Videoartes Ecrã
Não fui capaz de entender o critério da curadoria em separar o que é curta, o que é instalação e o que é videoarte e um dos maiores responsáveis pra essa confusão é a inclusão do polonês “Ano (Year)” em videoartes sendo que apresenta a mesma proposta de vídeo-colagem da (considerada) instalação “Flipbook Pós-digital”, ainda que o processo e os moldes de produção divirjam radicalmente, considerando a técnica de escaneamento usada no 1º e o software de reconhecimento facial explorado no 2º.
A lendária “história de seis palavras” do Hemingway parece ser fonte de inspiração aqui no sentido da obra se propor a narrar sem locutor e interlocutor definidos. A semelhança que pode-se identificar com o sorrizo-roná/ldico “Flipbook Pós-digital” tá na montagem estroboscópica de alta taxa de fps ainda que a sequência de quadros apenas mantenha a essência do significante. A partir disso, uma história se constrói através do escaneamento de embalagens de Marlboro em que se conta, exclusivamente através deles, a história dos últimos anos de vida de um mochileiro fumante. Possivelmente a campanha antitabagista mais legal já feita.
Nada de muito espetacular pra comentar aqui. Paradoxalmente, é um curta que se encaixa dentro dos padrões de experimentação audiovisual no sentido de apresentar uma relação inversamente proporcional entre coesão e subjetividade. Só é interessante como ele dialoga um pouco com “Duas Imagens de Guerra” do JP Faro ao expor uma visão aterrorizante do pavor que pode surgir a partir da fantasia do estilo de vida do Ocidente e do desencanto quando se descobre a que custo ele se sustenta.
Das melhores obras do festival. Síntese da Sociedade do Espetáculo, meio que autoexplicativo. Nada do que eu discorrer aqui vai chegar perto do que o filme mostra até porque ele não tem nenhum ponto a defender nem nada do tipo, é só imagético...e dos mais crus possíveis. Puro suco da nossa geração.
Da mesma forma que acontece com “A Vida Dentro de um Melão”, a grande força desse curta é a sensibilidade que é raridade no cinema experimental. Pra um formato em que foge à regra quem não transmite a sua mensagem do jeito mais agressivo possível pra não cair na verborragia, esse filme-ternura não deve nada às demais videoartes com seu caráter multiautoral de catarse gradual.
Vale também mencionar “Paralelos em Série”. Não tem muito o que chamar atenção, só achei legal.