Disobedience - Quando nossa liberdade é afetada pelas nossas crenças
Após sucesso com “Uma Mulher Fantástica”, portas se abriram para o chileno Sebastian Lelio. Disobedience, sua primeira produção em língua inglesa, conta a história do romance proibido de duas mulheres de uma comunidade judaica em Londres.
Iniciando-se com um plano holandês filmado de baixo pra cima que incorpora o imponente Anton Lesser como o rabino Kushka, o filme já começa apresentando, de forma simples, as figuras religiosas como superiores. Em contraste disso, ao cortar para a filha do rabino, Ronit, vivida por uma altiva embora culpada Rachel Weisz, é introduzida quase de cócoras em relação à sua câmera, representando a submissão feminina dentro deste mesmo contexto religioso.
Após a revelação da morte do pai, o gatilho para a volta de Ronit a Londres, Weisz trabalha de forma magnífica o estado de choque de sua personagem, se mostrando vulnerável não só psicologicamente como também fisicamente (mérito também do roteiro que explora Ronit em situações mundanas que evidenciam sua apatia devido ao luto. Roteiro esse que é co-escrito por Lelio e Rebecca Lenkiewicz, conhecida por “Ida”).
Logo que a trama passa a focar na comunidade judaica londrina e introduz o casal dos amigos de infância de Ronit, Dovid e Esni, que a hospedam em sua casa; se torna evidente o contraste do preto e branco como indicador do pecado, desde sombras ao quase breu, estratégia já usada pelo diretor de fotografia, Danny Cohen, em “A Garota Dinamarquesa”. Além disso, as primeiras cenas que se passam em Londres são responsáveis por estabelecer certos elementos que serão importantes até o fim do longa, como a mútua desconcertância que a presença de Ronit e Esni (Rachel McAdams) fazem uma para outra. Além disso, a já citada submissão da mulher dentro do tradicionalismo religioso abordado é intensificada pela marcante atuação contida de McAdams, sempre sussurrando algo de natureza passiva e olhando para baixo.
Com o início do 2º ato, Ronit se mostra cada vez mais culpada devido a pressão social que colocam sobre ela por não ter acompanhado os últimos anos do pai. De forma indireta, isso se torna a razão de Ronit e Esni finalmente revelarem o que sentem uma pela outra, fazendo elas mudarem totalmente de comportamento. A partir do momento que seu relacionamento secreto passa a afetar a vida dos outros, os três protagonistas se encontram em um embate que se perpetuará até o desfecho do longa.
Por sorte, Lelio nos oferece compreender o ponto de vista de Dovid (vivido por um inabalável Alessandro Nivola), um homem extremamente ligado à religião e um marido fiel, ainda que às vezes possa não haver reciprocidade em seu casamento. Como se já não bastasse, para intensificar a dramaticidade de um dos melhores desenvolvimentos de 2018 até agora, Lelio abusa e acerta no uso de uma de suas marcas registradas: a trilha sonora não-diegética suave definida por dois temas que, apesar de se repetirem constantemente, nunca se tornam repetitivas, poeticamente casada com relacionamento das duas protagonistas femininas, que ocorre, principalmente, pela impressionante química das Rachels. Um ótimo exemplo é na cena no hotel, onde, inclusive, ocorre uma transição no mínimo interessante devido à sincronia com a edição de som embora já batida com relação à câmera de Ronit (cena que pode ser vista no trailer).
Iniciando-se com um plano holandês filmado de baixo pra cima que incorpora o imponente Anton Lesser como o rabino Kushka, o filme já começa apresentando, de forma simples, as figuras religiosas como superiores. Em contraste disso, ao cortar para a filha do rabino, Ronit, vivida por uma altiva embora culpada Rachel Weisz, é introduzida quase de cócoras em relação à sua câmera, representando a submissão feminina dentro deste mesmo contexto religioso.
Após a revelação da morte do pai, o gatilho para a volta de Ronit a Londres, Weisz trabalha de forma magnífica o estado de choque de sua personagem, se mostrando vulnerável não só psicologicamente como também fisicamente (mérito também do roteiro que explora Ronit em situações mundanas que evidenciam sua apatia devido ao luto. Roteiro esse que é co-escrito por Lelio e Rebecca Lenkiewicz, conhecida por “Ida”).
Logo que a trama passa a focar na comunidade judaica londrina e introduz o casal dos amigos de infância de Ronit, Dovid e Esni, que a hospedam em sua casa; se torna evidente o contraste do preto e branco como indicador do pecado, desde sombras ao quase breu, estratégia já usada pelo diretor de fotografia, Danny Cohen, em “A Garota Dinamarquesa”. Além disso, as primeiras cenas que se passam em Londres são responsáveis por estabelecer certos elementos que serão importantes até o fim do longa, como a mútua desconcertância que a presença de Ronit e Esni (Rachel McAdams) fazem uma para outra. Além disso, a já citada submissão da mulher dentro do tradicionalismo religioso abordado é intensificada pela marcante atuação contida de McAdams, sempre sussurrando algo de natureza passiva e olhando para baixo.
Com o início do 2º ato, Ronit se mostra cada vez mais culpada devido a pressão social que colocam sobre ela por não ter acompanhado os últimos anos do pai. De forma indireta, isso se torna a razão de Ronit e Esni finalmente revelarem o que sentem uma pela outra, fazendo elas mudarem totalmente de comportamento. A partir do momento que seu relacionamento secreto passa a afetar a vida dos outros, os três protagonistas se encontram em um embate que se perpetuará até o desfecho do longa.
Por sorte, Lelio nos oferece compreender o ponto de vista de Dovid (vivido por um inabalável Alessandro Nivola), um homem extremamente ligado à religião e um marido fiel, ainda que às vezes possa não haver reciprocidade em seu casamento. Como se já não bastasse, para intensificar a dramaticidade de um dos melhores desenvolvimentos de 2018 até agora, Lelio abusa e acerta no uso de uma de suas marcas registradas: a trilha sonora não-diegética suave definida por dois temas que, apesar de se repetirem constantemente, nunca se tornam repetitivas, poeticamente casada com relacionamento das duas protagonistas femininas, que ocorre, principalmente, pela impressionante química das Rachels. Um ótimo exemplo é na cena no hotel, onde, inclusive, ocorre uma transição no mínimo interessante devido à sincronia com a edição de som embora já batida com relação à câmera de Ronit (cena que pode ser vista no trailer).
“Disobedience” é belíssimo pois não só funciona muito bem como um romance como têm performances incríveis e bem ponderadas, um roteiro que explora temas complexos de formas simples mas não ao ponto de se autoexplicar como um Nolan. Possui uma montagem interessante e é esteticamente limpo. Disobedience chegou muito perto da perfeição. Se o corte final viesse três minutos antes ele poderia se tornar um clássico instantâneo, mas a opção de Lelio de estender o roteiro em mais duas cenas é relevada pela incrível abordagem do questionamento sobre até que ponto nossas crenças afetam nossa liberdade. Nota 10
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