Pedro Coelho - Será que a Sony se redimiu após Emoji - O Filme?
Ano passado tivemos o desprazer de sermos apresentados pela péssima animação "Emoji - O Filme" produzida pela Sony Pictures Animations, que até então nunca havia feito nada muito interessante de fato. Enquanto isso, o cineasta britânico Paul King surpreendeu a todos com a adaptação de um personagem que se tornou mascote da cidade de Londres, "As Aventuras de Paddington", uma animação que mistura live-action e personagens de computação gráfica (o que muitos de cara já não criaram expectativa. Afinal, "Garfield - O Filme" e "Os Smurfs", este último também produzido pela Sony, não apresentam muita qualidade narrativa) com um ótimo roteiro, assim como um ótimo desenvolvimento de personagens e uma excelente qualidade técnica, sendo quase um (hipotético) "James Bond feito por Wes Anderson".
Em 2018 veio a continuação deste, "Paddington 2", que conseguiu ser melhor do que o primeiro e ainda trouxe a dúvida de algum outro longa deste mesmo estilo se sair tão bem quanto os da franquia do urso Paddington. Superando com todas as expectativas, a Sony Pictures Animations conseguiu. "Pedro Coelho" é estrelado por Domhall Gleeson (o General Hux de "Star Wars - Episódio VIII) e Rose Byrne, com vozes de James Corden, Daisy Ridley (também de Star Wars - Episódio VIII) e Margot Robbie (de "I, Tonya"), e dirigido por Will Gluck, um cineasta com uma carreira oscilante; conta a história dos animais que vivem em uma zona rural próxima à divisa da Grã-Bretanha com a Escócia, mais precisamente a família do coelho Pedro, que obtém seu alimento através de arriscados furtos da plantação do rabugento senhor McGregor. Quando este morre, os animais se veem livres mas esta liberdade acaba quando o sobrinho do Sr. McGregor chega à região, para poder revender a propriedade. Mas este encontra problemas com os animais e agora está mais arriscado do que nunca obter alimento já que o jovem McGregor se envolve com sua vizinha, quem toma conta da família de Pedro, se vendo em situação de perigo devido aos planos de exterminação de McGregor.
O longa tem uma ótima montagem, ágil, dinâmica e que ocasionalmente entra em sincronia com a trilha sonora (da qual eu não curti muito), algo parecido com "Baby Driver" de Edgar Wright. A direção de fotografia de Peter Menzies Jr., que é famoso pelas atmosferas escuras e claustrofóbicas que cria, como em "Lara Croft: Tomb Raider" e "Quando um Estranho Chama", me surpreendeu pela paleta de cores variada e saturadas, tendo como destaque o verde e o azul, e a composição de planos mais abertos muito bem feitos.
O roteiro, por sua vez, é de longe a melhor coisa do filme. Mesmo com um plot twist logo nos primeiros 10 minutos, o que ninguém esperaria, para engatar o enredo (o que eu, pessoalmente, não vi com bons olhos), uma narração desnecessária e uma piada repetitiva com passarinhos, que começa a irritar a partir da terceira vez, o roteiro consegue ser muito inteligente. Isso porque ele se auto-satiriza mais de uma vez com diálogos descritivos sobre eles mesmos, quebras de expectativa como em relação ao ritmo rigidamente compassado de uma cena específica ou de um cliché dos filmes de romance, e uma metalinguagem que é tão sutil quanto inteligente sobre o uso de CGI para a recriação de animais. Isso sem contar das piadas sobre a natureza dos animais de fazenda (o galo e a rena são os meus favoritos). Com estas características de roteiro, o filme se mostra um excelente exemplo de comédia britânica, encontrando um perfeito equilíbrio entre o humor visual e físico visível na trilogia Cornetto do Edgar Wright e as piadas levemente obscuras de Monty Python e do trabalho do Guy Ritchie.
As atuações no longa também não ficam para trás. Domhall Gleeson já se consolidou como um dos melhores atores de sua geração, e aqui, mesmo sendo um filme "ingênuo", ele consegue dar um show. Normalmente eu não simpatizo com personagens muito caricatos, mas o vendedor de brinquedos psicopata, apático devido à uma infância solitária e que procura redenção em sua vida profissional vivido pelo inglês é fantástico. Boa parte do filme gira em torno dele e, como eu disse antes, o roteiro realiza auto-sátiras com isto de uma forma espetacular. Além disso, o personagem protagoniza as melhores piadas do filme envolvendo humor físico, inclusive tem dois momentos que ele cai de uma bicicleta que são muito engraçados. Além dele devemos elogiar a atuação da Rose Byrne, que é apenas ok, mas já se torna a melhor atuação de sua carreira. O trabalho das vozes também está fenomenal, talvez comparável às interpretações feitas pelo elenco de "O Fantástico Sr. Raposo", de Wes Anderson (aliás, o meu hype cresce cada vez mais pela nova animação do cineasta, que estreará esta semana nos EUA), destaque para os coelhos, o porco e o galo.
Sobre os efeitos visuais, é incontestável sua qualidade. A computação gráfica é tão bem feita que não fica evidente alguns glitches como em "Marmaduke" e "Hop", este último que também tem um coelho como protagonista. Os efeitos práticos também são usados de uma forma incrível. Em algum momento são usados choques elétricos para criar humor, e estes resultam em duas piadas prontas envolvendo humor físico, mas estas são exageradas a ponto de se assemelhar à algo que o Tarantino escreveria.
"Pedro Coelho" é aquele tipo de filme que tem como público alvo o infantil, mas que os adultos vão chorar de rir. Junto de "Paddington" são as duas melhores adaptações de obras clássicas da literatura infanto-juvenil inglesa e também as melhores comédias visuais dos últimos tempos. A Sony não só conseguiu se redimir do fracasso que foi "Emoji - O Filme", mas conseguiu se inovar. O longa poderia ser perfeito se não fosse por uma narração desnecessária, uma piada que se repete excessivamente e o uso exagerado de músicas pop em momentos aleatórios (um erro que a Sony insiste já há muito tempo em suas animações). Ainda assim, este já se consolidou como o filme mais divertido do ano e o melhor longa da carreira de Gluck, sendo superior até mesmo do que "A Mentira". 9.3/10. Assistam este filme legendado se puderem, pois algumas ótimas piadas se perderão na dublagem. Isso sem falar das referências à "Revolução dos Bichos", que possivelmente serão eufemizadas.
O longa tem uma ótima montagem, ágil, dinâmica e que ocasionalmente entra em sincronia com a trilha sonora (da qual eu não curti muito), algo parecido com "Baby Driver" de Edgar Wright. A direção de fotografia de Peter Menzies Jr., que é famoso pelas atmosferas escuras e claustrofóbicas que cria, como em "Lara Croft: Tomb Raider" e "Quando um Estranho Chama", me surpreendeu pela paleta de cores variada e saturadas, tendo como destaque o verde e o azul, e a composição de planos mais abertos muito bem feitos.
O roteiro, por sua vez, é de longe a melhor coisa do filme. Mesmo com um plot twist logo nos primeiros 10 minutos, o que ninguém esperaria, para engatar o enredo (o que eu, pessoalmente, não vi com bons olhos), uma narração desnecessária e uma piada repetitiva com passarinhos, que começa a irritar a partir da terceira vez, o roteiro consegue ser muito inteligente. Isso porque ele se auto-satiriza mais de uma vez com diálogos descritivos sobre eles mesmos, quebras de expectativa como em relação ao ritmo rigidamente compassado de uma cena específica ou de um cliché dos filmes de romance, e uma metalinguagem que é tão sutil quanto inteligente sobre o uso de CGI para a recriação de animais. Isso sem contar das piadas sobre a natureza dos animais de fazenda (o galo e a rena são os meus favoritos). Com estas características de roteiro, o filme se mostra um excelente exemplo de comédia britânica, encontrando um perfeito equilíbrio entre o humor visual e físico visível na trilogia Cornetto do Edgar Wright e as piadas levemente obscuras de Monty Python e do trabalho do Guy Ritchie.
As atuações no longa também não ficam para trás. Domhall Gleeson já se consolidou como um dos melhores atores de sua geração, e aqui, mesmo sendo um filme "ingênuo", ele consegue dar um show. Normalmente eu não simpatizo com personagens muito caricatos, mas o vendedor de brinquedos psicopata, apático devido à uma infância solitária e que procura redenção em sua vida profissional vivido pelo inglês é fantástico. Boa parte do filme gira em torno dele e, como eu disse antes, o roteiro realiza auto-sátiras com isto de uma forma espetacular. Além disso, o personagem protagoniza as melhores piadas do filme envolvendo humor físico, inclusive tem dois momentos que ele cai de uma bicicleta que são muito engraçados. Além dele devemos elogiar a atuação da Rose Byrne, que é apenas ok, mas já se torna a melhor atuação de sua carreira. O trabalho das vozes também está fenomenal, talvez comparável às interpretações feitas pelo elenco de "O Fantástico Sr. Raposo", de Wes Anderson (aliás, o meu hype cresce cada vez mais pela nova animação do cineasta, que estreará esta semana nos EUA), destaque para os coelhos, o porco e o galo.
A infância solitária de McGregor se evidencia com esta palavra cruzada que ele faz
"Pedro Coelho" é aquele tipo de filme que tem como público alvo o infantil, mas que os adultos vão chorar de rir. Junto de "Paddington" são as duas melhores adaptações de obras clássicas da literatura infanto-juvenil inglesa e também as melhores comédias visuais dos últimos tempos. A Sony não só conseguiu se redimir do fracasso que foi "Emoji - O Filme", mas conseguiu se inovar. O longa poderia ser perfeito se não fosse por uma narração desnecessária, uma piada que se repete excessivamente e o uso exagerado de músicas pop em momentos aleatórios (um erro que a Sony insiste já há muito tempo em suas animações). Ainda assim, este já se consolidou como o filme mais divertido do ano e o melhor longa da carreira de Gluck, sendo superior até mesmo do que "A Mentira". 9.3/10. Assistam este filme legendado se puderem, pois algumas ótimas piadas se perderão na dublagem. Isso sem falar das referências à "Revolução dos Bichos", que possivelmente serão eufemizadas.
Uau impressive
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