Eighth Grade
O processo de adaptação da geração X com a adolescência contemporânea
O longa de estreia do comediante Bo Burnham conta a vida da jovem Kayla, uma adolescente com um alto grau de ansiedade que eventualmente progride a crises de pânico vendendo nas redes sociais como o completo oposto disso. Agora com um pé no ensino médio, ela tenta superar seu passado de garota antissocial ao tentar seguir as próprias dicas que ela recomenda em seus vídeos de YouTube.
Sendo um coming of age produzido pela queridinha A24, era de se esperar algo mediocremente forçado embora exageradamente pesado como “The Spectacular Now”. Entretanto, para a minha surpresa, “Eighth Grade” cumpre o que propõe como um ensaio sobre as dificuldades que o universo virtual impõe sobre essa geração mais nova. Ainda assim, o diretor opta por não evidenciar isso de uma maneira completa. A sequência da festa na piscina, por exemplo, onde Kayla enxerga seus colegas quase como aberrações possui um conceito inteligente, mas sua execução não explora todas as possibilidades. Melhor seria, talvez, se adicionado a isso, mostrasse a figura de Gabe como um refúgio à protagonista, ao invés de mostrá-lo somente como mais um esquisitão.
Por outro lado, essa busca pelo mais simples funciona em cenas onde Kayla se encontra completamente sozinha. Não são muitas as vezes em que é mostrado o que a protagonista está vendo, mas estas funcionam devido ao cuidado de Bunrham em notar que em tais situações nem Kayla saiba exatamente o que está vendo, seja por medo e confusão ou apenas falta de atenção. Sendo assim visível a intenção de nos colocarmos no lugar dela, o espectador que aceita tal condição logo sente uma imensa empatia, mesmo que não fosse daquela forma quando tinha sua idade devido a esses artifícios. Vale também ressaltar que a trilha sonora mescla estilos de diferentes épocas em busca de atingir total identificação do público.
Não só retratando com precisão a vida de qualquer adolescente ocidental mediano, o filme também discute sobre temas cujos quais o diretor normalmente aborda em seus stand-ups. Massificação da cultura, narcisismo condicional e a luta dos adultos em encontrarem um meio termo entre a liberdade absoluta e a rigidez insuportável para com os adolescentes aparecem, sobretudo, com uma grande intensidade nas camadas mais profundas do filme.
Em decorrência disso, ficou simples notar que o universo no qual o filme está inserido tem as crianças no comando. Enquanto isso, os adultos constantemente buscam sua aprovação ao tentar imitar seus gestos (destaque para os dabs desajeitados do diretor) e não questionar suas ações, de modo que nos questionemos se os mesmos já não estão cansados do sistema os colocarem em uma posição superior que contradiz com suas ações.
O pai de Kayla é de longe o personagem mais inverossímil, mas ao mesmo tempo o que torna mais evidente essa condição do universo do filme. Ao dizer sim a tudo para a filha, fica a impressão que sua figura é desnecessária ao ponto de ser útil somente na logística da protagonista e gerar no espectador a tão presente vergonha alheia, o que fica embasado pelo diálogo no qual, apesar de ter medo de criar Kayla sozinho, não precisou fazer nada pois ela conseguiu se formar como pessoa sem precisar de ajuda.
“Eighth Grade” superou minhas expectativas em função de sua produção, mas alguns elementos da mise-en-scène mereciam ser melhor lapidados, como a iluminação que ora é muito limpa ora trazendo uma atmosfera de insalubridade, nunca arranjando um meio termo. Todavia, cumpre o que propõe e ainda deixa a reflexão sobre como os hábitos dessa geração educada pelas redes sociais possam também influenciar o modo de vida dos adultos e as situações que eles são obrigados a passar para tentar se enquadrar entre os adolescentes, quem sabe mais do que eles próprios. 9/10
O longa de estreia do comediante Bo Burnham conta a vida da jovem Kayla, uma adolescente com um alto grau de ansiedade que eventualmente progride a crises de pânico vendendo nas redes sociais como o completo oposto disso. Agora com um pé no ensino médio, ela tenta superar seu passado de garota antissocial ao tentar seguir as próprias dicas que ela recomenda em seus vídeos de YouTube.
Sendo um coming of age produzido pela queridinha A24, era de se esperar algo mediocremente forçado embora exageradamente pesado como “The Spectacular Now”. Entretanto, para a minha surpresa, “Eighth Grade” cumpre o que propõe como um ensaio sobre as dificuldades que o universo virtual impõe sobre essa geração mais nova. Ainda assim, o diretor opta por não evidenciar isso de uma maneira completa. A sequência da festa na piscina, por exemplo, onde Kayla enxerga seus colegas quase como aberrações possui um conceito inteligente, mas sua execução não explora todas as possibilidades. Melhor seria, talvez, se adicionado a isso, mostrasse a figura de Gabe como um refúgio à protagonista, ao invés de mostrá-lo somente como mais um esquisitão.
Por outro lado, essa busca pelo mais simples funciona em cenas onde Kayla se encontra completamente sozinha. Não são muitas as vezes em que é mostrado o que a protagonista está vendo, mas estas funcionam devido ao cuidado de Bunrham em notar que em tais situações nem Kayla saiba exatamente o que está vendo, seja por medo e confusão ou apenas falta de atenção. Sendo assim visível a intenção de nos colocarmos no lugar dela, o espectador que aceita tal condição logo sente uma imensa empatia, mesmo que não fosse daquela forma quando tinha sua idade devido a esses artifícios. Vale também ressaltar que a trilha sonora mescla estilos de diferentes épocas em busca de atingir total identificação do público.
Não só retratando com precisão a vida de qualquer adolescente ocidental mediano, o filme também discute sobre temas cujos quais o diretor normalmente aborda em seus stand-ups. Massificação da cultura, narcisismo condicional e a luta dos adultos em encontrarem um meio termo entre a liberdade absoluta e a rigidez insuportável para com os adolescentes aparecem, sobretudo, com uma grande intensidade nas camadas mais profundas do filme.
Em decorrência disso, ficou simples notar que o universo no qual o filme está inserido tem as crianças no comando. Enquanto isso, os adultos constantemente buscam sua aprovação ao tentar imitar seus gestos (destaque para os dabs desajeitados do diretor) e não questionar suas ações, de modo que nos questionemos se os mesmos já não estão cansados do sistema os colocarem em uma posição superior que contradiz com suas ações.
O pai de Kayla é de longe o personagem mais inverossímil, mas ao mesmo tempo o que torna mais evidente essa condição do universo do filme. Ao dizer sim a tudo para a filha, fica a impressão que sua figura é desnecessária ao ponto de ser útil somente na logística da protagonista e gerar no espectador a tão presente vergonha alheia, o que fica embasado pelo diálogo no qual, apesar de ter medo de criar Kayla sozinho, não precisou fazer nada pois ela conseguiu se formar como pessoa sem precisar de ajuda.
“Eighth Grade” superou minhas expectativas em função de sua produção, mas alguns elementos da mise-en-scène mereciam ser melhor lapidados, como a iluminação que ora é muito limpa ora trazendo uma atmosfera de insalubridade, nunca arranjando um meio termo. Todavia, cumpre o que propõe e ainda deixa a reflexão sobre como os hábitos dessa geração educada pelas redes sociais possam também influenciar o modo de vida dos adultos e as situações que eles são obrigados a passar para tentar se enquadrar entre os adolescentes, quem sabe mais do que eles próprios. 9/10
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