Vingadores: Ultimato
Chega ao fim o maior estudo campbelliano já feito. Com a trama sendo retomada exatamente a partir do aftermath da estalada de dedos do Thanos, não havia muito o que esperar além de uma atmosfera de imensa dimensão dramática, mas surpreende a rapidez que a dupla de roteiristas Markus/McFeely bota suas asinhas de fora em relação a um tom tão trágico quanto o fim do longa antecedente, explorando como esse microcosmo busca seguir adiante e expondo uma genial alegoria com seus protagonistas, representando, respectivamente, um estágio do luto, como Gerson Correa inteligentemente aponta:
"Viúva Negra: Negação
Gavião Arqueiro: Raiva
Hulk: Negociação
Thor: Depressão
Homem-de-Ferro: Aceitação".
Ideias como a da terapia em grupo liderada por Steve Rogers ou a deprimente vida do Thor não só são estratégicas em função da antítese que representam após a reintrodução do Scott Lang como também por ser um descanso quanto à clássica fórmula Marvel que, eventualmente, chega a ser enjoativa (não poderíamos esperar menos do que ao menos algumas falhas dentro de 22 longas). Principalmente, porque, como todos esperam, a partir do 2º ato essa fórmula agirá em seu estágio de maior fermentação, enebriando o espectador com um fan service eficaz e icônico.
Porém, é gravemente comprometida por uma urgência pela ação, como se o 1º ato mais calmo fosse parte de um período de abstinência: é quase palpável o machucado que os diretores abriram de tanto se coçar querendo inserir uma sequência mais ágil aqui ou ali, o que faz com que muitas das cenas e o próprio elenco não extraiam todo o senso de busca por um novo propósito que poderia ser extraído.
Porém, é gravemente comprometida por uma urgência pela ação, como se o 1º ato mais calmo fosse parte de um período de abstinência: é quase palpável o machucado que os diretores abriram de tanto se coçar querendo inserir uma sequência mais ágil aqui ou ali, o que faz com que muitas das cenas e o próprio elenco não extraiam todo o senso de busca por um novo propósito que poderia ser extraído.
Do 2º ato em diante, é possível visualizar o início de um verdadeiro desfecho, a representação da genialidade e competência do Kevin Feige e sua equipe. Apesar do ato anterior ser escancaradamente mais autoral e com uma mise-en-scène melhor desenvolvida, a montagem e a construção narrativa das 2 horas restantes não deixam a desejar.
Dar a chance aos heróis de, quase que individualmente, reviverem um momento do MCU que desperta um intenso saudosismo revela-se uma solução agradável gregos e troianos. Ao mesmo tempo em que a história engrena naquele usual ritmo frenético e maniqueísta de cenas de ação e tensão, há lugar para sequências mais carregadas.
Infelizmente, essas são muito rígidas quanto a hierarquia crescente da carga dramática dos fatos, optando por mortes e linhas narrativas que comovem o espectador de forma muito moderada. Por outro lado, essas escolhas dos heróis explicitam a vontade dos realizadores de expor os mesmos a situações que façam com que se emocionem em uma proporção equivalente à catarse de quem tá do outro lado da tela.
Catarse essa que suspeitava não se superar quanto a sentida na sequência final de "Guerra Infinita". No entanto, o choque que é a transição do 2º para o 3º ato já mexe com o público com muita força e se mostra apenas como uma prévia do que virá pela meia hora seguinte.
Com isso, os irmãos Russo definitivamente deixam de lado seu traço mais autoral de humor herdada do "Arrested Development" e se dedicam ao máximo na ação. Eles podem não ser os melhores nisso (pessoalmente, tenho a curiosidade de ver Michael Mann no lugar deles), mas fazem um excelente trabalho, especialmente por, como dito pelo Pablo Villaça, ter a capacidade de identificar a iconicidade de alguns planos específicos e explorá-los ao máximo. Obviamente, eles tem a imensa ajuda da já clássica trilha do Alan Silvestri para enaltecer esses planos, mas é creditável a habilidade dos diretores. O resultado sempre leva a sala de cinema à histeria, uma experiência cinematográfica que até os mais antipuristas tirarão bom proveito, o mais forte sinal da grandiosidade do Marvel Cinematic Universe e seu benigno plano mirabolante a longo prazo.
Os dois tipos de emoção, a que vem da dantesca dimensionalidade do microcosmo midiático e a que vem do enredo em si, se reencontram em uma única fala que dialoga diretamente com o primeiro filme da franquia. Assim, evidencia-se o apego que Feige tem pro conceito do monomito da jornada do herói, além de dar jus máximo ao mesmo por nos dar a opotunidade de rever um dos arcos mais bem construídos da história do cinema, para o gozo máximo dos fãs da série de filmes.
O fechamento desse cânone, oportunamente, não é o do filme em si. Esse ocorre alguns minutos depois, com uma cena que expressa uma doçura rara para filmes do gênero, mas que revela uma atenção especial a todos que fizeram parte da história, enfim realizando um dos maiores desejos dos marvetes.
Ao lado de "Mad Max: Estrada da Fúria" e "Guerra Infinita", "Ultimato" é um dos únicos clássicos contemporâneos da década. Apesar de ser quase impossível abordar o filme como obra individual, ele se sai muito bem como tal, especialmente à proposta de encerramento ser surpreendente em vários modos. Dessa forma, fundindo ação, drama e ficção científica em doses cavalares mas de forma organizada, o quarto e último filme dos Vingadores se torna o corolário do entretenimento do século 21. Nota 9.
Com isso, os irmãos Russo definitivamente deixam de lado seu traço mais autoral de humor herdada do "Arrested Development" e se dedicam ao máximo na ação. Eles podem não ser os melhores nisso (pessoalmente, tenho a curiosidade de ver Michael Mann no lugar deles), mas fazem um excelente trabalho, especialmente por, como dito pelo Pablo Villaça, ter a capacidade de identificar a iconicidade de alguns planos específicos e explorá-los ao máximo. Obviamente, eles tem a imensa ajuda da já clássica trilha do Alan Silvestri para enaltecer esses planos, mas é creditável a habilidade dos diretores. O resultado sempre leva a sala de cinema à histeria, uma experiência cinematográfica que até os mais antipuristas tirarão bom proveito, o mais forte sinal da grandiosidade do Marvel Cinematic Universe e seu benigno plano mirabolante a longo prazo.
O fechamento desse cânone, oportunamente, não é o do filme em si. Esse ocorre alguns minutos depois, com uma cena que expressa uma doçura rara para filmes do gênero, mas que revela uma atenção especial a todos que fizeram parte da história, enfim realizando um dos maiores desejos dos marvetes.
Ao lado de "Mad Max: Estrada da Fúria" e "Guerra Infinita", "Ultimato" é um dos únicos clássicos contemporâneos da década. Apesar de ser quase impossível abordar o filme como obra individual, ele se sai muito bem como tal, especialmente à proposta de encerramento ser surpreendente em vários modos. Dessa forma, fundindo ação, drama e ficção científica em doses cavalares mas de forma organizada, o quarto e último filme dos Vingadores se torna o corolário do entretenimento do século 21. Nota 9.