John Wick: Parabellum
O terceiro filme da franquia sobre um ex-assassino de aluguel, que abandona a aposentadoria por motivos intrinsicamente pessoais, se o mostra o melhor da mesma com facilidade.
De certa forma, a fórmula para o sucesso do segundo filme é repetida aqui. O longa evoca uma cosmologia onde a vigilância e a violência reinam. A premissa de que sob a sociedade comum há algo muito maior e muito mais sólido e organizado é aproveitada da melhor forma possível, ainda mais com a liderança do realizador, Stahelski, que reafirma como nunca seu amor pelo anacronismo.
A mistura que ele faz entre a contemporaneidade e outros períodos históricos, à primeira vista, ameaça a vinda à tona de incoerências espaço-temporais. No entanto, isso se mostra uma estratégia brilhante não só para que o maior número possível de formas de progressão da ação sejam explorados, mas para ilustrar essa linha tênue que a High Table e suas derivações representam entre a selvageria e a civilização.
A mistura que ele faz entre a contemporaneidade e outros períodos históricos, à primeira vista, ameaça a vinda à tona de incoerências espaço-temporais. No entanto, isso se mostra uma estratégia brilhante não só para que o maior número possível de formas de progressão da ação sejam explorados, mas para ilustrar essa linha tênue que a High Table e suas derivações representam entre a selvageria e a civilização.
Dito isso, o longa se desperta enquanto filme de ação em um momento mais cedo do que seus antecedentes e da maneira mais ousada possível. Mais uma vez mesclando os elementos mais imprevisíveis possíveis para a construção de uma mise-en-scène totalmente temática que se força a se reinventar a fim de manter a espetáculo performático que, eventualmente, se quebra graças à busca incessante de um caráter cartunesco que, muitas vezes, acaba sendo maior do que o tolerável para a interrupção do equilíbrio entre o fantástico e o real que Stahelski propôs, inicialmente, em 2014.
Ainda assim, é mantida quase que ao longo de todo o filme uma gigantesca constância qualitativa dada à experiência do diretor com o cinema de ação, uma vez que construiu uma carreira enquanto dublê, facilitando na construção e sincronia das instigantes coreografias marciais. Nesse sentido, o mérito se espalha por todo o elenco, que consegue realizar com maestria a versatilidade imaginativa traduzida pelas cenas de luta, especialmente Keanu Reeves e Marvin Dacascos. Apesar disso, um dose extra de atenção faz com que sejam identificados, muito facilmente, falhas na sincronia das lutas, sempre com o adversário dando vantagem para John revidar golpes que nem chegam a ser realizados.
"John Wick: Parebellum" é o ápice da autoria dicotomista e antitética de Stahelski. A infinidade de símbolos que compõem boa parte da riqueza narrativa do filme, indo da fragilidade e resiliência do corpo das bailarinas em contraposição à brutalidade dos lutadores na sala ao lado até a mítica figura do Baba Yaga se repetindo sempre que possível como numa justificativa fantástica para a invincibilidade de John, tanto em corpo quanto em mente
Numa homenagem ao classicismo do gênero de ação que acidentalmente se torna uma reconstrução do mesmo, o longa alcança um equilíbrio absurdo entre o espetáculo estético e a consistência narrativa. Isso em níveis raros no cinema ocidental, que por muito tempo se acomodaram em replicar uma bolha constituída por autores de duas décadas atrás. Ainda que camuflada por homenagens ao gênero, a inovação encontra-se presente e a expressa da forma mais simbólica e consistente possível. 8/10
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