
   "Your Name" não é perfeito, mas é um ótimo romance com inúmeras camadas e visualmente esplêndido, sendo possivelmente o filme mais bonito, esteticamente falando, já feito. 9.7/10.

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