segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Let The Sunshine In

Let The Sunshine In

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 Se desprendendo de todos os seus dogmas cinematográficos, Claire Denis dirige, em 2018, seu filme com maior carga dramática. Enquanto acompanha-se a busca da personagem de Juliette Binoche por um verdadeiro amor, a realizadora também convida o espectador a se imergir em um universo de incoerência presente nas falas dos personagens e nas situações onde se encontram.
 Tais incoerênncias se estabelecem a partir de diálogos onde um dos personagens surpreende a protagonista, incluindo ela mesma. Ainda que isso aconteça repetidas vezes, devido à estética reconfortante e harmoniosa da fotografia de Agnés Godard, esse recurso nunca acaba se tornando necessariamente repetitivo.
 Sendo o auge desse artifício um momento de histeria da protagonista Isabelle em um bosque após se cansar do pedantismo e do falso espiritualismo de um coadjuvante, tal ação acaba evidenciando que a protagonista ora está completamente imersa naquele universo, ora é usada para estabelecer uma ponte entre o mesmo e o público.
 Além dela, outros personagens também têm essa função, como um barman numa das primeiras cenas do longa (esta que, ao ser revisitada, acaba revelando uma das mise-en-scènes mais irretocáveis do ano), ou o personagem de Gerard Depardieu, que só aparece no 3º ato como um refúgio após a turbulenta jornada de Isabelle. No entanto, a participação de Depardieu apenas serve como uma retomada de tudo o que acontecera até ali, onde, infelizmente, Denis subestima seu público, buscando explicar (pretextualmente para Isabelle) a razão de tantos erros cometidos. Tal defeito é tão evidente que acaba extrapolando os limites visuais do próprio longa, se extendendo durante os créditos.
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 Fundindo de uma maneira tão equilibrada o absurdo ao cotidiano padrão para um drama, nunca pendendo pras tendências que Lanthimos e Noé estabeleceram justamente com elementos cômicos do resto da filmografia de Denis, "Let The Sunshine In" realiza algo tão raramente visto no cinema contemporâneo: unir o comforto de uma estética limpa ao desconforto da humanidade ali estabelecida, atingindo seu apogeu, além da cena do bar, na cena da galeria de arte, dando destaque ao simbólico painel dos céus diários.
 Mesmo que pareça que queira inovar, Claire Denis apenas retoma os melhores elementos de sua filmografia em um romance dramático não necessariamente profundo, mas verdadeiro, ainda que imerso num absurdo sutil afogado em pequenas incoerências. 9.5/10

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